Projeto de Alvaro Dias institui reconhecimento oficial pelo Brasil do Holodomor, o genocídio ucraniano

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O senador Alvaro Dias apresentou um projeto nesta quarta-feira, 2, que tem a finalidade de instituir em lei o reconhecimento oficial, pelo Brasil, do genocídio de ucranianos por meio da fome, o Holodomor. O projeto determina o quarto sábado de novembro como Dia de Memória do Holodomor no Brasil.

O cenário de guerra vivido atualmente pela Ucrânia tem causado comoção em todo o mundo. O líder do Podemos, Alvaro Dias, reconhece a importância da solidariedade e do respeito dos brasileiros com a Ucrânia neste momento de profunda dor e dificuldades.

“Toda a sociedade ucraniana foi sujeita a uma enorme violência, comprometendo por muitas décadas o difícil processo de construção da identidade nacional. A convicção de que com a fome e morte se tinha alcançado uma vitória definitiva sobre o campesinato foi assumida em diversas ocasiões. Calcula-se que morreram mais de três milhões de pessoas no Holodomor”, afirma Alvaro Dias na justificativa do projeto.

O Líder do Podemos explica que a comemoração anual na data proposta já é observada pelo mundo, tanto na Ucrânia quanto por comunidades de ucranianos e seus descendentes vivendo em outros países.

“Os olhos da história, a memória da consciência universal e a inteligência dos povos serão sempre a garantia da proclamação dos direitos humanos e da condenação implacável da brutalidade e da vilania. Tenho plena consciência de que para os ucranianos espalhados pelo mundo – notadamente para os 600 mil descendentes que vivem no Brasil – o presente projeto de lei é uma manifestação basilar à memória das vítimas do Holodomor”, destaca o senador Alvaro Dias.

No Brasil, os filhos da diáspora ucraniana somam 400 mil descendentes, a maioria concentrada na região sul do País, onde o clima temperado ainda é considerado quente por um povo acostumado com temperaturas de 20 graus negativos ou até menos. O Paraná concentra 90% dessa comunidade, que começou a chegar ainda no tempo dos czares russos em busca de terras gratuitas. Cinco gerações se passaram desde a vinda das primeiras famílias. Em Prudentópolis, no interior do estado, hoje é dia de luto para a maior parte das famílias: 75% da população da cidade tem sangue ucraniano. A grande maioria perdeu parentes no Holodomor. A língua falada pelos tetravôs e bisavôs ainda pode ser lembrada nas ruas, mesmo que seja pelo sotaque carregado que invade o português.

 

Porto União já criou o Dia em Memória às vítimas do Holodomor

A Lei 4.787, de 21 de dezembro de 2021, de autoria do vereador Walbert de Paula e Souza (PL), criou o Dia em Memória às vítimas do Holodomor.

O vereador convidou o presidente do Clube Ucraniano das cidades, Vilson Kotwiski, para falar sobre o assunto na câmara antes da aprovação da Lei.

 

 

“O período de Novembro é época em que a comunidade de origem ucraniana em Porto União relembra esse período terrível da história, onde o regime soviético matou aproximadamente 10 milhões de ucranianos, ou seja, um terço da população ucraniana da época. No mês de novembro aqui em Porto União a comunidade de origem ucraniana relembro esses fatos ocorridos na história de seu país. Necessita o nosso reconhecimento, visto que tomar vulto de crime contra a humanidade. Essa história do século passado acaba sendo contemporânea pois não podemos permitir que fatos semelhantes voltem a ocorrer. Porto União que tem parte significativa de sua população de origem ucraniana necessita dar apoio ao conhecimento da História de nosso povo para seguir consciência e não permitir que a humanidade ocorra nos mesmos erros do passado, não permitindo, portanto, que o mal prevaleça”, discursou na época o vereador.

 

O que foi o Holodomor

Por vezes referido como a Grande Fome, foi um período de fome na Ucrânia Soviética de 1932 a 1933 que causou a morte de milhões de ucranianos. Como parte da mais vasta fome soviética de 1932-33 que afetou as principais áreas produtoras de cereais do país, milhões de habitantes da Ucrânia, a maioria dos quais eram ucranianos, morreram de fome numa catástrofe sem precedentes na história da Ucrânia em tempo de paz

As estimativas iniciais do número de mortos por estudiosos e funcionários do governo variaram muito. De acordo com estimativas mais elevadas, até 12 milhões de ucranianos teriam perecido em resultado da fome direta e indiretamente. Uma declaração conjunta das Nações Unidas, assinada por 25 países em 2003, declarou que entre 7 e 10 milhões pereceram. Desde então, a investigação reduziu as estimativas para entre 3,3 e 7,5 milhões. Segundo as conclusões do Tribunal de Recurso de Kiev em 2010, as perdas demográficas devidas à fome ascenderam a 10 milhões, com 3,9 milhões de mortes por fome direta, e mais 6,1 milhões de défices de natalidade.

Desde 2006, o Holodomor é reconhecido pela Ucrânia e outros 15 países como um genocídio do povo ucraniano levado a cabo pelo governo soviético de Josef Stálin. No início da década de 1930, Stálin decidiu aplicar uma nova política para a URSS, através da transformação radical e acelerada das suas estruturas econômicas e sociais. Essa mudança visava aos seguintes objetivos: A coletivação da agricultura, ou seja, a apropriação pelo Estado soviético das terras, colheitas, gado e alfaias pertencentes aos camponeses. Dessa forma, o Estado passaria a estabelecer planos de coleta para a produção agropecuária, que lhe permitiam de modo regular e quase gratuito, abastecer as cidades e as forças armadas, bem como exportar para outros países. Por outro lado, pretendia-se estabelecer um efetivo controle político-administrativo sobre o campesinato, forçando-o a apoiar o regime soviético. Esse apoio seria igualmente garantido com a eliminação da camada social mais próspera e favorável à economia de mercado, os kulaks.

Os camponeses (82% da população soviética), depois de serem obrigados, através de todo o tipo de abusos e violências, a entregar os bens, são forçados a aderir às explorações agrícolas coletivas ou estatais. Estas destinavam-se a abastecer, de forma regular e quase gratuita, o Estado com produtos agrícolas e pecuários, através de planos de coleta fixados pelas autoridades centrais.

No entanto, em muitos casos, as vítimas da repressão foram simplesmente abandonadas nesses territórios distantes e inóspitos. Em consequência disso, aproximadamente 500 mil deportados, entre os quais muitas crianças, morreram devido ao frio, à fome e ao trabalho extenuante.

 

Sessão Espacial na Alep

A Assembleia Legislativa do Paraná realiza na próxima segunda-feira, 07, a partir das 14h30, uma sessão especial em solidariedade e apoio ao povo ucraniano, que sofre com os ataques militares realizados pela Rússia. A decisão da solenidade é da Mesa Executiva da Assembleia, formada pelo presidente Ademar Traiano (PSDB), pelo primeiro secretário, Luiz Claudio Romanelli (PSB), e pelo segundo secretário, Gilson de Souza (PSC) e conta com o apoio dos demais deputados. Os parlamentares vão usar o espaço para externar todo o respeito e apoio da Assembleia à Ucrânia que deve contar com a presença de lideranças ucranianas no Paraná, estado que abriga a maior colônia ucraniana do Brasil.

De acordo com o primeiro secretário da Assembleia, a sessão da próxima segunda-feira vai marcar o apoio irrestrito do Legislativo em defesa do País europeu. Além da iluminação em amarelo e azul do prédio da Assembleia que acontece desde o dia 1º, a bandeira da Ucrânia será hasteada em frente ao Poder Legislativo. Os deputados estaduais paranaenses também publicaram um manifesto de apoio incondicional ao povo ucraniano. “É inegável a contribuição das famílias de descendentes para o desenvolvimento de muitas cidades e regiões paranaenses. A Ucrânia é uma nação irmã e as violentas ações militares russas merecem total repúdio. A invasão promovida pela Rússia ataca todos os princípios de harmonia entre as nações e de convivência pacífica entre os povos. O parlamento do Paraná reforça a defesa da democracia e acredita que seus preceitos devem ser aplicados em qualquer lugar do mundo. O diálogo é a melhor forma de resolver conflitos. A soberania, a integridade territorial e o povo ucraniano têm nosso reconhecimento e respeito”, diz o texto.

Ao anunciar a sessão especial, Romanelli afirmou que a solenidade visa evidenciar o repúdio da Assembleia contra os atos de violência promovidos pela Rússia. “Esta é uma forma do Poder Legislativo demonstrar seu respeito pela sociedade ucraniana, que tem grande influência na cultura e economia do Estado do Paraná. O mundo está vendo a barbárie que está sendo cometida”, reforçou.

O líder do Governo, deputado Hussein Bakri (PSD), definiu o sentimento como de horror. “Eu sou descendente de libaneses refugiados, que vieram para o Brasil fugindo de uma guerra. Estamos na época da tecnologia, será que estamos à mercê de um inconsequente?”, indagou, ao se referir ao presidente russo.

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