Os três “T” do pontificado de Francisco – Daniel Andrés Baez Brizueña*

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Não é novidade que a preocupação do Papa Francisco sobre questões sociais e sobre criticas a estruturas injustas constituído historicamente e que afeta a própria Igreja Católica ou a Estados nacionais, tem estado presente em seus discursos.  No Encontro Mundial dos Movimentos Populares, realizado em Santa Cruz de la Sierra (Bolívia), em 09 de Julho de 2015 que é considerado por lideranças dos movimentos populares como “irretocável”, o Papa alicerça seu monus pastoral contemporânea nos três “T”. Em linhas gerais, o Bispo de Roma, realiza uma leitura da realidade de forma clara e contundente.

Para o líder da Igreja Católica, “a justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada. A propriedade, sobretudo quando afeta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo. Não basta deixar cair algumas gotas, quando os pobres agitam este copo que, por si só, nunca derrama. Os planos de assistência que acodem a certas emergências deveriam ser pensados apenas como respostas transitórias. Nunca poderão substituir a verdadeira inclusão: a inclusão que dá o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário”, afirmou.

Bergoglio lembra, que o cristianismo não é um movimento filantrópico e que o Evangelho não se realiza na teoria da teologia, pelo contrario, afirma que “A Bíblia lembra-nos que Deus escuta o clamor do seu povo e também eu quero voltar a unir a minha voz à vossa: Terra, Teto e Trabalho para todos os nossos irmãos e irmãs. Disse-o e repito: são direitos sagrados. Vale a pena, vale a pena lutar por eles. Que o clamor dos excluídos seja escutado na América Latina e em toda a terra”. Esse clamor que nesta semana em Santiago do Chile começou a ecoar em todo mundo.

Ainda, seguindo a logica social do seu pontificado, Francisco reiterou, naquela ocasião do Encontro Mundial dos Movimentos Populares, que o Evangelho da Esperança por sua própria natureza é exigente: “Queremos uma mudança nas nossas vidas, nos nossos bairros, no vilarejo, na nossa realidade mais próxima; mas uma mudança que toque também o mundo inteiro, porque hoje a interdependência global requer respostas globais para os problemas locais. A globalização da esperança, que nasce dos povos e cresce entre os pobres, deve substituir esta globalização da exclusão e da indiferença”, sentenciou.

Francisco de Roma propõe em seu pontificado o resgate de nítidos princípios sociais existentes e exigentes, muito bem estruturado na Doutrina Social da Igreja, por isso reafirma ao falar do populismo politico e dos desafios que o mundo cristão enfrenta na contemporaneidade y critica com afinco as estruturas injustas: “Não quero alongar-me na descrição dos efeitos malignos desta ditadura subtil: vós conhecei-los! Mas também não basta assinalar as causas estruturais do drama social e ambiental contemporâneo. Sofremos de um certo excesso de diagnóstico, que às vezes nos leva a um pessimismo charlatão ou a rejubilar com o negativo. Ao ver a crónica negra de cada dia, pensamos que não haja nada que se possa fazer para além de cuidar de nós mesmos e do pequeno círculo da família e dos amigos. Vós, os mais humildes, os explorados, os pobres e excluídos, podeis e fazeis muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em grande medida, nas vossas mãos, na vossa capacidade de vos organizar e promover alternativas criativas na busca diária dos “3 T” (trabalho, teto, terra), e também na vossa participação como protagonistas nos grandes processos de mudança nacionais, regionais e mundiais. Não se acanhem!”, a ditadura sutil a qual Francisco denúncia é a ditadura do sistema financeiro Neoliberal e o Neoliberalismo que exclui milhões de pessoas do mundo do trabalho e os torna cidadãos sem “direito nem dignidade”.

O Papa Argentino, não perde no horizonte das suas reflexões a realidade e os sofrimentos dos povos Latino-americanos “Sabemos, amargamente, que uma mudança de estruturas, que não seja acompanhada por uma conversão sincera das atitudes e do coração, acaba a longo ou curto prazo por burocratizar-se, corromper-se e sucumbir. Por isso gosto tanto da imagem do processo, onde a paixão por semear, por regar serenamente o que outros verãos florescer, substitui a ansiedade de ocupar todos os espaços de poder disponíveis e de ver resultados imediatos. Cada um de nós é apenas uma parte de um todo complexo e diversificado interagindo no tempo: povos que lutam por uma afirmação, por um destino, por viver com dignidade, por “viver bem”, disse.

O Papa lembra ainda, que os seres humanos e a natureza não devem estar ao serviço do dinheiro, “Digamos NÃO a uma economia de exclusão e desigualdade, onde o dinheiro reina em vez de servir. Esta economia mata. Esta economia exclui. Esta economia destrói a Mãe Terra”, afirma.

Finalmente, é importe ressaltar que para Francisco não existe liberdade, nem igualdade, nem plena Justiça social abrangente sem a devida e justa distribuição das riquezas, “A justa distribuição dos frutos da terra e do trabalho humano não é mera filantropia. É um dever moral. Para os cristãos, o encargo é ainda mais forte: é um mandamento. Trata-se de devolver aos pobres e às pessoas o que lhes pertence. O destino universal dos bens não é um adorno retórico da doutrina social da Igreja. É uma realidade anterior à propriedade privada. A propriedade, sobretudo quando afeta os recursos naturais, deve estar sempre em função das necessidades das pessoas. E estas necessidades não se limitam ao consumo. Não basta deixar cair algumas gotas, quando os pobres agitam este copo que, por si só, nunca derrama. Os planos de assistência que acodem a certas emergências deveriam ser pensados apenas como respostas transitórias. Nunca poderão substituir a verdadeira inclusão: a inclusão que dá o trabalho digno, livre, criativo, participativo e solidário”.

O grito evangélico de Francisco continua ecoando em todo o canto do mundo contemporâneo, à espera da pronta acolhida na generosidade por todos os cristãos e em extensão para todas as pessoas de boa vontade.

* Daniel Andrés Baez Brizueña é formado em Teologia, Ciência das religiões, Marketing, Letras e Filosofia.

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