Copom eleva novamente a Selic; projetamos que atinja 13,75% em maio
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu, de forma unânime, aumentar a taxa Selic em 0,50 ponto percentual, alcançando 11,25%. A decisão, amplamente antecipada pelo mercado, acelera o ritmo de elevação dos juros. O comunicado pós-reunião manteve tom semelhante ao anterior, enfatizando os riscos para as perspectivas inflacionárias e adotando uma postura firme em relação à política monetária futura.
O Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro, também divulgado nesta semana, reforça a preocupação expressa pelo Banco Central. A inflação acumulada em 12 meses subiu para 4,76%, ultrapassando o limite superior de tolerância da meta, que é de 4,50%. Para os próximos meses, a depreciação do câmbio e o aumento no preço da carne devem continuar exercendo pressão sobre os índices de preços.
Diante desse cenário mais complexo, revisamos nossa projeção para o IPCA de 2024, elevando-a de 4,6% para 4,9%, e ajustamos nossa estimativa para a taxa Selic terminal de 12,00% para 13,25%.
Também atualizamos nossas projeções para a taxa de câmbio, estimando R$ 5,70 por dólar ao final deste ano, em resposta à significativa depreciação cambial observada recentemente.
Real volátil com eleições nos EUA e expectativas sobre pacote de gastos
O real exibiu alta volatilidade durante a semana, encerrando a sexta-feira cotado a R$ 5,74. Os movimentos foram influenciados por fatores externos, como as eleições nos Estados Unidos, e internos, como a expectativa pelas medidas que integrarão o pacote de revisão de gastos, que não haviam sido anunciadas até a noite de sexta-feira.
Várias reuniões ocorreram entre ministros e o Palácio do Planalto, mas, segundo a imprensa, ainda não há consenso.
Resultado primário reflete arrecadação recorde, mas despesas preocupam
O resultado primário do governo central apresentou déficit de R$ 5,3 bilhões em setembro e de R$ 105,2 bilhões no acumulado do ano. A arrecadação tributária continua em níveis recordes, crescendo 9,7% em termos reais entre janeiro e setembro deste ano. No entanto, as despesas seguem sendo motivo de preocupação, pois crescem a uma taxa superior à inflação.
Apesar disso, consideramos alta a probabilidade de o déficit primário ficar dentro do intervalo de tolerância da meta fiscal, devido à expectativa de ingresso de recursos não recorrentes provenientes de medidas aprovadas no Congresso para compensar a perda de receita com a desoneração da folha de pagamentos. Assim, o resultado primário com as exceções à meta deve atingir um déficit de R$ 28,3 bilhões (0,3% do PIB) em 2024, valor apenas R$ 0,5 bilhão acima do limite inferior da meta (R$ 28,8 bilhões).
Cenário internacional
Trump é eleito com maioria republicana no Congresso
Donald Trump, do Partido Republicano, venceu as eleições nos Estados Unidos com amplo apoio no Congresso. Os resultados eleitorais geram incertezas sobre as perspectivas econômicas globais. A vitória de Trump, aliada à maioria republicana no Senado e na Câmara dos Deputados, tende a amplificar potenciais impactos econômicos, incluindo: maior crescimento nos EUA no curto prazo; fortalecimento do dólar; pressões inflacionárias adicionais; elevação das taxas de juros; preocupações fiscais intensificadas; e aumento das barreiras comerciais, especialmente com a China. Este último ponto pode elevar a inflação global e ter um efeito negativo sobre o crescimento e a produtividade.
Uma economia americana menos aberta impactaria diretamente países como China, Alemanha e México, com efeitos indiretos em outras nações. Para os mercados emergentes, como o Brasil, a desvalorização das moedas frente ao dólar tende a ser mais acentuada do que nos mercados desenvolvidos.
Com economia forte, Fed reduz ritmo de corte de juros
O Federal Reserve (Fed), banco central dos Estados Unidos, cortou a taxa de juros em 0,25 ponto percentual, situando-a no intervalo entre 4,50% e 4,75%. A decisão representa uma desaceleração em relação ao corte de 0,50 ponto percentual realizado em setembro. Em coletiva de imprensa, o presidente Jerome Powell destacou que o Fed adotará uma postura mais cautelosa em relação à política monetária futura, mas deve continuar reduzindo os juros no curto prazo.
Em nossa avaliação, com a inflação próxima da meta de 2,0% e os juros ainda elevados, o Fed deve continuar reduzindo as taxas gradualmente, alcançando 3,5% até o final do ano.
China anuncia novo pacote de estímulos econômicos
A China divulgou um pacote fiscal de US$ 1,4 trilhão (cerca de 10 trilhões de yuan) visando aumentar a emissão de títulos por governos locais. Esta é mais uma medida dentro de um conjunto de estímulos que o governo vem implementando para reverter a desaceleração econômica. As ações têm mostrado resultados: o PMI Composto Caixin — pesquisa que avalia o sentimento dos gerentes de compras em relação à economia — subiu para 51,9 pontos em outubro, ante 50,3 em setembro, a leitura mais alta desde junho. Valores acima de 50 pontos indicam expansão.
No futuro próximo, será crucial monitorar as medidas de restrição comercial que o governo Trump poderá adotar em relação à China e seus possíveis impactos sobre a taxa de câmbio e a produção doméstica.
Bolsa
Na semana, o Ibovespa fechou com queda de 0,2% em reais, mas registrou alta de 1,2% em dólares, alcançando 127.907 pontos.
Foi uma semana significativa para os mercados globais. A eleição de Donald Trump como presidente dos EUA e a redução da taxa de juros pelo Fed em 0,25 ponto percentual, conforme esperado, marcaram o período. Com a vitória de Trump, o dólar se fortaleceu frente às principais moedas globais, e os índices americanos fecharam em alta (S&P 500: +4,7%; Nasdaq: +5,4%), com destaque para empresas de pequeno porte e o setor financeiro.
O destaque positivo da semana foi a Gerdau (GGBR4), com alta de 12,4%, após divulgar sólidos resultados no terceiro trimestre (confira aqui o comentário). A empresa também se beneficiou da vitória de Trump, pois, (i) suas operações nos EUA significam ausência de exposição a tarifas e (ii) ela se favorece de preços mais altos do aço americano, também decorrentes do aumento de tarifas.
Entre os destaques negativos, está a Braskem (BRKM5), que caiu 7,9%, repercutindo o balanço do terceiro trimestre, que mostrou uma queima de caixa.
FONTE: https://conteudos.xpi.com.br/economia/economia-em-destaque-dolar-se-fortalece-em-resposta-a-trump/
https://conteudos.xpi.com.br/acoes/relatorios/resumo-semanal-da-bolsa-bolsas-nos-eua-sobem-com-vitoria-de-trump-enquanto-o-ibovespa-sofre-ainda-no-aguardo-do-pacote-de-cortes-de-gastos/
Mateus H. Passero
Assessor de investimentos
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