VIDA APÓS A PANDEMIA (II)

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“Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?

Uns dos temas que o papa desenvolve no livro VIDA APÓS A PANDEMIA, é o MEDO, o lugar por excelência onde encontraremos resposta, está no Silencio da Cruz. O papa inicia sua reflexão com pergunta: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?” E logo, contextualiza sua reflexão e sua mensagem: “Desde há semanas que parece o entardecer, parece cair a noite. Densas trevas cobriram as nossas praças, ruas e cidades; apoderaram-se das nossas vidas, enchendo tudo dum silêncio ensurdecedor e um vazio desolador, que paralisa tudo à sua passagem: pressente-se no ar, nota-se nos gestos, dizem-no os olhares. Revemo-nos temerosos e perdidos”.

O pontífice, fundamenta sua narrativa com a passagem dos Evangelhos de Marcos e Mateus, e afirma, que, À semelhança dos discípulos do Evangelho, fomos surpreendidos por uma tempestade inesperada e furibunda. Demo-nos conta de estar no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento. E, neste barco, estamos todos”. O Papa desenvolve suas ideias a partir de três conceitos fundamentais na vida cristã: Tempestade; Fé e o Mistério da Crus.

No primeiro conceito encontramos a TEMPESTADE: são as tempestades da vida que demostra a vulnerabilidade que carregamos como pessoa e como sociedade, Francisco enfatiza essa realidade de forma crítica, afirmando:

A tempestade desmascara a nossa vulnerabilidade e deixa a descoberto as falsas e supérfluas seguranças com que construímos os nossos programas, os nossos projetos, os nossos hábitos e prioridades. Mostra-nos como deixamos adormecido e abandonado aquilo que nutre, sustenta e dá força à nossa vida e à nossa comunidade”.

A tempestade põe a descoberto todos os propósitos de “empacotar” e esquecer o que alimentou a alma dos nossos povos; todas as tentativas de anestesiar com hábitos aparentemente “salvadores”, incapazes de fazer apelo às nossas raízes e evocar a memória dos nossos idosos, privando-nos assim da imunidade necessária para enfrentar as adversidades”.

Com a tempestade, caiu a maquilhagem dos estereótipos com que mascaramos o nosso “eu” sempre preocupado com a própria imagem; e ficou a descoberto, uma vez mais, aquela (abençoada) pertença comum a que não nos podemos subtrair: a pertença como irmãos”.

O Papa, lembra a humanidade que o desejo desenfreado de lucro e as injustiças, geram um mundo doente, em que não existe mais espaço para ouvir o grito dos oprimidos: Na nossa avidez de lucro, deixamo-nos absorver pelas coisas e transtornar pela pressa. Não nos detivemos perante os teus apelos, não despertamos face a guerras e injustiças planetárias, não ouvimos o grito dos pobres e do nosso planeta gravemente enfermo. Avançamos, destemidos, pensando que continuaríamos sempre saudáveis num mundo doente. Agora nós, sentindo-nos em mar agitado, imploramos-Te: “Acorda, Senhor!

O tempo de isolamentos social ao que o mundo foi sometido, segundo o pontífice, “Chamas-nos a aproveitar este tempo de prova como um tempo de decisão. Não é o tempo do teu juízo, mas do nosso juízo: o tempo de decidir o que conta e o que passa, de separar o que é necessário daquilo que não o é. É o tempo de reajustar a rota da vida rumo a Ti, Senhor, e aos outros. E podemos ver tantos companheiros de viagem exemplares, que, no medo, reagiram oferecendo a própria vida. É a força operante do Espírito derramada e plasmada em entregas corajosas e generosas”.

No segundo momento, o Papa apresenta o conceito de . A fé é o único caminho que nos leva a humildade, a fé deve ser a rocha firme que nos sustenta perante os desafios da vida. Para Francisco de Roma é na fé que Deus interpela a bondade humana e o convida para encontrar-se com seus mistérios:

– “O início da fé é reconhecer-se necessitado de salvação. Não somos autossuficientes, sozinhos afundamos: precisamos do Senhor como os antigos navegadores, das estrelas. Convidemos Jesus a subir para o barco da nossa vida. Confiemos-Lhe os nossos medos, para que Ele os vença. Com Ele a bordo, experimentaremos – como os discípulos – que não há naufrágio. Porque esta é a força de Deus: fazer resultar em bem tudo o que nos acontece, mesmo as coisas ruins. Ele serena as nossas tempestades, porque, com Deus, a vida não morre jamais”.

“O Senhor interpela-nos e, no meio da nossa tempestade, convida-nos a despertar e ativar a solidariedade e a esperança, capazes de dar solidez, apoio e significado a estas horas em que tudo parece naufragar”.

“O Senhor desperta, para acordar e reanimar a nossa fé pascal. Temos uma âncora: na sua cruz, fomos salvos. Temos um leme: na sua cruz, fomos resgatados. Temos uma esperança: na sua cruz, fomos curados e abraçados, para que nada e ninguém nos separe do seu amor redentor”.

No terceiro momento, encontramos o conceito do MISTERIO DA CRUZ: também, o mistério da vida se manifesta para Francisco, no mistério da cruz, sendo, assim, nesse mistério do silencio devemos encontrar sentido a as contrariedades e devemos fortalecer nosso espirito, além de manifestar novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade:

– “Da sua cruz, o Senhor desafia-nos a encontrar a vida que nos espera, a olhar para aqueles que nos reclamam, a reforçar, reconhecer e incentivar a graça que mora em nós. Não apaguemos a mecha que ainda fumega (Is 42,3), que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança”.

Abraçar a sua cruz significa encontrar a coragem de abraçar todas as contrariedades da hora atual, abandonando por um momento a nossa ânsia de omnipotência e possessão, para dar espaço à criatividade que só o Espírito é capaz de suscitar. Significa encontrar a coragem de abrir espaços onde todos possam sentir-se chamados e permitir novas formas de hospitalidade, de fraternidade e de solidariedade”.

– “Na sua cruz, fomos salvos para acolher a esperança e deixar que seja ela a fortalecer e sustentar todas as medidas e estradas que nos possam ajudar a salvaguardar-nos e a salvaguardar. Abraçar o Senhor, para abraçar a esperança. Aqui está a força da fé, que liberta do medo e dá esperança”.

A modo de conclusão é importante ressaltar que Francisco, volta a resgatar a pergunta inicial da sua reflexão, para demonstrar que o Deus que se manifesta na história humana, não é um Deus fantasma, não é um Deus sem compaixão, não é um Deus fabricado com a imaginação gananciosa de muitos líderes religiosos inescrupulosos e malandros como temos observado na contemporaneidade e especialmente neste tempo da pandemia. O Deus, que Francisco testemunha é um Deus apaixonado e carinhoso para com toda sua criação, que continuamente se preocupa com o ser humano e sempre nos questiona: “Porque sois tão medrosos? Ainda não tendes fé?”. A resposta a tal questionamento, caro leitor, devemos oferecer desde nossa experiência de Deus. A fé nunca se esgota de sentido. Ela sempre se multiplica em constante releitura dos acontecimentos. Até o próximo artigo!

* Papa Francisco, VIDA APÓS PANDEMIA, Libraria Editrice Vaticana, 2020.

* Daniel Andrés Baez Brizueña é formado em Teologia, Ciência das religiões, Marketing, Letras e Filosofia. (danan1011@hotmail.com)

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