O Nazismo possuía uma religião? Qual era afinal a religião do Nazismo? Uma reposta a esses questionamentos intenta oferecer o historiador Martin Ruehl, segundo este “Heinrich Himmler almejava a destruição do cristianismo e a criação de uma nova religião germânica, baseada nas crenças dos antigos teutônicos”. E acrescenta: “Mas, seu chefe, Adolf Hitler, se relacionava com o cristianismo de uma maneira muito mais pragmática. Para ele, as crenças religiosas eram irrelevantes, desde que não atrapalhassem a concretização de seus objetivos políticos”. Ontem e Hoje, a religião, neste caso o cristianismo, continua sendo uma camuflagem que serve para o Nazismo se enraizar nos templos sagrados.
Outra versão, não menos interessante, encontramos no livro “A religião de Hitler”, esta obra, descreve o nacional-socialismo como uma seita cujas raízes estão no esoterismo e no ocultismo, e seu máximo expoente como um líder religioso de quem seus adeptos esperavam a redenção é o führer. O autor da “Religião de Hitler” é Michael Hesemann, este, afirma, que o caráter religioso do nacional-socialismo é fundamental para entender sua lógica interna e compreender a fidelidade dos seguidores de Adolf Hitler e a virulência do antissemitismo eliminatório que culminou no Holocausto, uma religião doentia que defende a eliminação tácita do humano. Ainda, segundo Hesemann, Hitler odiava tanto as Igrejas cristãs como o judaísmo, e pensava em substituí-las por uma nova religião com sua liturgia própria e seus textos sagrados, entre eles o panfleto “Minha luta”, os escritos do agitador Alfred Rosenberg e os ensaios antissemitas do compositor Richard Wagner. Sendo assim, o papel de messias na nova religião, Hitler reservou para si mesmo. O führe é o novo messias para o Nazismo e os Nazistas de Ontem e de Hoje. Por isso, toda autonomeação messiânica é sempre uma forma de valorizar um discurso inflamado de uma “intuição politica e milagrosa”.
Nos últimos tempos, de forma estratégica, o Jair Bolsonaro em conluio com alguns líderes de igrejas evangélicas pentecostal e com líderes conservadores da Igreja católica, começou uma sutil campanha em que afirma ser “ungido” como o enviado de Deus. Veja caro leitor que não estou exagerando, demonstro com provas, em uma entrevista concedida ao jornal argentino “La nación” no dia 8 de novembro de 2019, Bolsonaro afirma que tem “uma missão de Deus”. Não é a primeira vez que Bolsonaro cita milagres ou diz que tem um dever incumbido pelo sobrenatural. Antes dessa declaração, em maio de 2019, Bolsonaro, compartilhou um vídeo de um pastor evangélico que dizia que ele era “escolhido por Deus”. “Não estou preocupado em ser bom; Eu quero alcançar meu objetivo, cumprir minha missão”, disse. Perguntado sobre qual missão seria essa, Bolsonaro disse que ela viria de Deus. “Eu tenho uma missão de Deus, vejo assim. Foi um milagre estar vivo e outro milagre é ter vencido as eleições. Deus também me ajudou muito na eleição dos meus ministros”, uma mistura de delírio é “intuição política milagreira”, uma aproximação perigosa ente fé e política.
O filosofo e teólogo Leonardo Boff, crítico do governo Bolsonaro, recrimina com contundência essa “intuição política milagrosa” e afirmou em um artigo de sua autoria publicado em 29 de Marco de 2019 com o titulo: A blasfêmia de Jair Bolsonaro: que “Deus” acima de todos?, evidenciando o perigo que está por trás das ideias populista e messiânica do bolsonarismo, segundo o teólogo: “Bolsonaro, seu clã e seguidores (nem todos) não se pautam pelo amor nem prezam a justiça. Por isso estão longe do “milieu divin” (T.de Chardin) e seu caminho não conduz a Deus. Por mais que pastores neopentecostais veem nele um enviado de Deus, não muda em nada a atitude do presidente, ao contrário agrava ainda mais a ofensa ao santo nome de Deus especialmente ao postar na internet um youtub pornográfico contra o carnaval. Que Deus é esse que o leva a tirar direitos dos pobres, a privilegiar as classes abastadas, a humilhar os idosos, a rebaixar as mulheres e a menosprezar os camponeses, sem perspectiva de uma aposentadoria ainda em vida?” questiona.
O cristianismo contemporâneo novamente está à “beira” e já inserido novamente numa instrumentalização perigosa pelos Nazistas na contemporaneidade. Com retorica simplória e sensacionalistas os líderes religiosos conservadores, tentam reescrever e associar a história do cristianismo com à história da barbárie. É tarefa de toda a Cristandade levantar a voz de protesto contra toda tendência é índole autoritária. Caro leitor, você conhece cristão católico ou evangélico que flerta com a barbárie do Nazismo?
*Daniel Andrés Baez Brizueña é formado em Teologia, Ciencia das religiões, Marketing, Letras e Filosofia.