Vida após pandemia (I)

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VIDA APÓS PANDEMIA*, é o título do livro de autoria do Papa Francisco, o prefacio está assinado pelo cardeal Michael Czerny, SJ. O livro, apresenta as reflexões do Papa Francisco neste tempo de pandemia. É importante situar o texto, para compreender sua relevância, e assim, nos ajudar a realizar uma leitura espiritual, antropológico, sociológicos, filosófico e teológico no decorrer do nosso texto.
Nos primeiros meses de 2020, o Papa Francisco, refletiu em suas homilias, com frequência, sobre a pandemia do coronavírus, à medida que o vírus se apoderou da família humana e ceifava milhares de vida na Europa, Ásia e América Latina, Francisco tornou-se uma voz de esperança para o mundo.
Segundo o Cardeal Czerny, no prefácio do livro, a coletânea tem dois objetivos. “O primeiro é o de sugerir uma direção, chaves de leitura e diretrizes para a reconstrução de um mundo melhor que possa nascer desta crise da humanidade. O segundo objetivo é, em meio a tanto sofrimento e perplexidade, semear a esperança. O Papa fundamenta claramente esta esperança na fé, porque “com Deus, a vida não morre jamais”. Os textos de Francisco, assim, “falam das necessidades e do sofrimento das pessoas em várias situações locais na maneira muito pessoal, sentida, comprometida e esperançosa do Papa”. O livro, tem por finalidade, nas palavras de Francisco, “refletir sobre o valor do humano em tempo de grande dor, medo”. Aliás, as tragédias muitas vezes querem invocar no ser humano um espirito pessimista. O Papa não admite o pessimismo em quanto pensar o humano, Czerny, lembra em seu prefácio que “ Estes oito textos mostram a abordagem calorosa e inclusiva do Papa Francisco, que não reduz as pessoas a unidades a serem contadas, medidas e geridas, mas une todos em humanidade e espírito. E depois, com não menos calor e inclusão, o Papa desafia todos – desde os mais influentes aos mais humildes – a ousar fazer o bem, e fazer melhor. Nós podemos! Temos de o fazer!”.
O texto não silencia “os silenciados” da contemporaneidade, pelo contrário, o Papa escuta e olha também para os muitos que normalmente são mantidos em silêncio e invisíveis, aqueles sem voz e sem vez no mundo contemporâneo: “A nossa civilização […] precisa de uma mudança, de um balanço, de uma regeneração. Vós sois construtores indispensáveis desta mudança que já não pode ser adiada”, e prossegue, “Nestes dias olhar para os mais pobres pode ajudar-nos a todos a tomar consciência do que realmente nos está acontecendo e da nossa verdadeira condição”.
Dirigindo-se a toda a Humanidade não “do alto” ou em abstrato, Francisco estende a mão com afeto paternal e compaixão para fazer seu o sofrimento e o sacrifício de tanta gente: “Que Senhor da vida acolha os defuntos no seu reino e conceda conforto e esperança aos que ainda sofrem, especialmente os idosos e os que estão sós. Que ele nunca retire o seu consolo e a sua ajuda àqueles que são especialmente vulneráveis, como as pessoas que trabalham em clínicas, ou vivem em casernas e prisões”. E de forma insistente, expande a lista, “médicos, enfermeiros e enfermeiras, fornecedores, limpadores, cuidadores, transportadores, forças de ordem, voluntários, sacerdotes, religiosos e religiosas”, assim como “pais, mães, avós e professores que mostram às nossas crianças, com pequenos gestos diários, como enfrentar e atravessar uma crise, ajustando suas rotinas, levantando o olhar e promovendo a oração”. Ainda, ressalta e se solidariza, “Quão difícil é ficar em casa para quem mora em uma pequena casa precária ou para quem de fato não tem teto. Quão difícil é para os migrantes, as pessoas privadas de liberdade ou para aqueles que realizam um processo de cura para dependências”. E, volta a insistir: “penso nas pessoas, especialmente mulheres, que multiplicam o pão nos refeitórios comunitários, cozinhando com duas cebolas e um pacote de arroz um delicioso guisado para centenas de crianças, penso nos doentes, penso nos idosos. […] nos camponeses e os agricultores familiares, que continuam a trabalhar para produzir alimentos saudáveis, sem destruir a natureza, sem monopolizá-los ou especular com a necessidade do povo”.
O Papa argentino, volta a alertar ao longo dos seus textos sobre o perigo constante que a humanidade enfrenta, não só o vírus da Covid-19 e sim o vírus da indiferença egoísta, “alternativa, resta apenas o egoísmo dos interesses particulares e a tentação dum regresso ao passado, com o risco de colocar a dura prova a convivência pacífica e o progresso das próximas gerações” e com isso vem o “perigo de esquecermos quem ficou para trás. O risco é que nos atinja um vírus ainda pior: o da indiferença egoísta”.
Francisco, desenvolve uma leitura otimista e alerta enfaticamente sobre o momento de nos prepararmos para uma mudança fundamental no mundo após Covid-19. Em uma nota escrita à mão a um juiz argentino, o Papa enfatiza: “É importante nos prepararmos para o depois”. E, alerta, com insistência no cuidado da mãe terra já que um egoísmo perigoso nos infecta muito mais do que a COVID-19, “Falhamos na nossa responsabilidade de guardiães e administradores da Terra. Basta olhar a realidade com sinceridade para ver que há uma grande deterioração da nossa casa comum. Poluímo-la, saqueámo-la, colocando em perigo a nossa própria vida […]. Não há futuro para nós se destruirmos o meio ambiente que nos sustenta”.
A humanidade como um todo, precisa diante da pandemia, reconhecer sua interligação na vulnerabilidade. O pontífice propõe em seus textos caminhos para aprofundar na mística cristã, insistindo na estima da espiritualidade, “A oração torna-se hoje o caminho para descobrir como se tornar discípulos e missionários, encarnando o amor incondicional em circunstâncias muito diversas para cada ser humano e cada criatura. Este caminho pode conduzir-nos a uma visão diferente do mundo, das suas contradições e das suas possibilidades, pode ensinar-nos dia após dia como converter as nossas relações, os nossos estilos de vida, as nossas expectativas e as nossas políticas para o desenvolvimento humano integral e para a plenitude da vida. Portanto, a escuta, a contemplação, a oração são parte integrante da luta contra as desigualdades e as exclusões e a favor de alternativas que sustentem a vida”.
A modo de conclusão, é importante ressaltar que Francisco de Roma, insiste, na necessidade de “refletir sobre as atividades econômicas e sobre o trabalho”. Voltar apenas ao que se fazia antes da pandemia, pode parecer a escolha mais óbvia e prática, mas por que não mudar para algo melhor? O Papa está preocupado, “com a hipocrisia de certos personagens políticos que dizem que querem enfrentar a crise […] mas enquanto falam fabricam armas”. E alerta, “certamente, precisamos de “armas” de um tipo diferente para combater as doenças e aliviar os sofrimentos, a começar por todo o equipamento necessário para clínicas e hospitais de todo o mundo”.
Nos próximos artigos, desenvolveremos de forma sintética as ideias-base encontrado no livro citado. Desde já, fica o convite, para você caro leitor, acompanhar-nos nesta caminhada de reflexão filosófica, espiritual, social, teológica, antropológica e sociológica do Papa Francisco.

  • Papa Francisco, VIDA APÓS PANDEMIA, Libraria Editrice Vaticana, 2020.

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