Para debatedores, Brasil tem cumprido meta para reduzir emissão de carbono

80 views
9 mins leitura

Especialistas reunidos na Comissão de Meio Ambiente (CMA), nesta quinta-feira (26), para debater o alcance da Política Nacional de Mudança Climática (PMNC) afirmaram que o desmatamento no Brasil teve forte redução de 2005 a 2012 e permanece mais ou menos estagnado desde então.

De acordo com Fábio Marques, representante da empresa Plantar Carbon, no Brasil as pessoas tendem a enxergar o passivo de emissões de carbono sem olhar para os ativos, que são muito bons na opinião dele. Nessa linha, o país além de estar reduzindo a emissão, está usando outras formas de energia limpas e as áreas desmatadas são recompostas.

— O desmatamento vem reduzindo, então a conta de emissão e de remoção de gás carbônico quase fecha, o que não ocorria antes de 2009 — explicou.

O engenheiro químico Ricardo Esparta, da Ecopart Assessoria, não só concorda com os dados de Marques, como vai além dizendo que queimada na Amazônia não é algo natural. Prova disso seria que há plano setorial de controle de desmatamento e de queimadas no Cerrado, enquanto na Amazônia ele é apenas de desmatamento.

— Não existe plano setorial de queimadas na Amazônia porque queimada na Amazônia não é algo natural. Não existe queimada natural na Amazônia. Ela só pega fogo se cortarem árvores e forem deixadas para secar.

Os dois avaliaram na comissão a Política Nacional de Mudança Climática (Lei 12.187, de 2009), que veio para cumprir as metas ambientais do Acordo de Paris: a redução de até 39% nas emissões de gases de efeito estufa pelo Brasil até 2020. A PNMC é composta por diversos planos focalizados regionalmente (Amazônia, Cerrado) ou por setores econômicos (agricultura, indústria, mineração, energia).

Os planos visam atender metas gradativas de redução de emissões antrópicas quantificáveis e verificáveis, considerando diversos setores, como geração e distribuição de energia elétrica, transporte público urbano, indústria, serviços de saúde e agropecuária, considerando as especificidades de cada setor.

Esparta explicou quem ao ser desenhada, em 2009, a PNMC tinha como premissa o crescimento da economia de 5% ao ano. Se esse crescimento tivesse se confirmado, o Brasil estaria emitindo mais gás carbônico e a expectativa era ter ações setoriais para reduzir em cerca de 37,5% as emissões de gás carbônico.

Mas o país não cresceu nessa proporção e as metas climáticas foram facilmente cumpridas. Ou seja, além de reduzir o desmatamento — grande responsável pela emissão de carbono no Brasil — o país passou pela desaceleração da economia, já que as crises econômicas freiam as indústrias e puxam para baixo o consumo de energia.

— A realidade, por causa dos problemas econômicos, foi inferior ao consumo previsto nos planos setoriais. Os planos se reajustam com a realidade.

Esparta, contudo, contesta o pensamento inverso: de que quanto mais cresce a economia, necessariamente aumenta a emissão de poluentes. Ele mostrou um gráfico que relaciona o PIB de 2007-2015 às emissões de carbono.

— Conseguimos reduzir as emissões em 40%, mesmo crescendo — frisou o consultor da Ecopart. A empresa executa projetos sobre a mudança do clima de desenvolvimento limpo do protocolo de Kyoto.

Sobre a PNMC, ele disse ainda que o problema foi o estabelecimento de uma meta mais do que a preocupação com a real transição para uma economia de baixo carbono e menos dependente de combustíveis fósseis.

— A energia eólica era uma das mais caras no início dos anos 2000 e hoje é uma das mais baratas, assim como a solar fotovoltaica, ou seja, isso hoje se torna mais economicamente atraente.

Plano ABC

Um dos planos setoriais é o de Mitigação e de Adaptação às Mudanças Climáticas para a Consolidação de uma Economia de Baixa Emissão de Carbono na Agricultura, conhecido como Plano ABC (Agricultura de Baixa Emissão de Carbono). Na audiência pública, ele foi avaliado pelo engenheiro florestal e coordenador do Portfólio de Pesquisa em Mudanças Climáticas da Embrapa de Campinas, Giampaolo Queiroz Pellegrino.

— Na avaliação do cumprimento do Plano ABC, estamos relativamente com a meta cumprida, embora algumas vertentes estejam aquém ou além do proposto. O que interessa é saber para onde vamos a partir disso.

O pesquisador defendeu que a lógica das políticas de baixa emissão de carbono precisa permear todas as políticas ligadas à agricultura. Também explicou que não se convence o setor agrícola de fazer uma produção de baixo carbono por si só.

— Mostramos que o melhor modelo é aquele que reduz déficit hídrico enquanto aumenta a produtividade, a eficiência técnica e econômica; aquele que diversifica a produção e usa insumos alternativos. E por trás disso, estamos levando a lógica do modelo de redução de carbono.

Pellegrino avaliou que é preciso melhorar a sustentabilidade, o fator econômico e ter como monitorar e mensurar essas duas vertentes no Plano ABC.

Na audiência, o representante da Plantar Carbon concordou que trazer esse modelo de baixa emissão aliado ao fator financeiro é um grande acerto. Fábio Marques comentou que no ano passado o mercado de carbono movimentou algo em torno de US$ 82 bilhões e sua grande vantagem é ter a precificação como uma variável global.

— Não importa onde se emite o carbono. O efeito para o clima é o mesmo. Isso é diferente de alguns outros temas, como água e biodiversidade, que podem ter um impacto mais local.

Ele destacou ser possível integrar o mercado de carbono com outros instrumentos financeiros. Como exemplo, ele citou a securitização de recebíveis lastreada em carbono.

— O banco que nos comprou os créditos, aceitou que se fizesse um empréstimo com a garantia do crédito de carbono no negócio, pagos pelo Banco Mundial. Isso reduziu o spread bancário. É um mecanismo inovador que permitiu a antecipação dos recursos e começou a ser feito há mais de dez anos.

O debate foi solicitado pelos senadores Fabiano Contarato (Rede-ES), Randolfe Rodrigues (Rede-AP), Carlos Viana (PSD-MG) e Eliziane Gama (Cidadania-MA); e faz parte do plano de trabalho da CMA para monitorar, ao longo do ano, a execução da política sobre mudança climática.


Source: Senado

Deixe um comentário

Your email address will not be published.

Publicação anterior

Especialistas defendem uso de tecnologia em favor da qualidade de vida dos idosos

Próxima publicação

STJ comemora programa de inclusão de surdos e destaca parceria com o Senado