Cerca de 200 mililitros podem alimentar até dez recém-nascidos. Para incentivar um simples ato que pode salvar vidas, o Governo Federal, por meio do Ministério da Saúde, lançou na terça-feira, 17, a Campanha Nacional de Doação de Leite Humano do ano de 2022. Com o tema “Doe leite materno e receba a gratidão de uma vida”, o objetivo é incentivar o aumento de mães voluntárias em todo País.
Dados do Ministério da Saúde mostram que houve aumento de 7% no volume de doações em 2021, em comparação ao ano de 2020. No entanto, o quantitativo representa apenas 55% da real necessidade por leite humano no Brasil. A estimativa mostra que cerca de 340 mil bebês brasileiros prematuros ou de baixo peso nascem no País por ano, o que corresponde a 12% do total de nascidos vivos.
O secretário executivo do Ministério da Saúde, Daniel Pereira, ressaltou os objetivos da campanha “Nos últimos 20 anos, foram mais de 3,2 milhões de litros de leito coletados. A campanha busca sensibilizar todas as mães doadoras do Brasil a realizar esse ato de bondade. A doação é um ato individual, mas sem dúvida nenhuma, traz um benefício para todos”, destacou.
De janeiro a dezembro de 2021, foram distribuídos 168 mil litros de leite para 237 mil recém-nascidos. A meta para 2022 é ampliar em 5% a oferta de leite materno a recém-nascidos internados nas unidades neonatais do País.
Dados a Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) apontam que cerca de 6 milhões de vidas são salvas por ano, devido ao aumento das taxas de amamentação até o sexto mês de vida. Toda mulher que amamenta é uma possível doadora de leite materno, basta estar saudável e não tomar nenhum medicamento que interfira na amamentação.
O Brasil tem a maior e a mais complexa rede de bancos de leite humano no mundo, referência internacional. São 225 bancos de leite presentes em todos os estados brasileiros e 217 postos de coleta. A rede brasileira é uma iniciativa do Ministério da Saúde, por meio do Instituto Fernandes Figueira (IFF/Fiocruz), e atualmente integra a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da Criança e Aleitamento Materno (PNAISC).
Socorro Gross, representante da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) da OMS no Brasil, compartilhou sua experiência como mãe doadora e receptora de leite materno.
“Eu fui mãe doadora. Tenho dois filhos e quando nasceu meu caçula, também fui mãe receptora. Ele nasceu com menos de 1 kg e essa oportunidade fez a diferença. Foi uma mãe que eu não conhecia que fez a diferença na minha vida. Isso é solidariedade. Em cada gota que doamos é uma vida que podemos salvar, assim como foi com o meu filho”, contou.
A doação de leite humano também representa uma importante economia de recursos com a diminuição da necessidade de compra de fórmulas infantis para recém-nascidos prematuros nas maternidades do Sistema Único de Saúde (SUS).
A veiculação da campanha de 2022 ocorreu a partir de ontem, 19, Dia Mundial da Doação de Leite Humano, até o dia 16 de junho, em rádio, redes sociais, pontos de grande circulação de pessoas, entre outros.
O BLH é um serviço especializado em oferecer ações de apoio, proteção e promoção do aleitamento materno, dedicando-se à assistência das mães e dos bebês durante o processo de amamentação. Além disso, executa atividades de coleta, seleção, classificação, processamento, controle de qualidade e distribuição do leite materno doado voluntariamente por mães.
Os bebês prematuros, considerando a sua condição de saúde e de internação, têm dificuldades de sugar o leite materno. Por isso, o leite humano do banco de leite é a melhor opção para alimentação de crianças internadas que, por algum motivo, não podem ser amamentadas diretamente no seio materno. A doação de leite materno pode ser feita por mães saudáveis que estejam amamentando seus filhos.
“O leite materno protege contra infecções importantes e evita que crianças prematuras tenham complicações, e traz diversos benefícios para os bebês prematuros e de uma forma geral. Mas, em especial para os bebês de risco que estão mais propensos ao óbito, por conta da fragilidade em que se encontram”, disse a coordenadora do Centro de Aleitamento e Banco de Leite da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), professora Kelly Pereira Coca.
A bióloga e doula [profissional que acompanha a gestante durante a gravidez, parto e período pós-parto], Luana da Silva Freitas, de Ouro Preto (MG), conta a experiência de doar. “Doar leite materno é uma via de mão dupla porque favorece a pessoa que está doando, no sentido de esvaziamento dos seios, já que evita algumas alguns problemas como a mastite, facilitando assim a amamentação do bebê, e ajuda bebês prematuros que não podem, por inúmeras razões, receber o leite materno da sua mãe”.
Quanto à mulher que amamenta, a Saúde também aponta resultados positivos, como o aumento do vínculo com o bebê, redução do risco de câncer de mama e de sangramento no pós-parto e ajuda na perda de peso pós-gestacional.
Atualmente, o Paraná conta com 14 Bancos de Leite Humano e 17 Postos de Coleta. Em 2021, as unidades do Estado coletaram aproximadamente 23.704 litros de leite, beneficiando mais de 14.500 crianças.
Os Bancos de Leite Humano são serviços especializados criados para qualificar a assistência neonatal e contribuir para a redução da mortalidade infantil. O processo de coleta e processamento do leite humano se dá com rigoroso controle de qualidade, seguido da distribuição para bebês prematuros e de baixo peso de acordo com as necessidades de cada recém-nascido. Além disso, oferecem também atendimento de orientação, manejo e apoio à amamentação.
“A doação de leite humano é essencial para atender recém-nascidos prematuros, em especial os de baixo peso, com patologias ou que não podem ser alimentados diretamente pelas próprias mães. É válido destacar que toda mulher lactante saudável é uma doadora potencial de leite humano” afirmou o secretário de Estado da Saúde, César Neves.
Estoque baixo
Atualmente, o Banco de Leite Humano da Universidade Federal de São Paulo está com o estoque abaixo do ideal para suprir a necessidade de crianças internadas na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) Neonatal e demais unidades pediátricas do Hospital São Paulo, o hospital universitário da Unifesp.
“A quantidade de leite atual em estoque é de 40 litros. Costumamos ter pelo menos 100 litros, o que é ainda uma quantidade razoável, não é uma quantidade ideal porque a gente atende os bebês diariamente na UTI neonatal, especialmente os prematuros que nasceram com algum problema de saúde que não podem ser amamentados pelas mães”, explicou a coordenadora do Banco de Leite da Unifesp.
Para ser uma doadora, basta estar saudável e apresentar produção láctea maior do que as necessidades do próprio bebê. Para isso, basta entrar em contato com o banco de leite humano mais próximo do domicílio para fazer a doação.
“A partir do momento que a mulher se interessa pela doação, a gente faz o rastreamento, avaliação dos exames, da saúde, a identificação se faz algum uso de medicação e analisa se tem alguma restrição. Não havendo restrição, ela recebe todas as informações quanto ao armazenamento e extração do leite. Ela não precisa ir até o banco extrair o leite para doar. Ela entra em contato conosco e vamos direcioná-la, porque a doação também é regionalizada, temos bancos de leite distribuídos por todo o Brasil”, disse a professora Kelly.
Para saber onde doar em seu estado, acesse o site da Rede Global de Bancos de Leite Humano.