Após 84 anos de trabalhos, Clube de Mães da APMI tem atividades encerradas

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O fim do Clube ocorre no mês da mulher

Após uma pausa nas atividades em 2020 devido ao isolamento social, em 2021, o Clube de Mães da APMI decidiu encerrar oficialmente todas as atividades. A decisão foi tomada pois a maioria das voluntárias do Clube eram idosas, pertencendo ao principal grupo de risco do coronavírus.

O Clube de Mães da APMI teve início há 84 anos, em 1936. Inicialmente, todas as integrantes do grupo eram esposas de médicas. Desde o início das atividades, o propósito foi a promoção do bem-estar das mães e de seus filhos, através de enxovais para mães carentes, orientação para gestantes, entre diversas outras atividades.

Os encontros do Clube De Mães ocorriam sempre nas segundas-feiras. Durante o período da tarde, a APMI cedia um espaço e doava o café da tarde para que as senhoras organizassem as ações beneficentes que seriam desenvolvidas.

Suspensão das atividades

Após todos os anos servindo a comunidade, as atividades promovidas pelo Clube foram suspensas devido à pandemia do covid-19, em 2020. Sem previsão de retorno, os meses se passaram, e o risco de contágio se manteve grande, mesmo passado mais de um ano. Devido a esse cenário, e após a Presidente do Clube decidir se afastar, foram encerradas oficialmente as atividades do Clube de Mães, que contava com mais de 20 senhoras participando das atividades regularmente. A decisão foi tomada pela ex-presidente após os vários meses de paralisação das atividades, e ocorreu pois ela sentiu que seu dever “estava cumprido”.

Entrevista com ex-presidente do clube

Para entender a história e importância do Clube de Mães, conversamos com Maria Marcante, que já foi presidente da instituição. Ela dedicou 42 anos de sua vida ao trabalho voluntário, e se tornou presidente do Clube em 1997, permanecendo na posição até o encerramento das atividades da instituição, neste ano. Segundo ela, o Clube de Mães teve seu início em conjunto com a APMI. “Havia uma casa de madeira, aonde ficava o hospital, ali onde foi construído o hospital novo. Um grupo de senhoras, esposas de médicos, fundaram o Clube de Mães, onde elas se reuniam para fazer roupas para as crianças carentes que nasciam na maternidade. Começou assim, para vestir as criancinhas que eram muito pobres”, contou a ex-presidente.

Sobre sua jornada como voluntária, Maria contou que nunca havia trabalhado com voluntariado, mas foi convidada por uma amiga para participar de uma reunião do Clube de Mães. Lá, ela aperfeiçoou suas habilidades de costura e confecção de roupas, e ensinou inúmeras outras colegas a tricotarem. “As filhas das voluntárias do Clube aprenderam a tricotar comigo. Hoje são enfermeiras, advogadas”, relatou.

Maria também relatou sobre o crescimento do hospital “Com o tempo, o Clube foi se adaptando, e o hospital foi crescendo. Nós temos uma maternidade de primeiro mundo ali, uma UTI neonatal, uma UTI para adultos, é um hospital referência no Paraná. Ali dentro, nós nos sentíamos em casa. Lá, o cuidado com as pessoas é de primeira grandeza”, afirmou.

Muito mais que enxovais

Além dos enxovais, o Clube se dedicava a diversas atividades para ajudar a população carente. “Certa vez, o abrigo Frei Manoel estava precisando de muitos materiais. Então, fizemos durante o ano uma arrecadação em dinheiro, e no final do ano compramos produtos de higiene, limpeza, baldes, vassouras, alimentos. Conseguimos uma cadeira de banho e uma cadeira de rodas. Levamos no asilo tudo isso, foi maravilhoso”, relatou Maria. No ano seguinte, o Clube repetiu a mesma ação com o abrigo Santa Clara.

Importância do Clube

Maria afirmou que a importância do Clube de Mães para as famílias carentes que passaram pela APMI foi enorme. “Eu acho que foi muito importante. A pessoa muitas vezes não tem nada, e aquele kit enxoval com o qual ela sai do hospital, tem tudo. Tem cobertor, tem pijaminha, tem meias e sapatos, toquinha e casaquinho, um enxoval completo. As crianças não saíam peladas do hospital. “Eu acho que fizemos o que pudemos. Mais que isso, não poderíamos fazer”, afirmou a ex-presidente.

“Tem pessoas que não tem condições de comprar nem um novelo de mãe. Lá, eu me sacrifiquei para termos material para todo mundo trabalhar. Eu batia perna, eu andava bastante. Tem que ter a cara e a coragem para pedir doações. Eu tenho coragem, pois estou fazendo caridade. Não é para mim, estou fazendo para quem precisa, porque eu graças a Deus, não preciso. Foi muito gratificante para mim”, disse Maria. “O dever foi cumprido. Eu acho que eu cumpri essa missão aqui na Terra”, completou a ex-presidente.

O encerramento

Sobre o encerramento do Clube e seu afastamento das atividades voluntárias, Maria afirmou que sentiu muita falta no começo, “Estava acostumada, e daí não tinha mais. Mas eu acho que meu dever foi cumprido. Muita gente ficou boba quando eu parei, porque acharam que eu não iria parar. Eu tomei uma decisão de não participar mais [do Clube], porque eu quero arrumar um pouquinho de tempo para mim, para meu marido, para minhas amigas”, disse. Maria também contou que queria que alguém assumisse o cargo de presidência do clube, mas não foi possível encontrar uma sucessora, então as atividades foram encerradas. Todavia, ela ainda continua ajudando famílias carentes em seu tempo livre, tricotando roupas e doando-as para quem necessita.

O legado do Clube

Sobre como o Clube de Mães será lembrado no Vale do Iguaçu, Maria afirmou que será com “Muita saudade. Será lembrado com muita saudade mesmo. As pessoas, inclusive as voluntárias, gostavam muito de lá. O que vai ficar é a saudade. Em primeiro lugar, vai ser isso. O que fizemos foi uma coisa muito maravilhosa, eu achei que nunca ia fazer isso na minha vida. A partir do momento que comecei a trabalhar voluntária, eu gostei tanto, que você não faz ideia. Agora que acabou, eu acho que meu dever está cumprido, cumpri a minha meta”, concluiu.

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