Entretenimento em tempos de pandemia

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A pandemia do novo coronavírus não só obrigou a sociedade a reestruturar a forma como os cidadãos trabalham, mas também exigiu uma engenhosidade para manter as atividades de lazer, tão importantes em tempos de isolamento, que causam tanto estresse e ansiedade na população. Para entender como continuar se divertindo durante a pandemia, sem arriscar a própria saúde ou a de outros, conversamos com algumas pessoas do ramo do entretenimento e lazer das cidades gêmeas.

            Conversamos com Fábio Ribas, da tabacaria Prime, para entender as dificuldades enfrentadas pelo estabelecimento cujo modelo de negócios foi extremamente afetado pelas normas de distanciamento. Para Ribas, nesse momento, a melhor forma de se divertir sem arriscar a segurança nesse momento são lives, “Por enquanto, só [podemos nos divertir] com as lives em casa mesmo, não tem como sair. Até porque qualquer coisa é considerada aglomeração, se juntar 5 pessoas, o pessoal já diz que é aglomeração, então não tem como fazer outras coisas”, disse. Sobre as medidas de segurança, a principal foi o fechamento do lounge, “Fechamos o lounge, e ainda está fechado. Álcool em gel para os funcionários e nas portas, cedemos todas as máscaras, todos os equipamentos de proteção. Quando estorou a pandemia fornecemos luvas”. 

Para Ribas quem foi mais afetado pelo fechamento foram os funcionários, “Quem mais sentiu foram os funcionários, mesmo tendo sido pagos normalmente. Teve muito impacto também na vida dos clientes, porque trabalhamos mais com pessoas solteiras, pessoas que precisam de nós para se divertir”, relatou. Para ele, o fechamento de seu estabelecimento promoveu um efeito negativo na vida de seus clientes regulares, “Mais a questão da saúde mental (é afetada negativamente), agora estamos vendo esses casos de depressão que acabam em suicídio. Com os assaltos que estão ocorrendo, o pessoal não está tendo dinheiro. E os assaltos acontecem por causa disso, o pessoal não consegue trabalhar e se divertir, a pessoa se obriga a fazer esse tipo de coisa”. Todavia, ele está confiante de que logo os negócios voltarão ao normal, “Eu acho que vai voltar ao normal em breve, já deu o que tinha que dar. Não sei dizer o tempo certo, mas até o final do ano volta ao normal”, contou.

            Para Donevan Rayzel, produtor da área cinematográfica, apesar do aumento no número de lives, a maioria delas está sendo realizada com câmera fixa, que dispensa a necessidade de cinegrafista. Todavia, ocorre um aumento na demanda dos profissionais para as transmissões mais elaboradas, o que também acarretou num maior número de pessoas se profissionalizando. Rayzel explicou que o processo de produção de uma live consiste em “Procurar transmitir a necessidade de um evento até o cliente ou telespectador. No caso de músicos, serve para promover a marca. Precisamos sempre ser mais profissionais quanto possível, desde a imagem ao áudio, que é muito importante também”, contou. Apesar do aumento na realização de lives por empresas, Rayzel acredita que a tendência é a procura diminuir com o fim da pandemia “mas terá um pouco mais do que tinha antes da pandemia”, afirmou.

            Geovani Zarpelon, professor do curso de psicologia na Uniguaçu, afirma a importância do entretenimento e lazer, que segundo ele, ajudam o ser humano a obter uma vida mais saudável, tranquila e feliz. “Poder desfrutar de momentos de distração e diversão faz bem à saúde mental e à vida social como um todo. Não é à toa que o lazer está presente na Constituição Brasileira como um direito fundamental de todo cidadão, ao lado de outros direitos importantes. Portanto, tão importante quanto trabalhar, estudar e se alimentar com qualidade, é poder desfrutar de momentos de lazer. Em tempos de pandemia, cresce a importância do lazer e entretenimento. Neste momento, mais do que nunca, precisamos criar, expandir e valorizar momentos de lazer para melhor atravessarmos esse período tão desafiador. Hoje em dia está muito claro, ao menos no campo da Psicologia e da Educação, que o lazer é um grande promotor de bem estar”, disse.

            Em meio a tantas notícias preocupantes, é natural que a saúde mental seja prejudicada, por isso, Zarpelon sugeriu evitar ler notícias negativas, “Uma das formas de proteger a saúde mental é evitar ler notícias negativas. Nota-se que notícias sobre mortes, acidentes, catástrofes, etc, predominam em muitos meios de comunicação. Em tempos difíceis como esse de pandemia, muitos meios de comunicação exploram as notícias ruins. Evitemos, portanto, alimentar nosso psiquismo com tantas informações negativas. Sim, tudo o que vemos e ouvimos nutre nosso psiquismo, da mesma forma que o alimento físico nutre nosso corpo. Tudo isso (programas, notícias e assuntos de redes sociais e grupos) nutre nosso psiquismo, mesmo que seja uma leitura rápida, uma ‘passada de olho’, pois em algum nível nós absorvemos esses assuntos e conteúdos”, contou à redação.

Ele ainda advertiu sobre os perigos da quarentena para a saúde mental e recomendou que mantenha-se o contato com os entes queridos de forma virtual, “é sabido que o isolamento é um fator de risco para saúde mental. Por isso devemos manter contato constante com nossa rede de amigos e familiares, mesmo que pela internet. Enfim, é possível realizar encontros remotos para manter e até fortalecer os vínculos e laços afetivos, estes que são tão importantes para proteger nossa saúde mental. No entanto, também é preciso ficar atento para não fazer uso abusivo de celulares e computadores, pois isso também pode gerar problemas. Por fim, se a pessoa sente que a situação de isolamento está afetando demais, é recomendado buscar ajuda profissional de um psicólogo ou mesmo de um médico ou outras formas de terapia, e não esperar a situação se agravar”, afirmou Zarpelon.

            Na situação de isolamento que vivemos, o tempo passado dentro de casa em convívio familiar tende a se estender. Sobre as dificuldades de se adaptar ao tempo extra que precisamos passar com a família e os conflitos que podem surgir dessa vivência, Zarpelon nos disse que, “Esse convívio intensivo com familiares ou com as pessoas que se divide a moradia pode fazer com que as diferenças individuais fiquem mais nítidas, mais visíveis, e problemas podem surgir. Aí que surge o desafio de saber lidar e respeitar as diferenças e necessidades individuais. Algumas pessoas precisam ficar sozinhas por um tempo, isso precisa ser respeitado, talvez a pessoa que mora contigo precise ficar umas horas sozinha no quarto, ou talvez essa seja a tua necessidade. Mas nem todas as pessoas conseguem perceber as necessidades do outro. É hora de negociar, de conversar, de explicar a sua necessidade, de se fazer ouvir e ser respeitado, sem impor, ouvir ou outros e também respeitá-los. É um processo, um exercício de convivência que se vai aprimorando. Podemos fazer disso uma oportunidade para exercitarmos a flexibilização e a tolerância para com as necessidades daqueles que convivem conosco, abrindo nossos olhos e corações para as necessidades individuais de cada membro da família”, disse. Ele ainda completou, trazendo a atenção para a violência doméstica, que tem aumentado na pandemia. “O número para denúncia é 180, e qualquer pessoa pode realiza-la, não sendo necessariamente a vítima. É imprescindível que todos que tenham informações sobre situações de violência doméstica realizem a denúncia, que pode salvar vidas”.


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