Empresa cria programa de Trainee para negros e é acusada de racismo por deputado

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A empresa Magazine Luiza anunciou em suas redes sociais que estava criando o primeiro Programa de Trainee do Brasil 100% voltado para negros. Segundo a empresa é um programa de 12 meses de vivencia de experiências de aprendizagem, competências técnicas, comportamentais e uma visão de todo o negócio. A empresa garante que o interessado durante seis meses ficará em rodízio entre as áreas – para conhecer as áreas e entender de que forma seu propósito se conecta a empresa. “Além disso, durante todo o programa você irá contar com o acompanhamento e apoio dos nossos mentores para te auxiliar a atingir os melhores resultados”, diz o anúncio.

Para participar do curso precisa alguns requisitos como formação entre Dezembro/2017 e Dezembro/2020 em qualquer curso de Bacharelado ou Licenciatura; disponibilidade para residir na cidade de São Paulo; disponibilidade para viagens constantes; ser negro (auto declarar preto ou pardo) e ter um alinhamento com a empresa.

Ao saber desse curso, o deputado federal pelo Rio de Janeiro Carlos Jordy (PSL-RJ) colocou em suas redes sociais que entraria com um processo contra a empresa no Ministério Público por racismo. “Estou representando ao Ministério Público a loja Magazine Luiza para que seja apurado crime de racismo no caso do programa de Trainee só para negros. A lei 7.716/89 tipifica a conduta daquele que nega ou obsta emprego por motivo de raça”, escreveu o deputado em seu twitter.

A empresa se manifestou respondendo: “Estamos absolutamente tranquilos quanto a legalidade do nosso Programa de Trainees 2021. Inclusive, ações afirmativas e de inclusão no mercado profissional, de pessoas discriminadas há gerações, fazem parte de uma nota técnica de 2018 do Ministério Público do Trabalho”, respondeu a empresa. A iniciativa da Magazine Luiza é a mesma que a empresa química e farmacêutica alemã, Bayer, está realizando com a sua subsidiaria no Brasil.

“Sendo uma das marcas mais conhecidas do mundo, encontramos a oportunidade de protagonizar mudanças importantes na sociedade em que estamos inseridos. Acreditamos no papel que a Inclusão e Diversidade tem de impulsionar a transformação. Por isso há mais de 5 anos nossa área de Inclusão & Diversidade vem fazendo parte da nossa estratégia de negócio e, a cada ano que passa, temos amadurecido e fortalecido nosso posicionamento”, diz o anúncio da Bayer. Apesar de ser mais antiga a iniciativa da empresa alemã, o deputado federal não se pronunciou sobre o curso de Trainee da farmacêutica.

Para o professor Daniel Andrés Baez Brizueña formado Marketing e Filosofia, a estratégia do ‘Magazine Luiza” é o fiel reflexo de como o capitalismo se reinventa em tempo de crise. “O argumento de que era necessário corrigir um “desequilíbrio”, no fundo demonstra como o marketing e a publicidade busca constantemente aumentar e potencializar a ação de cunho “humanitário” de uma organização. Acredito que não seja obra do acaso, justamente neste tempo de pandemia, uma grande empresa do varejo incorporar em sua estrutura a pauta “racial”. Com essa ação a organização ganha espaço nas mídias e nos debates no campo organizacional”, comenta.

Para ele as empresas estão cada vez mais atentas na atualidade a oportunidade que possam marcar diferença é acrescentar lucros e dividendos por meio da publicidade de cunho empático e de sensibilização perante os conflitos raciais globais na atualidade. “É oportuno ressaltar que essa ação ou movimento publicitário, agregou um valor de mercado e mais lucro para os acionistas. Como disse no início o capitalismo nunca cochila e menos dorme na toca da inocência. Tudo visa o lucro. Ainda que seja a custa das causas raciais. Entre o certo e o ético, o espaço da razoabilidade demarca uma linha tênue. As grandes organizações estão sempre atentas para aproveitar as oportunidades. Desta vez com um discurso de pauta racial. A próxima ainda não sabemos qual será a pauta da vez”, completa.

O que é racismo?
Racismo é a denominação da discriminação e do preconceito (direta ou indiretamente) contra indivíduos ou grupos por causa de sua etnia ou cor. É importante ressaltar que o preconceito é uma forma de conceito ou juízo formulado sem qualquer conhecimento prévio do assunto tratado, enquanto a discriminação é o ato de separar, excluir ou diferenciar pessoas ou objetos.

 Caso de racismo recente contra Neymar

O atacante Neymar, do Paris Saint-Germain, disse que foi chamado de “macaco filho da p…” pelo zagueiro espanhol Álvaro González, do Olympique de Marselha. Segundo o brasileiro, a fala racista teria sido proferida durante o clássico entre as equipes pela segunda rodada do Campeonato Francês, no domingo (13).

Aos 37 minutos primeiro tempo, Neymar se dirigiu ao quarto árbitro reclamando de González, aos gritos de “Racismo, não”. O clima ficou pior em meio a uma confusão generalizada, entre atletas de ambos os times, nos acréscimos da etapa final. Em nova discussão, o brasileiro deu um tapa na nuca do espanhol, que foi identificado pelo árbitro de vídeo (VAR) e levou à expulsão do atacante. Mais quatro jogadores levaram o vermelho na discussão: o lateral Laywin Kurzawa e o volante Leandro Paredes, do PSG, e o lateral Jordan Amavi e o atacante Dario Benedetto, do Olympique.

“Único arrependimento que tenho é por não ter dado na cara desse babaca”, escreveu Neymar, no Twitter, após a partida. “(O)VAR pegar a minha ‘agressão’ é mole. Agora eu quero ver pegar a imagem do racista me chamando de ‘mono hijo de p… [macaco, em espanhol]. Isso eu quero ver! E aí? Carretilha você me pune. (Por) Cascudo, sou expulso. E eles? E aí?”, completou o brasileiro, em referência a um cartão amarelo que levou em fevereiro, após reclamar de ser repreendido por tentar uma jogada de efeito. O árbitro daquele jogo foi o mesmo de domingo: Jérôme Brisard.

González se defendeu, também usando o Twitter, em postagem reunindo companheiros do Olympique, entre eles, atletas negros. “Não há lugar para racismo. [Tenho uma] Carreira limpa e com muitos colegas e amigos no dia a dia. Às vezes, você tem que aprender a perder e assumir isso em campo. Incríveis três pontos hoje”, escreveu o espanhol, citando a vitória do time de Marselha por 1 a 0 no clássico.

Neymar, porém, revoltou-se com a manifestação do zagueiro e o rebateu na rede social. “Você não é homem de assumir teu erro, perder faz parte do esporte. Agora insultar e trazer o racismo pra nossas vidas não. Eu não estou de acordo. Eu não te respeito. Você não tem caráter. Assume o que tu fala, mermão. Seja homem, rapá! Racista!”, respondeu o atacante.

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