O domingo de Páscoa da publicitária Anna Carolina Venturini, de 33 anos, não teve muito a ser comemorado este ano, após a chuva e a ventania de 70 quilômetros por hora (km/h) da tarde de ontem (21) ter derrubado uma árvore de mais de 25 metros (m) sobre o teto da casa que há cinco gerações é o lar de sua família, em Brasília. De acordo com o Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, foram registradas 19 ocorrências emergenciais desse tipo na Asa Norte, o bairro mais atingido pela tempestade.
Se por um lado há tristeza pela situação da casa – que já foi de sua bisavó, onde, além de Anna Carolina, moram a mãe, uma tia e seu filho – por outro, há alívio pelo fato de a tia não estar no local quando a árvore caiu. “Se ela estivesse aqui, certamente teria se machucado muito, porque a árvore caiu sobre o seu quarto”, disse à Agência Brasil a publicitária.
O susto foi muito grande no momento em que a árvore caiu. “Eu estava no outro lado da casa. Tinha acabado de chegar de uma viagem e estava indo deitar, quando ouvi o barulho. Olhei pela janela e vi a parte acima da telha, detonada, com água por todo lado. O que mais dói não é a perda material, porque isso a gente acaba resolvendo. O que dói é ver isso acontecer com algo que representa a história de minha família”, acrescentou.
Diversas árvores estavam derrubadas nas proximidades da casa de Anna Carolina. Algumas casas foram alagadas. Segundo ela, a casa de seu vizinho chegou a ter um princípio de incêndio em meio à tempestade.
Chuva
A chuva não prejudicou apenas casas. “Moro no terceiro andar de um prédio. Ele ficou todo molhado. Até o piano de meu filho foi prejudicado, mesmo com meu esposo se esforçando para segurar a janela, que era empurrada pelo vento. Nunca vi nada igual por aqui”, disse a dona de casa Odete da Cruz, de 42 anos.
Uma outra vizinha, que não quis se identificar, disse que há muito tempo os moradores vêm alertando o governo do Distrito Federal sobre a necessidade de poda de diversas árvores da região. “Quando eles vêm, fazem apenas podas superficiais”, reclamou a moradora.
Contatada pela Agência Brasil, a administradora do Plano Piloto, Ilka Teodoro, disse que o governo do Distrito Federal carece de equipes para fazer as podas. “A Novacap [Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil] conta apenas com 10% do que seria o efetivo ideal para atuar. Isso porque o Tribunal de Contas do DF vetou uma licitação que foi feita pelo governo anterior, com o intuito de repor essas equipes”, disse a administradora.
Segundo ela, em curto prazo as medidas adotadas serão voltadas ao reparo de estragos. Depois, investir na desobstrução de calçadas e fazer as podas. em médio prazo, será cuidar das infraestruturas necessárias para drenagem e captação de água fluvial, bem como de obras visando desimpermeabilização do solo – o que facilitará a absorção da água.
Árvores
De acordo com o capitão Souza Mendes, do Corpo de Bombeiros, a maioria das árvores que tombaram com os ventos de cerca de 70 km/h é de espécies não nativas. “Dá para ver que são árvores de grande porte mas com raízes rasas”, disse o bombeiro.
“Recebemos 19 ocorrências emergenciais, de árvores que tombaram sobre casas ou carros. Também foram registradas 12 ocorrências de alagamentos, principalmente em tesourinhas, garagens e na Universidade de Brasília (UnB).
UnB
A Administração da Universidade de Brasília informou que especialistas da área de engenharia e técnicos da prefeitura do campus já percorreram os dois locais mais atingidos pelas chuvas de ontem: o prédio do Instituto Central de Ciências (ICC, mais conhecido como Minhocão) e a Faculdade de Tecnologia.
A avaliação inicial não identificou, até o momento, danos às estruturas. Apesar de os bueiros do campus estarem limpos e em bom funcionamento, segundo a própria UnB. “A força da enxurrada, vinda da Asa Norte, ocasionou a sobrecarga do sistema de drenagem”, informou, por meio de nota, a administração da universidade. Um levantamento mais completo, dos danos materiais ocorridos em decorrência da chuva, está sendo finalizado.
Outra área bastante prejudicada pelas chuvas deste domingo de Páscoa foi uma das principais vias da cidade: a W3 Norte. Diversas garagens ficaram inundadas. Entre elas, a da Secretaria do Meio Ambiente e Recursos Hídricos da capital Federal, onde funciona o Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
Servidores do órgão disseram à Agência Brasil que esse tipo de problema sempre acontece quando a chuva é mais forte. Na garagem da Secretaria de Recursos Hídricos, o nível de água chegou a pelo menos 1,2m. O prejuízo só não foi maior porque, como era feriado, não havia carros no local.
Source: Agência Brasil