Ideb aponta retrocesso de quase uma década na qualidade de ensino municipal de Porto União; pandemia tende a tornar os próximos índices ainda piores
Em 15 de setembro foram divulgados os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica, IDEB, que mede a qualidade do aprendizado em nível nacional, e Porto União obteve um declínio histórico em seu padrão de ensino municipal. No exame de 2019, depois de dois anos de uma administração cuja plataforma era a educação, a cidade amiga registrou sua pior nota no exame desde 2011.
Porto União, que já teve um dos melhores índices de educação do estado, registrou em seu Ideb de 2019 níveis historicamente baixos na rede de ensino administrada pela Prefeitura Municipal (até o 5° ano, a educação é responsabilidade do município. A partir do 6° ano, os colégios são da rede estadual). Com pontuação dos quartos e quintos anos do Ensino Fundamental I em 5,3 no exame de 2019, a cidade figura entre as mais de 100 municipalidades de Santa Catarina que tiveram queda em seu resultado do Ideb.
Porto União ficou abaixo da meta estabelecida para ano, 5,7, pela primeira vez em 13 anos. Desde 2007 o resultado dos quartos e quintos anos do Ensino Fundamental I da rede municipal superavam as metas, como está representado no gráfico a seguir.
Conversamos com a professora Solange Garcia Behrens, Presidente do Sindicato dos Magistérios de União da Vitória, e ela nos contou alguns motivos que contribuíram para a queda drástica do IDEB. Segundo a Professora Solange, “Porto União não se preocupa em Formação Continuada dos professores, a preocupação é apenas com a infraestrutura, não existe o lado humano. Professores mal remunerados, com cortes de salários, cortes de gratificações. Não se pensa em valorização do professor. Então, um professor, desmotivado e desvalorizado, vai trabalhar como? A falta de respeito e valorização foi o que aconteceu. Os professores de Porto União são de excelência, só não são valorizados pela atual administração”. Também afirmou categoricamente que o maior problema na educação de Porto União é a falta de respeito e empatia pela Administração Municipal. Outro problema para a categoria é que os professores de Porto União estão sem representatividade, “o próprio prefeito de Porto União, cortou do holerite dos professores os descontos do Sindicato, sem consultar os professores, sendo arbitrário, faltando com a democracia a qual tanto prezamos. Anteriormente, atendíamos a cidade vizinha, defendendo os direitos dos nossos Professores, conseguimos avançar muito, porém, infelizmente não atuamos mais na cidade de Porto União”, relatou a Professora Solange.
Acredita-se que o próximo Ideb, que será realizado em 2021, registre números ainda mais decadentes para Porto União, em razão das dificuldades que a pandemia trouxe para a educação, além dos outros problemas da educação em Porto União.
Educação na pandemia
O setor educacional foi um dos mais prejudicados pelas restrições de distanciamento social, implementadas em combate à pandemia do coronavírus. Professores e alunos de todo o país, da rede pública ou particular, precisaram se adaptar ao ensino à distância necessário para dar continuidade às atividades escolares, e acredita-se que essa nova modalidade de ensino causará defasagem na educação brasileira, que se refletirá nas notas do Ideb de todo país. A tendência é que a nota do índice geral de 2021 apresente grande regresso educacional.
Educação estadual em Porto União
Assim como a educação da rede municipal deteriora, a educação da rede estadual da cidade amiga também não está cumprindo com os objetivos pedagógicos. Numa situação ainda mais deplorável, desde 2013 o Ensino Fundamental II de Porto União não atinge a meta estabelecida, em 2019 a meta era 5,7, e a nota obtida pelos alunos foi 4,4. No Ensino Médio, também da rede estadual, a situação pode parecer promissora, mas ainda é preocupante. A meta do ano de 2019, 3,2, foi alcançada com a pontuação de 3,4 atingida pelos alunos.
Santa Catarina e Brasil
Em Santa Catarina o declínio nos níveis do Ideb foi geral. No exame anterior, em 2017, o estado tinha 16 das 100 escolas com o melhor ensino. No resultado de 2019, esse número caiu para a metade, com apenas 8 escolas catarinenses no ranking. Anos luz à frente da decadente média 5,3 obtida por Porto União, Ibiporã do Oeste empata na rede municipal (1º ano ao 5º) com a gigante da educação Sobral (CE), Picada Café (RS), e outros municípios, com a média 8,4, que lhe rendeu o nono melhor conceito do país. A cidade amiga mais se aproxima da pior média municipal do estado, 4,7 em São Joaquim, do que da melhor. O Ceará domina a lista das 7 cidades com maior Ideb municipal, com cinco aparições. Os únicos outros estados que entram na lista são Alagoas, em terceiro lugar com Coruripe e Paraná, em quarto lugar com Janiópolis.
1º | Mucambo (CE) | 9,4 |
2º | Independência (CE) | 9,1 |
3º | Coruripe (AL) | 8,9 |
4º | Janiópolis (PR) | 8,8 |
5º | Milhã (CE) | 8,7 |
6º | Martinópole (CE) | 8,6 |
7º | Pires Ferreira (CE) | 8,5 |
Já União da Vitória se manteve acima da média nacional, que em 2019 foi de 5,7, pontuando 6,4. Também superou a meta, de 5,9.
O Ideb
O Índice Nacional de Desenvolvimento da Educação Básica, Ideb, foi criado em 2007 pelo Instituto de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Peixeira, INEP, para medir a qualidade do ensino nas escolas públicas. O cálculo do índice é medido a cada dois anos em uma escala de 1 à 10, e se baseia na análise do rendimento escolar aprovação e evasão, no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e na Prova Brasil. No Ideb 2019, a média dos anos iniciais (1º ao 5º ano) foi 5,9, enquanto a média dos anos finais (6º ao 9º ano) foi de 4,9, e a média do ensino médio foi de 4,2. Todos os três resultados representam aumento desde o último exame, em 2017.
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica- IDEB 2019 | |||
5° ano | 9° ano | 3° ano do EM | |
Brasil | 5,9 | 4,9 | 4,2 |