Conheça a situação dos projetos de contorno do Vale do Iguaçu

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Dois projetos rivalizam entre os políticos e comerciantes da região

A construção de um contorno na cidade de Porto União é um assunto muito comentado nas últimas décadas pela sociedade, pois essa obra contribuiria na expansão e no desenvolvimento da cidade. A proposta clássica seria construir o contorno entre a BR-280, na região do trevo do Pintado, até a BR-153, na região que adentra Porto União, fazendo do contorno inteiramente catarinense. Todavia, nos últimos anos, surgiu um novo projeto que promete ser mais eficiente à longo prazo: uma ligação entre a BR-280, na região da Lança, e a BR-476, próxima da fazenda experimental da Uniguaçu. Essa última proposta requereria a construção de uma nova ponte sobre o Rio Iguaçu. Para entendermos melhor a situação das duas propostas, conversamos com especialistas, políticos e comerciantes envolvidos na causa.

A proposta original

O projeto mais antigo, que já vem sendo discutido há muitos anos, não exige a construção de uma nova ponte, e consiste em construir o contorno entre a BR-280, na região do Pintado, até a BR-153, na região em que a rodovia adentra Porto União, próximo ao Posto Cacique, fazendo da obra totalmente catarinense. Um abaixo-assinado com mais de 800 assinaturas, pedindo que essa obra se concretize, já foi enviada ao Ministério Público. Porém, por se tratar de um terreno montanhoso com alto declive, esse projeto é muito criticado por especialistas, pois a construção do contorno nessa região seria prejudicial para o desenvolvimento da cidade, que seria limitado pelos aspectos geográficos, além do perigo de tráfego pesado em terreno montanhoso.

Para entender melhor quais as consequências de expandir a cidade em um terreno acidentado, conversamos com o geógrafo André Tomasini. Ele nos explicou que “hoje esse contorno passa por uma região extremamente montanhosa, com relevo, aclives e declives. Isso, pensando em tráfico pesado, é extremamente preocupante. Quando eu penso na viabilidade de um trecho para caminhões de carga, eu tenho que pensar que esses veículos são extremamente pesados. Qualquer subida vai gerar um trânsito muito lento, e qualquer descida vai gerar também um trânsito lento, pois ele não pode descer em velocidade, e um risco de acidentes. Nas subidas, é necessário construir pistas duplas, uma para os caminhões e outra para outros veículos, e nas descidas são necessárias áreas de escape, para caso o caminhão tenha superaquecimento de seus freios e precise sair da pista. Esse seria um dos pontos que deveria aparecer no planejamento. A construção dessas áreas de escape no trecho poderia encarecer o projeto”, explicou Tomasini.

Ainda assim, existem muitas pessoas que advogam pela construção do contorno entre a BR-280 e a BR-153. Uma dessas pessoas é o empresário Levi Imianoski, da Comatol, que angariou 800 assinaturas em um abaixo assinado, que pedia a construção do contorno. Segundo ele, “Eu quero para o meu povo esse contorno, não quero nada para mim. É muito caminhão, muita confusão, demora muito para chegar nos lugares. Por isso que eu estou metido nisso”, explicou. Levi também afirmou que está se comunicando com o DNIT desde 20 de agosto do último ano, quando entrou em contato, pedindo a construção do contorno através do abaixo assinado. Segundo ele, a prioridade é a construção da obra, independentemente se a nova ou antiga proposta seja selecionada, “Eu quero é que seja esse contorno, seja lá ou aqui”, disse. Porém, Levi também afirmou que a melhor opção seria a antiga, pois é mais barata, não necessitando de uma nova ponte nem da desapropriação de terras, “Lá [região entre a Lança e a Fazenda da Uniguaçu] é muito caro, porque tem plantação de soja. Eu sou do mais barato”. Ele também disse que tirar o trânsito pesado das vias urbanas não prejudicará o comércio local, pois “Caminhoneiro não gasta dentro da cidade, não abastece nem em posto da cidade, até porque uma carreta não consegue entrar em um posto de gasolina”, concluiu.

A nova proposta

Já o segundo projeto, que vem sido elaborado nos últimos anos, apresenta uma solução mais custosa para o problema do contorno. Exigindo a construção de uma nova ponte que cruze o Rio Iguaçu, a proposta do contorno pela BR-280 até a BR-476 seria mais cara, todavia, especialistas afirmam que ela desenvolveria o município em direção à planícies, representando uma vantagem a longo prazo.

Segundo Tomasini, “Quando faço uma análise desse trajeto, pode-se perceber que essa região é mais plana, e o único acidente geográfico presente nessa região é o próprio Rio Iguaçu. Pensando em trânsito pesado, esse seria um dos trechos bastante interessantes, na minha análise. Existe a questão das desapropriações, pois pode-se ver através das imagens de satélite que existem ali áreas de cultivo agrícola, então teria que haver uma parceria com o governo estadual para desapropriar essas áreas. A questão principal é a presença do rio, e a construção de uma ponte com potencial para resistir a caminhões pesados seria a grande solução, por mais que a construção de uma ponte teria um custo elevado”, afirmou Tomasini. Segundo ele, apesar da questão da desapropriação e necessidade de uma ponte, ainda parece ser muito viável a construção do contorno. O geógrafo continuou, “seria interessante analisar a manutenção da mata ciliar do Rio Iguaçu, justamente para que nos períodos de cheia, não ocorra um comprometimento do tráfego na região, afinal de contas a mata ciliar contribui para que a água não transborde”, disse.

Para André Tomasini, um dos pontos extremamente positivos é “a BR-280 e a BR-476 já estão preparadas, já recebem trânsito pesado. Outro ponto positivo, é que naquela região que liga a região da Lança até a região da fazenda experimental da Uniguaçu, não existe nenhuma área urbana, com grande concentração populacional. Isso é um fator interessante, pois não gera um impacto para a população com a passagem da rodovia. É uma maneira do trânsito fluir com facilidade sem ter muitos impedimentos”. Segundo ele, outro ponto positivo seria a possibilidade de usar a cabeceira das pontes para turismo, “Afinal de contas, essa ponte estaria atravessando o Rio Iguaçu, e o rio nessa região faz o limite entre esses dois estados, então há a divisa dentre Santa Catarina e Paraná. Pode-se montar um mirante, um restaurante, uma base de apoio para que quem esteja passando e tenha interesse em fazer uma foto possa conseguir. Ao meu ver, esse trajeto deveria ser o projeto adotado para o contorno”, concluiu.

O ex-prefeito de União da Vitória, Santin Roveda, é um dos apoiadores desse segundo projeto. Segundo ele, “O chamado ‘Contorno do Iguaçu’ tira o trânsito pesado de dentro da cidade e cria um eixo de desenvolvimento para implantação de novas empresas, indústrias e atração de investimento, tanto interno quanto externo, e geração de emprego. Eu acompanhei e acompanho essa situação desde o início, tanto com o DNIT nacional, quanto com o do estado do Paraná e Santa Catarina. Tem um envolvimento grande do deputado Jacobo, do Paraná, e do Senador Jorginho Melo, de Santa Catarina”, afirmou. Também explicou que o contorno de União da Vitória e diversos outros, como de Canoinhas e Jaraguá do Sul, já foram estudados e aprovados. “Esses estudos já foram aprovados. Eles [os contornos] são viáveis econômica e ambientalmente, o que é muito importante”, disse. Para Santin, o investimento seria grande, mas valeria a pena, “Um investimento grande do Governo Federal, o contorno do Iguaçu provavelmente vai passar de uns 150, 200 milhões de reais, o que é importante, pois é geração de emprego para toda região”, concluiu.

“Importantíssimo”: confira a opinião do prefeito Bachir Abbas

O atual prefeito de União da Vitória explicou que o projeto do contorno “é um dos projetos que vamos estar trabalhando, e é um projeto a nível regional que envolve toda a região. É um novo eixo de desenvolvimento. Vamos nos próximos dias estar indo à Brasília, pois são necessários recursos do Governo Federal, e vamos falar com o deputado Jacobo, que já abraçou esse projeto. É um projeto que temos que trabalhar, vai desviar boa parte do tráfego pesado e vai resolver um problema não só de União da Vitória, como de Porto União”, disse.

Conclusão do especialista

Para o geógrafo André Tomasini, analisando as condições naturais, de mobilidade para transporte de carga e espaço urbano da região, “Fica muito clara a opção do trecho entre a região da Lança até a Fazenda Experimental da Uniguaçu, BR-280 a BR-476, como o trecho mais apropriado para a construção desse contorno viário. Reforço as questões da facilidade do trajeto pela área mais plana, a construção de uma ponte que pode gerar um benefício turístico, não cruzar áreas urbanizadas, e envolver rodovias preparadas para o trânsito pesado”, disse.

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