Trinta moedas de prata

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Até tu, Manzotti?…. A frase icônica parafraseada no inicio deste artigo e que no original latina (pronunciado “Até tu Brutus” ou “até tu, Brutus?”) corresponde a Julio Cesar no momento de sua morte. O ditador tinha muitos inimigos no senado romano. No ano de 44 A.C. foi planejado o seu assassinato e entre os conspiradores estava Marco Júnio Bruto, ou Brutus, seu enteado, que foi reconhecido pelo padrasto durante o atentado. Foi quando proferiu a frase que entrou para a história. Uma frase que pode ser parafraseada em cada evento que surpreende o imaginário das pessoas.
Sobre a reportagem, do jornal O Estado de São Paulo, do dia 6 de Junho, que tem: “Por verbas, TVs católicas oferecem a Bolsonaro apoio ao governo”, com a manchete na primeira página, as manifestação contraria a atitude da “Elite mediática” que envolve figura de religiosos da Igreja Católica, a Comissão de Mídias Redentorista – União dos Redentoristas do Brasil, não demorou em publicar uma cara explicativa, afirmando, que essa atitude isolada é “uma falta de compromisso com o Evangelho e um atentado ao profetismo e unidade da Igreja compromissada com a defesa da vida e com o bem estar integral das pessoas nesta hora tão difícil vivida pelo Brasil. Esse apoio explícito compromete a imagem da Igreja e sua ação evangelizadora pautada no Evangelho, e não numa atitude partidária”, destacou.
Qual o motivo para tanta repercussão negativa, perante o fato que poderia ser considerado de pouca relevância? Qual foi o estopim que desencadeou todo tipo de manifestação? Por acaso houve algum tipo de exagero na “barganha dos religiosos” por verbas publicitarias? Uma das causas das reações adversas foi a manifestação propositiva do padre e cantor Reginaldo Manzotti, mostrando a disposição desses meios de comunicação para entrar numa troca de favores, entre o governo Federal e uma parte da Elite empresarial dos meios de comunicação católica, Manzotti, afirmou: “Nós somos uma potência, queremos estar nos lares e ajudar a construir esse Brasil. E, mais do que nunca, o senhor sabe o peso que isso tem, quando se tem uma mídia negativa. E nós queremos estar juntos”.
As afirmações de barganha não pararam por aí, por sua vez, o Padre Welinton Silva, da TV Pai Eterno, e do empresário João Monteiro de Barros Neto, da Rede Vida, que definiu Bolsonaro como “uma grande esperança”. O padre Silva, reconhecendo as dificuldades financeiras da emissora, pedia explicitamente ajuda, “estamos precisando mesmo de um apoio maior por parte do governo para que possamos continuar comunicando a boa notícia”, e em troca oferecia estar “levando ao conhecimento da população católica, ampla maioria desse país, aquilo de bom que o governo pode estar realizando e fazendo pelo nosso povo”. Perante semelhantes afirmações de tono politico e de cunho empresarial dos religiosos citados, não demorou as reações contraria da CNBB.Num comunicado de fortes conotações institucionais, a Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, esclarece que, “as emissoras intituladas ‘de inspiração católica’ possuem naturezas diferentes”, insistindo em que, “nenhuma delas e nenhum de seus membros representa a Igreja Católica, nem fala em seu nome e nem da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil”. O comunicado insiste em ressaltar que, “A Igreja Católica não faz barganhas”. Pelo contrário, a Igreja “estabelece relações institucionais com agentes públicos e os poderes constituídos pautada pelos valores do Evangelho e nos valores democráticos, republicanos, éticos e morais”, atitudes estas que não está presente no governo federal que continuamente questiona o valor da democracia.
Em contramão das propostas dos Padres Reginaldo Manzotti e Welinton Silva, no dia 9 de Abril passado, dom Walmor Oliveira de Azevedo, presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), afirmou que é preocupante, “os discursos que desacreditem a eficácia do distanciamento social e arrisquem a saúde e sobrevivência do povo brasileiro”, nessa ocasião a CNBB foi uma das seis signatárias do manifesto intitulado “Pacto pela vida e pelo Brasil”, os outros cinco signatários foram: Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Comissão de Defesa dos Direitos Humanos – Comissão Arns, Academia Brasileira de Ciências (ABC), Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), os signatários do documento defendiam no texto lançado para que o país siga, “as orientações dos organismos nacionais de saúde, como o Ministério da Saúde, e dos internacionais, a começar pela Organização Mundial de Saúde – OMS”, o manifesto mencionado foi lançado em comemoração do “Dia Mundial da Saúde”, o documento foi encaminhado aos presidentes dos três Poderes e pede a união da sociedade, solidariedade, disciplina e conduta ética e transparente do governo no enfrentamento da pandemia da Covid-19.
O comunicado da “Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB”, finaliza, fazendo alusão as palavras de Reginaldo Manzotti e Welinton Silva, afirmando que, “Não aprovamos iniciativas como essa, que dificultam a unidade necessária à Igreja, no cumprimento de sua missão evangelizadora, “que é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Papa Francisco, EG, 176), considerando todas as dimensões da vida humana e da Casa Comum. É urgente, sim, nestes tempos difíceis em que vivemos, agravados seriamente pela pandemia do novo coronavírus, que já retirou a vida de dezenas de milhares de pessoas e ainda tirará muito mais, que trabalhemos verdadeiramente em comunhão, sempre abertos ao diálogo”, ressaltou.
Perante os acontecimentos apresentado até agora, fica evidente a falta de sensibilidade humana e nem dizer cristã, dos religiosos citados no texto. Vivemos uma assustadora realidade em que o contei-o diário de centenas e as vezes de milhares de óbitos em todo o Brasil pela Covid-19. O que esta em jogo é muito mais que uma carência de dilema ético. Os padres Reginaldo Manzotti e Welinton Silva, dão à estranha sensação de viverem num planeta longínqua, perante a dolorosa realidade de milhares de vidas perdidas no Brasil em plena pandemia.
Em plena tragédia sanitária na atualidade é, inconcebível compreender a frase “uma grande esperança”, quando a máxima autoridade do País menospreza com ironias e agressividades continuamente a dor de milhares de famílias. Jamais poderá ser compreendido as palavras bajuladoras como “uma grande esperança”, onde reina o caos, a morte e a dor. Os padres Manzotti e Silva demonstram com suas atitudes mais “empresariais”, uma estranha conduta, que não condiz com suas pregações e ações rituais. As mancadas dos religiosos, não se concertam com novenas piedosas ou orações sensacionalistas. Nem pode ser elogiado com Trinta moedas de prata. O peso negativo das afirmações deve ser realçado quando Silva, afirma, que o propósito da oferta é para, “levar ao conhecimento da população católica, ampla maioria desse país, aquilo de bom que o governo pode estar realizando e fazendo pelo nosso povo”, disseminar noticias falsas, não constrói uma sociedade mais critica. O Evangelho anunciado pela Igreja católica não compactua com flagrantes desejos de manipulação e falta de coerência ética. A omissão do governo federal no combate ao Covid-19 é desastrosa, imoral e beira com a barbárie e a indiferença continua perante a dor humana.
A voz profética do Papa Francisco, não enaltece os discursos sensacionalistas, e nem aprova os argumentos dos bajuladores dos poderosos deste mundo, neste sentido, Reginaldo Manzotti e Welinton Silva estão em flagrante contradição perante as atitudes humanizadoras que prega e demonstra o Papa Francisco com palavras, gestos e ações. O pontífice, continuamente lembra aos cristãos católicos a importância da uma continua construção da consciência crítica sobre realidade, “Não é suficiente treinar a sensibilidade espiritual, que é indispensável, são necessárias competências e análises específicas”. O papa ainda insiste, que: “Para os cristãos o discernimento dos fenômenos sociais não pode ser independente da opção preferencial pelos pobres. Antes de ajudá-los, esta opção requer que estejamos ao lado deles, mesmo quando consideramos as dinâmicas sociais”. A força do Evangelho e as denuncias proféticas de todas as formas de injustiças, jamais serão silenciadas com nenhuma verba publicitarias e menos ainda por Trinta moedas de prata.

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