Os sintomas do câncer infantil e juvenil têm muitas semelhanças com os de doenças comuns. Neste dia 15, Dia Internacional de Luta contra o Câncer Infantojuvenil, a Secretaria de Estado da Saúde aproveita para conscientizar os catarinenses quanto à importância do diagnóstico precoce. Por isso, consultas frequentes ao pediatra são fundamentais já que esses profissionais conseguem identificar os primeiros sinais da doença e encaminhar a criança para investigação e tratamento especializado.
Em Santa Catarina, existem dois serviços de oncologia de referência no tratamento de crianças e adolescentes com câncer pelo Sistema Único de Saúde (SUS), um no Hospital Infantil Joana de Gusmão (HIJG), em Florianópolis, e outro no Hospital Jeser Amarante Faria, em Joinville.
No estado, os pacientes infantojuvenis que possuem suspeita da doença são encaminhados a consultas especializadas para tratamento imediato. Atualmente, cerca de 200 pacientes com idade até 15 anos estão em tratamento em Santa Catarina. O tipo de câncer mais frequente é a leucemia.
Para a chefe do Serviço de Oncologia Pediátrica do HIJG, a médica pediatra oncologista Ana Paula Winneschhofer, as pessoas não devem ter medo de falar sobre câncer, e o dia internacional alusivo à data, criado em 2002, ajudou nesse processo de conscientização. “Essa movimentação, de falar sobre câncer, é para fazer com que as pessoas pensem. A maior causa de morte na infância, depois de acidentes, é o câncer. Por isso, a necessidade de disseminar o conhecimento sobre os sintomas, que devem ser notados pelos familiares e pelos pediatras”, alerta.
Entre os sintomas, a médica destaca palidez, cansaço, recusa de se alimentar, manchas roxas pelo corpo, sangramentos, dores de cabeça, vômito ao acordar, perda de peso, febre oscilante, dor ao caminhar e quando a criança pede muito colo. “A recomendação mais importante é: leve a criança regularmente ao pediatra. Pelo menos uma vez por ano. Quanto mais cedo o diagnóstico for feito, temos mais possibilidades de tratamento e de cura. Se os pediatras tiverem dificuldade no diagnóstico ou de encaminhamento para o serviço especializado, podem entrar em contato conosco”, orienta a médica.
Outro ponto importante na prevenção ao câncer infantojuvenil é manter as vacinações em dia. As vacinas contra a hepatite e contra o HPV previnem contra alguns tipos de câncer, por exemplo. “A pandemia trouxe dificuldade na conscientização sobre a vacinação das nossas crianças. Porém, é importantíssimo manter o calendário vacinal dos nossos filhos em dia”, enfatiza a médica oncologista.
O diretor do Hospital Infantil, Levy Rau, observa que pacientes de diversas regiões do estado recebem atendimento na unidade, que conta com uma equipe multidisciplinar extremamente especializada. “Temos muito orgulho do nosso serviço, que conta com médicos oncologistas e hematologistas, enfermeiros, técnicos de enfermagem e uma gama de profissionais multidisciplinares e de assistência, como odontopediatra, psicólogo e assistente social. Temos uma equipe não só especializada, mas muito comprometida. Para nós, esse dia 15 de fevereiro é importante pela conscientização que traz e para que a comunidade valorize ainda mais o nosso hospital, que presta um atendimento totalmente gratuito pelo SUS”, frisa.
Para Rodolfo Rogério Hass, pai de um paciente, a insegurança de saber que o filho estava com câncer foi amenizada pelo conforto prestado pela equipe do Serviço de Oncologia. “Todos os que trabalham ali são sensacionais. Digo que são de anjos para cima”, elogia.
No Joana de Gusmão, o atendimento de referência conta com a parceria fundamental do terceiro setor, principalmente da Associação de Voluntários de Apoio e Assistência à Criança e ao Adolescente (Avos), que construiu o novo ambulatório de Oncohematologia Carlos Bastos Gomes. O espaço foi inaugurado em novembro de 2022, com recursos de doações da sociedade civil organizada, entre elas a Campanha Mc Dia Feliz.
No Infantil de Joinville, o Projeto Anjos da Guarda também auxilia nas ações sociais. No próximo dia 1º de março será inaugurado na instituição o Espaço da Família Ronald McDonald, para acolhimento das famílias durante o tratamento.
Câncer é primeira causa de morte por doença em crianças
O câncer infantil é a primeira causa de morte por doença em crianças e a segunda causa de óbito em geral. A primeira seria acidente. O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que no triênio 2023/2025 ocorrerão, a cada ano, 7.930 novos casos de câncer em crianças e jovens de 0 a 19 anos de idade.
Ontem, 15, Dia Internacional da Luta conta o Câncer Infantil, a oncologista pediátrica do Inca Sima Ferman, chefe da Seção de Pediatria, lembrou que atualmente a doença é altamente curável. “Essa é a principal informação que a gente tem”, disse.
Em entrevista à Agência Brasil, Sima afirmou que como a incidência de câncer vem aumentando lentamente ao longo dos anos, ele começa a aparecer como causa importante de doença em criança. “Como nem todas são curadas, a doença pode ter, na verdade, um percentual de mortalidade infantil também. Os dados mais recentes, de 2020, revelam que foram registrados 2.280 óbitos em crianças e adolescentes de 0 a 19 anos no Brasil.
Entre os tipos mais comuns de câncer infantojuvenil estão leucemia, linfoma e tumores do sistema nervoso central. A médica do Inca ressaltou, contudo, que os tumores em crianças são diferentes dos que acometem pessoas adultas. “Adulto tem muito carcinoma, tumores de células diferenciadas”. Os tumores de crianças são diferentes. Embora esses três tipos sejam mais frequentes, existe uma gama de tumores, como os embrionários, que ocorrem nos primeiros anos de vida. São exemplos os da retina, de rim, de gânglio simpático. “São tumores que acontecem, mais frequentemente, em crianças menores. Mas todos eles são muito diferenciados e respondem bem ao tratamento quimioterápico, normalmente. Essa é a principal informação que a gente tem para dar nesse dia tão importante”, reiterou a especialista.
Para a oncologista, a doença é muito séria, mas trouxe, ao longo dos anos, uma esperança de busca pela vida. Há possibilidade de cura, se o paciente é diagnosticado precocemente e tratado nos centros especializados de atenção à criança.
Alerta
Nos países de alta renda, entre 80% e 85% das crianças acometidas por câncer podem ser curadas atualmente. No Brasil, o percentual é mais baixo e variável entre as regiões, mas apresenta média de cura de 65%. “É menos do que nos países de alta renda porque muitas crianças já chegam aos centros de tratamento com sinais muito avançados”. Sima Ferman reafirmou que o diagnóstico precoce é muito importante. Por outro lado, admitiu que esse diagnóstico é, muitas vezes, difícil, tendo em vista que sinais e sintomas se assemelham a doenças comuns de criança.
O Inca faz treinamento com profissionais de saúde da atenção primária para alertá-los da importância de uma investigação mais profunda, quando há possibilidade de o sintoma não ser comum e constituir doença mais séria. Sima lembrou que criança não inventa sintoma. Afirmou que os pais devem sempre acompanhar a consulta e o tratamento dos filhos e dar atenção a todas as queixas feitas por eles, principalmente quando são muito recorrentes e permanecem por um tempo. “É importante estar alerta porque pode ser uma coisa mais séria do que uma doença comum”.
Podem ser sinais de tumores em crianças uma febre prolongada por mais de sete dias sem causa aparente, dor óssea, anemia, manchas roxas no corpo, dor de cabeça que leva a criança a acordar à noite, seguida de vômito, alterações neurológicas como perda de equilíbrio, massas no corpo. “São situações em que é preciso estar alerta e que podem levar a pensar em doença como câncer”.
Para os profissionais de saúde da atenção primária, especialmente, a médica recomendou que devem levar a sério as queixas dos pais e das crianças e acompanhar o menor durante todo o período até elucidar a situação para a qual a criança foi procurar atendimento. “E, se for o caso, fazer exames mais profundos e ver se há alguma doença que precisa ser tratada”.
Individualização
Para cada tipo de câncer, os oncologistas do Inca procuram estudar a biologia da doença, para dar um tratamento que possa levar à chance de cura, com menos efeitos no longo prazo. “Para conseguir isso, temos que saber especificamente como a doença se apresentou à criança e, muitas vezes, as características biológicas do tumor. Isso vai nos guiar sobre o tratamento que oferece mais ou menos riscos para esse paciente ficar curado e seguir a vida”.
Em geral, o tratamento de um câncer infantil leva de seis meses a dois anos, dependendo do tipo de doença apresentada pelo paciente. Após esse prazo, a criança fica em acompanhamento, ou “no controle”, por cinco anos. Se a doença não voltar a se manifestar durante esses cinco anos, pode-se considerar o paciente curado. “Cada vez, a chance de a doença voltar vai diminuindo mais. A chance é maior no primeiro ano, quando termina o tratamento, e vai diminuindo mais e mais”, disse a oncologista pediátrica.