A falta de chuva traz prejuízos para o meio rural e preocupa o setor produtivo de Santa Catarina. Desde junho de 2019, o estado vem passando pela estiagem que já é considerada a mais severa dos últimos anos e que vem afetando, principalmente, as regiões Extremo-Oeste, Oeste, Meio-Oeste, Planalto Sul, Planalto Norte e Alto Vale do Itajaí. Situações semelhantes aconteceram apenas em 1978 e 2006. A falta de chuvas deverá causar a redução de 10% na produção catarinense de milho.
“Já temos muitos municípios que decretaram estado de emergência em Santa Catarina e a nossa preocupação continua porque não há previsão de chuvas significativas para os próximos dias. Para minimizar os impactos da estiagem no estado, a Secretaria da Agricultura criou dois novos programas e prorrogou o prazo de vencimento de pagamento das parcelas de financiamentos do FDR. Além disso, seguimos com os nossos programas de apoio aos produtores, que têm como prioridade o atendimento de projetos de captação, armazenagem e uso da água”, destaca o secretário da Agricultura, da Pesca e do Desenvolvimento Rural, Ricardo de Gouvêa.
A Secretaria de Estado da Agricultura e a Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) em reunião via videoconferência, com lideranças do setor produtivo e técnico apresentou a situação atual do agronegócio catarinense e a previsão meteorológica para os próximos dias.
Impactos na agricultura
Segundo levantamentos do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa), nas últimas semanas os impactos da estiagem foram agravados em Santa Catarina e os principais prejuízos são sentidos nas lavouras de milho grão, silagem, feijão e soja.
Santa Catarina espera uma redução de 10% na produção de milho devido à estiagem, principalmente no Meio-Oeste, Extremo-Oeste e Extremo-Sul. As expectativas são de colheita de 2,59 milhões de toneladas. Lembrando que Santa Catarina é o maior importador de milho do país e usa o grão para abastecer a cadeia produtiva de suínos, aves e bovinos.
O feijão foi uma das culturas mais afetadas pela falta de chuvas, em alguns municípios do Meio-Oeste as perdas chegam a 60%. No total, o estado deve ter uma quebra de 7% na produção em relação à safra passada.
“Outras culturas ainda têm um cenário indefinido, como a soja e o milho silagem. Para essas culturas, a segunda safra plantada a partir de janeiro tem sido bastante prejudicada pela estiagem e a safra que foi plantada ano passado, entre setembro e outubro, não foi tão afetada”, explica a analista da Epagri/Cepa, Glaucia Padrão. Para a soja, até o momento se contabiliza, uma perda de 1% na produção se comparado à safra passada, com isso Santa Catarina deve ter uma produção de 2,3 milhões de toneladas.
Os produtores de tomate, cebola e batata também sentiram os impactos da estiagem e manifestam perdas na qualidade da produção.
Impactos na pecuária
As principais regiões afetadas são Extremo-Oeste, Oeste, Vale do Itajaí e Serra. Há registros de produtores de aves, suínos e bovinos que já buscam abastecimento suplementar de água.
Os analistas da Epagri/Cepa estimam ainda que, em março, a produção de leite tenha sido reduzida em até 6%.
Apoio ao setor produtivo
Os produtores rurais de Santa Catarina contam com três novas medidas para minimizar os impactos da estiagem no estado. A intenção da Secretaria da Agricultura é injetar R$ 60 milhões na economia catarinense.
Os produtores rurais e pescadores que transformam sua produção e comercializam utilizando Nota de Produtor Rural contam com financiamentos, via Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR), para custeio ou capital de giro. O limite é de R$ 30 mil, com cinco anos de prazo para pagamento sem juros. Podem participar produtores familiares que comercializem a produção industrializada, própria e legalizada e/ou desenvolva atividade de turismo rural.
Para os empreendimentos rurais que utilizam CNPJ, a Secretaria da Agricultura irá conceder a subvenção aos juros de financiamentos adquiridos por agricultores e pescadores, num limite de 2,5% ao ano. Os financiamentos seguirão as regras de contrato feito com o agente bancário, em um limite de R$ 100 mil.
Além disso, a Secretaria anunciou que irá prorrogar o vencimento das parcelas dos financiamentos contraídos junto ao Fundo de Desenvolvimento Rural (FDR). As parcelas anuais que venceriam em março, abril, maio ou junho poderão ser pagas no dia 3 de agosto.
Outros programas e projetos da Secretaria da Agricultura continuam em andamento. Os agricultores contam com financiamentos, apoio no pagamento de juros, incentivo para investir na melhoria do processo produtivo, ampliação de renda, irrigação, entre outros.
Para minimizar os efeitos da estiagem, fenômeno recorrente em Santa Catarina, a Secretaria da Agricultura mantém diversas linhas de apoio à construção de cisternas e sistemas de abastecimento. Nos últimos cinco anos, o Governo do Estado investiu mais de R$ 22,9 milhões nesses projetos, além da cessão de uso de mais de 400 distribuidores de água para os municípios. Em 2019, foram apoiados 538 projetos de irrigação, num investimento de R$ 182,9 mil em subvenção de juros de financiamentos.
Na cidade de Três Barras o déficit de chuvas chega a 500 milímetros em 12 meses, o que acabou afetando o abastecimento de água em algumas comunidades interioranas já há algum tempo. A informação é do coordenador da Defesa Civil Municipal João Pedro Simão.
Para tentar amenizar os problemas, um caminhão pipa fornecido pela Prefeitura tem levado diariamente água potável às localidades de São João dos Cavalheiros, Tigre e Campininha. O fornecimento começou há mais de 60 dias e já atendeu 40 famílias atingidas pela estiagem.
A distribuição da água tem sido acompanhada por um servidor da Defesa Civil Municipal, que também tem levantado outras demandas junto às famílias das localidades.
Diante da queda das reservas hídricas nos Rios Canoinhas e Negro, que abastecem o município, a Defesa Civil orienta a população a fazer o consumo consciente de água. “O racionamento é uma medida necessária, neste momento, para que atividades diárias das pessoas como a de lavar roupa, fazer comida e até tomar banho não fiquem comprometidas em breve”, frisou Simão.
Segundo a Defesa Civil Municipal, o nível do Rio Canoinhas está em 90 centímetros, enquanto a situação do Rio Negro é ainda mais grave: 35,5 centímetros.
Situação hidrológica
Na segunda-feira, 20, a Epagri/Ciram chegou a 27 estações em situação de estiagem – o resultado mais crítico já monitorada pelo Centro de Informações de Recursos Ambientais e de Hidrometeorologia de Santa Catarina (Epagri/Ciram) desde 2013.
Guilherme Xavier de Miranda Junior, explica que essa situação tem afetado diretamente a disponibilidade de água para a agricultura catarinense. “A estiagem do ano passado foi severa, mas não foi tão abrangente como está acontecendo este ano, principalmente nos meses de março e abril . Isso vem acumulando desde junho de 2019, com uma falta de chuva em algumas regiões na ordem de 600 mm. Esta é uma das estiagens mais severas já registrada em Santa Catarina desde 1978 e outra em 2006”, ressalta.
Falta de Chuva
De junho de 2019 a abril de 2020, a chuva acumulada em Santa Catarina ficou em torno de 500mm inferior ao registrado na média história. No Meio-Oeste, as chuvas foram 635mm menores durante esse período.
O mês de março foi bastante seco em Santa Catarina, faltando em média 100 mm em praticamente todo o estado. Até o dia 22 de abril, Santa Catarina teve algumas chuvas isoladas, porém os valores continuam bem inferiores à média histórica. Inclusive no Planalto Sul, Planalto Norte e Litoral.
“Os meses de abril e maio geralmente são mais secos, porém, até o dia 20 de abril, boa parte do estado apresentou chuvas mais escassas, com até 50mm a menos do que a média histórica”, destaca o meteorologista da Epagri/Ciram, Clóvis Correa
No Paraná a Sanepar iniciou uma campanha de uso racional da água para estimular a população a economizar diante deste cenário de estiagem que tem assolado todo o Estado. Veiculado em rede de TV, rádios, portais dos jornais e mídias sociais, o vídeo chama a atenção da população para a grave escassez de chuva e pede a colaboração para que a população priorize a água para alimentação e higiene pessoal.
Segundo o Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná (Simepar), a baixa precipitação pluviométrica já dura dez meses. Nove das maiores cidades paranaenses, de quase todas as regiões do Estado, tiveram chuvas bem abaixo da média histórica entre junho de 2019 e março de 2020.
Houve uma redução média na precipitação de 33% no conjunto de municípios formado por Curitiba, Ponta Grossa (Campos Gerais), Guarapuava (Centro), Maringá (Noroeste), Londrina (Norte), Foz do Iguaçu (Oeste), Cascavel (Oeste), Guaratuba (Litoral) e Umuarama (Noroeste).
Por enquanto em União da Vitória e Porto União não há nenhuma informação sobre como está o abastecimento de água nos municípios. A reportagem tentou entrar em contato com a empresa, mas não obteve êxito. A régua da Copel que monitora o nível do rio, marcava na tarde de ontem, 28, 1,33 metros. A beira do rio virou ponto turístico já que a em algumas partes, o rio pode ser atravessado a pé.