A saúde do idoso foi diretamente impactada pela pandemia de covid-19 e os reflexos ainda são sentidos nas unidades que prestam serviços de atendimento à saúde. Isso aconteceu não só pelo fato de estarem entre os grupos de maior risco desde o início da crise sanitária, mas também porque o isolamento necessário nos períodos mais críticos impactou diretamente nos casos de acidentes domésticos e, em paralelo, na interrupção dos acompanhamentos de rotina. Portanto, são mais idosos chegando por traumas e menos para consultas de doenças crônicas.
“Constatamos o aumento da quantidade de pacientes idosos atendidos no Pronto Socorro ao longo da pandemia devido aos acidentes que ocorrem dentro de casa”, analisa o ortopedista Ademir Schuroff. Referência em suporte a vítimas de trauma, o Hospital Universitário Cajuru, de Curitiba (PR), recebeu mais de 1,3 mil pacientes com mais de 60 anos em 2020, primeiro ano da covid-19 no país. Já em 2022, os números voltaram a estabilizar, mas ainda assustam. Foram 269 idosos atendidos entre janeiro e agosto. Segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS), cerca de um terço dos atendimentos hospitalares por traumas e lesões são de pessoas que têm acima de 60 anos.
De acordo com levantamento do Ministério da Saúde, 75% das quedas ocorrem em casa e 34% acabam provocando algum tipo de fratura. No caso de uma lesão, a realização rápida do procedimento mais adequado e a redução do tempo de internação podem salvar muitas vidas. “Se for uma fratura no colo do fêmur, é feita uma artroplastia de quadril para substituir essa articulação. Mas se é uma fratura na região proximal do fêmur, a mais comum, o melhor caminho é uma cirurgia minimamente invasiva com a ajuda de uma haste”, explica o ortopedista.
Doenças do coração
Desde o início da pandemia de covid-19, um em cada três brasileiros deixou de realizar exames de rotina e consultas. Segundo a Associação Brasileira de Medicina Diagnóstica (Abramet), a busca por serviços ambulatoriais e diagnósticos caiu cerca de 40%. São números que preocupam quando se sabe que mais de mil pessoas morrem por dia por doenças cardiovasculares, problemas do coração e de circulação no Brasil. Segundo dados da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP), 36 milhões de adultos brasileiros têm pressão alta. Entre os idosos, a hipertensão atinge 60%; a cada duas pessoas com mais de 80 anos, ao menos uma é hipertensa. Diante de uma população cada vez mais velha, são necessários procedimentos modernos, rápidos e seguros.
Nesse contexto, o serviço de hemodinâmica é uma estrutura de suma importância no tratamento de doenças cardiovasculares e neurológicas. “Com o avanço da tecnologia e as novas técnicas de tratamento é possível realizar intervenções minimamente invasivas em doenças antes tratadas apenas com cirurgias abertas de grande porte”, esclarece o cardiologista Rômulo Francisco de Almeida Torres, do Hospital Universitário Cajuru. “A agilidade no procedimento e na recuperação impacta diretamente no melhor resultado para a saúde do paciente”, afirma.
Dedicados em diagnosticar e tratar doenças de forma certeira, os profissionais da saúde que trabalham na hemodinâmica do hospital paranaense com atendimento 100% SUS reconhecem que o setor é importante, principalmente para o tratamento de pessoas com idade mais avançada. “Quanto mais idosa a população, mais patologias associadas ao envelhecimento são observadas”, analisa Rômulo.
Investimento em melhorias
Para oferecer mais segurança aos pacientes idosos com doenças cardíacas, neurológicas e vasculares, um projeto do Hospital Universitário Cajuru deve promover justamente a modernização do setor de hemodinâmica. Com a aquisição de novos equipamentos, a estimativa é que 1,2 mil idosos passem a ser beneficiados a cada ano – mas o volume de atendimentos será ainda maior considerando as demais faixas etárias. Para o investimento se tornar realidade, a instituição lança mão de campanhas para captação de R$ 8,7 milhões, a partir do Fundo Municipal dos Direitos da Pessoa Idosa.
”A destinação de valores via percentual de Imposto de Renda devido, seja de pessoa física ou jurídica, é essencial para darmos sequência ao nosso atendimento humanizado e de qualidade. Dessa forma, o contribuinte consegue escolher onde seu dinheiro será aplicado e tem certeza de que foi em um projeto que realmente beneficia a população”, afirma o diretor-geral do hospital, Juliano Gasparetto.
Além de uma significativa melhoria na assistência, Juliano Gasparetto explica que o novo equipamento e as novas instalações da hemodinâmica irão gerar oportunidades de aprendizado para residentes, estudantes e, também, profissionais que atuam no setor. “Somos uma instituição filantrópica e 100% SUS, atuando com um déficit de cerca de R$ 2,5 milhões ao mês. Por isso, a contribuição da população e de empresas é fundamental para que nosso hospital-escola continue a salvar vidas”, complementa o diretor-geral.