Produtos e alimentos cultivados sem aditivos químicos e sem causar danos ao meio ambiente, expostos na conferência Green Rio - Rio Orgânico 2014, no Jardim Botânico (Fernando Frazão/Agência Brasil)

Produção de alimentos e sustentabilidade: especialistas explicam caminhos para harmonia entre as agendas

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O debate em torno de um desenvolvimento econômico sustentável ganha força ano após ano. O aumento da população mundial e a consequente demanda por alimentos precisam atender às necessidades da agenda da sustentabilidade. Para isso, há opções viáveis para que as duas áreas caminhem em sinergia, segundo especialistas.

Eles afirmam que o avanço econômico deve levar em consideração que nada é possível se os recursos da natureza estiverem comprometidos. O Brasil, como um dos grandes produtores de alimento no mundo, tem papel importante nesse contexto.

“O principal desafio seria conciliar a velocidade com que temos o avanço da agropecuária em relação aos avanços do desenvolvimento sustentável. Promover o avanço conjunto dessas atividades. Com isso, poderíamos ter resultado com menos impacto ao meio ambiente. Temos de fazer mais investimentos em desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, de forma que tenhamos mais soluções, mais baratas e disponíveis, pensando na realidade diversa do Brasil”, avalia o engenheiro agrônomo e especialista em meio ambiente Charles Dayler.

Sistemas integrados

O engenheiro agrônomo analisa que um dos caminhos para o desenvolvimento sustentável é a integração de sistemas produtivos. Colocam-se em uma mesma área atividades diversas que podem, por exemplo, otimizar a produção e reduzir a emissão de carbono na natureza. Um desses sistemas integrados é a Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) e as suas modalidades.

“Quando falamos de ILPF vamos ter na mesma área extração de recursos da lavoura, a pecuária, que vai ter seu ciclo, e a floresta no longo prazo. Conseguimos promover ganho para o agricultor no curto, médio e longo prazo. Além disso, quando pensamos na estabilidade de uma floresta, vemos que mesmo no futuro não precisa mexer tanto no solo”, explica Dayler.

Rafael Araújo Bonatto, doutor em Ciências Agrícolas e especialista em Pecuária Sustentável da TNC Brasil, explica que esses sistemas também oferecem mais estabilidade aos produtores rurais. “Em tempos de volatilidade do mercado, os produtores não têm apenas um produto para oferecer no mercado, não estão todos os ovos na mesma cesta. A sinergia entre os componentes é algo bem intrínseco à ILPF, onde o animal beneficia o cultivo que vem na sequência. Tem crescido muito no Brasil”, detalha.

Há ainda sistemas agroflorestais e a própria agricultura orgânica como possíveis caminhos para a sustentabilidade. Dayler chama atenção, no entanto, para a demanda de mercado. Culturas mais intensivas, como soja e milho, são voltadas para o mercado externo. A necessidade de expansão dessas tecnologias sustentáveis deve manter a produtividade por área dessas commodities, já que pode haver chance de perda de oferta e de recursos.

“Não conseguimos desenvolver isso da noite para o dia. Não podemos simplesmente migrar. Temos que buscar integrar esses sistemas para que consigamos atender o mercado interno e externo nas demandas que existem”, diz.

Assistência técnica e extensão rural

Outra alternativa apontada pelos especialistas para o desenvolvimento sustentável é a capacitação de produtores rurais, o que passa necessariamente pela Assistência Técnica e Extensão Rural (ATER). Mais que o serviço de resolução do cultivo, a ATER é o processo pelo qual trabalhadores do campo se empoderam de conhecimento a ser adequado às suas realidades.

No Brasil, a assistência técnica e extensão rural é definida por lei, instituída em 2010. “Não desvencilho em nenhum momento a assistência técnica e extensão rural do desenvolvimento sustentável quando se lança uma ótica ao meio rural. Os processos desenvolvidos na ATER envolvem os produtores na tomada de decisões, inclusive no processo de formação de novos conhecimentos. É essencial isso. Permite que o homem do campo seja líder do seu navio, seu bem-estar, sua casa”, destaca Bonatto.

Charles Dayler concorda que a ATER é essencial para a sustentabilidade. O engenheiro agrônomo chama atenção, no entanto, que a assistência deve se manter atualizada e ser transmitida de maneira simples aos produtores rurais.

“O principal papel da assistência técnica é se manter atualizada em relação ao que é gerado de conhecimento na área agrícola e transferir esse conhecimento para o campo em uma linguagem que o produtor entenda, ganhe confiança naquela tecnologia e passe a aplicar. O papel da ATER é importantíssimo”, ressalta.

Nos estados brasileiros, o serviço de ATER é oferecido pela Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER).

Fonte: Site Barra

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