Praça Coronel Amazonas: mais de 100 anos de história

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Conheça a história do marco zero de União da Vitória, que há mais de 100 anos é o cenário de incontáveis memórias

A praça Coronel Amazonas, localizada no centro de União da Vitória, tem sido há mais de 80 anos um importante espaço cultural do Vale do Iguaçu. Desde estudantes do primário a estudantes universitários, além de famílias e jovens casais, o ponto de encontro é indispensável para qualquer pessoa que deseje conhecer as cidades gêmeas, tamanha sua importância para a população. Tendo sua área com aproximadamente 5.600 m², em formato hexagonal, paisagem arborizada e próxima ao leito do Iguaçu, ela é considerada a principal praça da cidade. Ao seu redor, se dispõe algumas das mais importantes instituições da cidade, como o prédio principal da UNESPAR (Universidade Estadual do Paraná), a Biblioteca Municipal (antiga sede da Prefeitura), Grupo Escolar Professor Serapião e a Igreja Matriz Sagrado Coração de Jesus. Com a reinauguração da praça, que passou por um processo de revitalização nos últimos anos, os laços afetivos da população com o espaço de lazer são renovados. Buscando celebrar a reforma, a redação do jornal reuniu toda a história da praça, para que a sociedade conheça as raízes históricas do espaço.

            O lugar em que hoje se situa a praça já era ocupado em meados de 1981, quando ela começou a ser utilizadas por moradores para a construção de um prado, para corridas de cavalos, chamado “Prado do Murici”. Acredita-se que antes disso, ela era usada para recolher o gado para travessia do vau do Iguaçu, “Ali os bois eram divididos em lotes menores e conduzidos até o vau com apoio de canoeiros ou balseiros”, contou Joaquim Ribas, professor que mora próximo à praça há mais de 50 anos. Já em 1914, com a Guerra do Contestado a todo vapor, ela foi usada para a construção de uma pista de 400 metros, que foi o cenário dos primeiros voos de aviação militar do Brasil. Então, a localidade ficou por muitos anos sem uso, formando um bosque coberto por árvores nativas. Não se sabe exatamente quando o espaço foi declarado como uma praça pública, mas o estudo “Cidade, Memória, Patrimônio: Praça Coronel Amazonas”, da professora Leni Gaspari, descobriu através de documentos jornalísticos que já em 1923 o local era chamado de Praça Coronel Amazonas. Esse nome foi uma homenagem ao Coronel Amazonas de Araújo Marcondes, palmense que explorou a navegação do Rio Iguaçu até o porto de Caiacanga, atual Porto Amazonas, quando fundou a comunidade de Porto União da Vitória, posteriormente desmembrada em duas cidades. Além de fundador, Coronel Amazonas também foi prefeito da cidade.

Em seguida, a Lei 139, de 30 de julho de 1925 autorizou a construção do busto do homenageado pelo nome da praça, que foi inaugurado apenas em 19 de dezembro de 1953. Segundo a professora Gaspari, “Parece óbvio que praça já existia legalmente em 1925, já que houve a preocupação legal de se colocar um busto do Coronel no local. Outro documento que consultamos em nossa pesquisa foi o Decreto n.º34 de 09 de abril de 1940, o qual em seu artigo 1º diz: “Fica concedida gratuitamente ao Governo do Estado do Paraná na Praça Coronel Amazonas desta cidade, a área de cinco mil seiscentos e noventa e sete metros quadrados”, afirmou em seu estudo. Em 1950 a praça recebe algumas das primeiras características que a tornariam tão querida a população, os primeiros 24 bancos e um mapa do Brasil. O objetivo do mapa, cimentado no chão, era didático, sendo de grande ajuda para ensinar os alunos das escolas próximas. Em meados de 1940 foi legitimada a construção da Escola José de Anchieta, e no início da década de 60, a faculdade foi transferida do Colégio Túlio de França para a Escola José de Anchieta. Segundo o professor Ribas, “O Prefeito Domício Scaramella fez algumas alterações principalmente na arborização. O Prefeito Alcides Fernandes, ao fotopraçafazer canteiros de flor, cobriu o mapa. Também fez o calçadão suprimindo parte da praça. O Prefeito Pedro Ivo aterrou os canteiros com o que parte das árvores nativas secaram”, relatou.

         Com o passar das décadas, a praça se consagrou entre os moradores da cidade. “Iluminada, ajardinada e com um visual atrativo, a Praça consolidou-se como espaço de ‘ver e ser visto’, de passear, conversar, ver o mundo passar. Local onde estudantes do Ginásio Túlio de França, (à época, ficava em frente) se encontravam para trocar ideias e paquerar, e muitos namoros ali começaram e terminaram em casamentos. Os idosos encontravam-se para conversar, os pais levavam seus filhos para brincar e as professoras faziam aulas práticas com as crianças no mapa do Brasil. Esse era o recanto preferido delas e dos adultos também”, escreveu a professora Leni Gaspari em seu artigo sobre a história da praça. Muito além de um simples espaço público, a história da praça é profundamente entrelaçada com a dos moradores do Vale do Iguaçu.

Como apontado por Gaspari, inúmeros relacionamentos, memórias e risadas ocorreram na praça. Para o professor Joaquim Ribas, “A importância da praça para a comunidade é vital. Além de pulmão da cidade com espaço livre e área verde, é ponto de encontro das famílias que levam as crianças para o parquinho, é o centro cívico onde acontecem as comemorações. Para os estudantes do diurno é espaço do recreio e para o turno da noite é o espaço romântico do encontro de namorados” afirmou Ribas, que já mora nas proximidades da praça há mais de 50 anos. Para a professora Gaspari, ao se falar da praça Coronel Amazonas, é necessário ressaltar a importância da preservação cultural, “é oportuno falarmos da praça como espaço de memória histórica, como patrimônio cultural, mas não só dela. Precisamos estar atentos as políticas de preservação para garantir a história acumulada, garantir a identificação dos indivíduos com o seu espaço, criando a ideia de pertencimento e principalmente decidir sobre a cidade que queremos para viver e sobre a sociedade que queremos construir. Esse com certeza é o melhor presente que União da Vitória pode receber do seu povo”, afirmou.

            No ano de 2018, a administração da Prefeitura e a Secretaria de Planejamento iniciaram um projeto de revitalização da praça Coronel Amazonas. Segundo André Hochstein, atual Secretário de Planejamento de União da Vitória, a criação do projeto “foi baseado nas necessidades de acessibilidade, drenagem pluvial (não havia uma destinação correta das águas da chuva e parava água em pontos localizados), iluminação pública (era pouca e gerava insegurança aos usuários da praça), resgate cultural, convívio social, valores de família e exploração comercial. O espaço encontrava-se em situação precária, em questões de drenagem e iluminação ineficiente devido à falta de intervenção”, relatou. O objetivo era, além de solucionar os problemas da praça, incrementá-la com a “implantação de parque de diversões, pergolado em madeira, troca de piso em petit pavê por pavimentação em concreto, construção de dois quiosques para exploração comercial e artística, remanejamento de monumentos e construção de museu ao ar livre”, explicou Hochstein, que também esclareceu a origem do investimento, “R$ 1.610.453,30 são a fundo perdido e oriundos de emenda parlamentar do deputado Federal Valdir Luiz Rossoni”, disse.

            Em 13 de novembro de 2018, as obras de revitalização da praça se iniciaram. O parquinho infantil e um corredor para acesso à faculdade foi deixado fora da área de trabalho inicial, que tinha sido cercada por tapumes. A previsão de término da obra, que estava a cargo da Construtora Giralda, era de 8 meses. Algumas semanas após o início da obra, durante escavações na praça, o mapa construído em 1950 pelo prefeito José Cleto e soterrado em 2000 foi redescoberto pelos obreiros. O prefeito Santin Roveda logo alterou o projeto da reforma para manter a escultura em seu local original, considerada pela sociedade como um patrimônio cultural. 

            Todavia, os imprevistos não demoraram para aparecer. Com o prazo da revitalização encerrando no dia 26 de junho de 2019, a prefeitura rescindiu o contrato com a empresa Giralda Construtora de Obras. A empresa havia concluído apenas 27% das atividades na data que deveria marcar a conclusão da obra, construindo apenas a mureta, o sistema de drenagem e a alvenaria dos quiosques. Na época, o então Secretário de Planejamento Clodoaldo Goetz explicou que a construtora foi notificada diversas vezes, “Mas, infelizmente, a justificativa foi que devido a problemas financeiros não seria possível concluir a obra”, informou. Após a suspensão do contrato, a empresa Engemass foi licitada para concluir a revitalização, que foi retomada no dia 02/03/2020, meses após os trabalhos serem encerrados pela primeira construtora. A previsão era que a obra, que teve um investimento de finalização de R$ 1.194.600,00, seria terminada em 6 meses. O secretário de planejamento da época explicou a demora para retomar as obras, “Como é um recurso do governo do estado, nós tivemos que mandar os pareceres, aguardar a aprovação, licitar novamente e homologar para só aí reiniciarmos as obras”, esclareceu. Quando a praça estava quase concluída, o prefeito Santin Roveda disse que sua reforma é um sonho que se realizou graças à equipe de planejamento da prefeitura. Para ele, o espaço é “Um lugar para que os moradores, as crianças as famílias aproveitem com muita qualidade de vida”, afirmou.

            Por fim, no dia 7 de setembro de 2020, cumprindo com a previsão de finalização, ocorreu a reinauguração da praça Coronel Amazonas, que contou com a presença do prefeito Santin Roveda, do deputado estadual Hussein Bakri e do ex-deputado Valdir Rossoni. Bakri ressaltou a importância emocional que a praça tinha para ele, “essa obra tem um caráter histórico para União da Vitória e, para mim em particular, é carregada de sentimento. Por isso é motivo de muita satisfação de vê-la tão bonita e de cara nova para ser novamente utilizada pela população”, afirmou durante a solenidade. Em certo momento, o prefeito chamou ao palco Osvaldo Eugênio Schiel, de 82 anos, cidadão que presenciou a primeira inauguração da praça em 1950. Emocionado, ele relatou suas memórias de infância, quando brincava no Prado do Murici, que se localizava onde hoje fica a praça. Disse também estar muito contente em participar da nova inauguração.

            A praça, elemento primordial da cultura regional, está pronta para receber todos os cidadãos em seu novo ambiente moderno, bonito e aconchegante. Agora, uma nova geração irá construir memórias no local, assim como já ocorre há mais de 100 anos.

Fotos da praça concluída, fonte: Página Gêmeas do Iguaçu, Facebook

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