Pós-verdade em tempo de Campanha Eleitoral

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Teve início no domingo 27 de setembro, à campanha eleitoral para escolher Prefeitos, vice-prefeitos e Vereadores em todos os municípios do Brasil, um momento importante e salutar para a democracia. Os cidadãos têm uma tarefa essencial, avaliar propostas de governos e analisar discursos dos candidatos aos cargos eletivos em disputa. Será um momento propicio para separar o discurso ideológico sem proposta, daqueles que apresenta proposta viável e efetiva e que visam cuidar e oferecer condições de vida digna para todos os cidadãos a curto, meio e longo prazo.
A partir de 2016, os comentaristas políticos, filósofos, sociólogos e jornalistas identificaram no mundo da política um novo conceito, conceito da Pós-verdade. Este conceito está em ascendência em muitos países, principalmente na Austrália, Brasil, Índia, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos, entre outros. A pós-verdade é uma construção artificial de uma realidade alimentada pela desinformação, populismo e ódio, de todos os níveis possíveis sejam elas raciais, políticas e sociais.
Em 2017, num artigo publicado no Jornal o Pais, sob o título: “A arte de manipular multidões: Técnicas para mentir e controlar as opiniões se aperfeiçoaram na era da pós-verdade”, Álex Grijelmo autor de: “La Información del Silencio. Cómo se Miente Contando Hechos Verdaderos” (A Informação do Silêncio. Como se Mente Contando Fatos Verdadeiros). Ressalta que a Pós-verdade é um desafio em todas as dimensões. Para Grijelmo, “A era da pós-verdade é na realidade a era do engano e da mentira, mas a novidade associada a esse neologismo consiste na popularização das crenças falsas e na facilidade para fazer com que os boatos prosperem. A mentira dever ter uma alta porcentagem de verdade para ser mais crível. E terá ainda maior eficácia a mentira composta totalmente por uma verdade. Parece uma contradição, mas não é”.
Para compreender o tema da Pós-verdade, será necessário determinar seu contexto de surgimento, à Pós-verdade, segundo a Enciclopedia Wikipedia “é um neologismo que descreve a situação na qual, na hora de criar e modelar a opinião pública, os fatos objetivos têm menos influência que os apelos às emoções e às crenças pessoais. Na cultura política, se denomina política da pós-verdade (ou política pós-factual) aquela na qual o debate se enquadra em apelos emocionais, desconectando-se dos detalhes da política pública, e pela reiterada afirmação de pontos de discussão nos quais as réplicas fáticas – os fatos – são ignoradas. A pós-verdade difere da tradicional disputa e falsificação da verdade, dando-lhe uma “importância secundária”. Resume-se como a ideia em que “algo que aparente ser verdade é mais importante que a própria verdade”. Para alguns autores, a pós-verdade é simplesmente mentira, fraude ou falsidade encobertas com o termo politicamente correto de “pós-verdade”, que ocultaria a tradicional propaganda política”.
Outra perspectiva de analise, encontramos na proposição e na análise de Mattew D’Ancona, jornalista político britânico, em seu livro: “Pós-verdade: a nova guerra contra os fatos em tempos de fake news”, segundo o Jornalista britânico, “a pós-verdade, seria uma reação da população em relação à classe política, aos meios de comunicações oficiais e à própria ciência, em que se faz prevalecer a emoção, as crenças e as ideologias sobre os fatos objetivos. O prefixo “pós” significa que a verdade ficou para trás, ou seja, não interessa mais a sua busca. Assim, há a perda de nexo ou vínculo com o factual, porém isso não quer dizer que pós-verdade é uma simples mentira, mas sim uma escolha individual dentre várias informações daquela que mais aprouver ao indivíduo, segundo seu universo”.
No plano filosófico podemos encontrar um caminho de compreensão dessa realidade ainda nebulosa, que influencia atitudes e formas de compreender os acontecimentos e discursos na contemporaneidade. A questão da pós-verdade relaciona-se com a dimensão hermenêutica na fala de Nietzsche, admitindo-se que “não há fatos, apenas versões”. Sendo assim, a busca pela suposta verdade passa a segundo plano, ganhando expressão o perspectivismo do filosofo francês Michel Foucault e as teorias da dissonância cognitiva e percepção. Atualmente, em ciências humanas e sociais, a discussão ganha importância com a agonística, que investiga e analisa o contexto social através da teoria dos jogos. Conceitos clássicos acerca do domínio dos fatos, da verdade, da informação e da esfera pública são, portanto, ressignificados.
Retomando as ideias de Álex Grijelmo, no artigo citado anteriormente, é importante apresentar de forma resumida as principais ideias apresentadas por Grijelmo, na forma de construção e estabelecimento da Pós-verdade:
1)- A insinuação. Não é preciso usar dados falsos. Basta sugeri-los. Na insinuação, as palavras e imagens expressadas se detêm em um ponto, mas as conclusões inevitavelmente extraídas delas vão muito mais além. Políticos oportunistas gostam de falar mal do seu oponente, sem apresentar projetos condicente com o cargo que deseja ocupar.
2)- A pressuposição e o subentendido. A pressuposição e o subentendido possuem traços em comum, e se baseiam em dar algo como certo sem questioná-lo. Ou, pior, criar uma narrativa sem nexo com a realidade utilizando ideologias fora do seu contexto. Os candidatos populistas e medíocres são aqueles que vivem da política.
3)- A falta de contexto. A falta do contexto adequado manipula os fatos. O emissor se refere a realidade como “Eu, acho”. O “Achismo” é a marca dos incompetentes. Depois que um político incompetente for eleito, não adianta chorar nas redes sociais.
4)- Inversão da relevância. Os beneficiários desta era da pós-verdade nem sempre dispõem de fatos relevantes pelos quais atacar seus adversários. Por isso, com frequência recorrem a aspectos muito secundários… que transformam em relevantes. Políticos pobre de discurso, tentam dimensionar atos de opositores movidos pelo ódio e o ressentimento, para inflamar seus seguidores desinformados.
A pós-verdade, caro leitor, está na moda e a cada dia ganha força. Ela, movimenta-se e refere-se ao uso emocional para desencadear as emoções das pessoas, para mudar seus pensamentos enquanto camufla os fatos, cria uma cortina de fumaça na narrativa, escondendo o que realmente está acontecendo no momento. A pós-verdade é baseada em discursos e textos que tentam nos emocionar para manipular ou distorcer a realidade que percebemos. Essas características da pós-verdade podem ser atrativas, especialmente se você não tiver acesso continua a informação de fonte seguro. Fique atento nesta campanha eleitoral para Prefeitos e Vereadores! Não alimente discurso eleitoreiras vazia de conteúdo e proposta, que geram desinformação e falta de compromisso com a sociedade. Analise com criticidade, os critérios éticos das propostas, a coerência do histórico de vida dos candidatos que por ventura lhe vier pedir seu voto. Não esqueça da premissa: Voto não tem preço, voto tem consequência.

  • Daniel Andrés Baez Brizueña é formado em Teologia, Ciencia das religiões, Marketing, Letras e Filosofia.

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