O filósofo alemão, Friedrich Nietzsche, certa vez, afirmou, que a busca obsessiva pela saúde pessoal é o caminho certo para a decadência do ser humano. Um ser perfeitamente saudável se torna vaidoso, indolente e o pensamento, no mais das vezes, reflete sua obsessão com a manutenção do eu narcísico. A doença não só é um tônico da vida, como nos força a sair da zona de conforto e pensar a partir dela. O corpo doente como perspectiva sobre a saúde normal. Só sentimos o corpo, afinal, quando ele se impõe a nós. Poderíamos extrapolar o aforismo nietzschiano para pensar como uma epidemia faz emergir verdades antes colocadas para dormir pela normalidade social. O Coronavírus esta entre nós como a pior praga que enfrenta a humanidade nos últimos anos. Por um lado, para os incrédulos que desacreditam na ciência e com “histórico de atleta” é só uma gripezinha. Para a Ciência, por outro lado, uma Pandemia com consequências catastróficas com potencial de milhares de mortos. Em outra palavra, estamos perante uma tragédia anunciada que não tem nada de “fantasia” e que já ceifou milhares de vida no mundo e no Brasil e milhões de infetados no globo terráqueo.
Buscar resposta à condição humana é uma das tarefas dos intelectuais. Por isso neste espaço reproduziremos alguns pensamentos de intelectuais publicados em sites especializados. A escolha não foi fácil. Já que o equilíbrio é condição exigente e necessária em tempo de diversas narrativas desencontradas.
Para o professor de filosofia Castor M.M. Bartolomé Ruiz em um artigo publicado pela Unisinos com titulo: “Questões éticas da biolítica na pandemia que nos assombre” afirma de modo enfático que “A pandemia está evidenciando o quanto somos absolutamente interdependentes uns dos outros. Este acontecimento nos mostra que cada vez os seres humanos estamos mais vinculados um ao outro de modo inexorável. Aquilo que eu faço repercute no outro extremo do planeta, assim como aquilo que ocorre com o outro me afeta muito proximamente”, escreveu.
O Filosofo ainda ressalta que “Como sempre dissemos, os dispositivos biolíticos, entre eles a exceção, não são intrinsecamente perversos. Eles são necessários para tomar decisões rápidas e eficientes perante emergências e crises agudas. Se fossem estritamente perversos, como a escravidão ou a tortura, se poderiam suprimir por lei. A pandemia que vivemos parece ser uma dessas situações que justifica a utilização desses dispositivos de exceção, que exigem que todas as pessoas fiquem em casa para o bem comum. Não pode ser deixado à liberdade individual ficar ou não em casa, pois a decisão de cada um repercute imediatamente sobre os demais espalhando a pandemia e suas graves consequências. Este tipo de situações legitimam a existência dos dispositivos como necessários para casos de necessidade extrema”, ressaltou.
Outro intelectual que se debruça sobre o tema é o filósofo italiano Roberto Esposito, professor da Escola Normal Superior de Pisa e ex-vice-diretor do Instituto Italiano de Ciências Humanas, segundo Esposito quando se começou a falar sobre “biopolítica” em tempo de pandemia global, a novidade foi recebida com algum ceticismo. Parecia uma noção dificilmente verificável na realidade. Depois a situação mudou rapidamente. O feedback tornou-se cada vez mais denso, até se tornar impressionante. Segundo o filosofo, existem três etapas fundamentais.
A primeira é o deslocamento do objetivo político dos indivíduos para determinados segmentos da população. Afetadas por práticas profiláticas, ao mesmo tempo protegidas e mantidas à distância, são partes inteiras da população, consideradas em risco, mas também portadoras de risco de contágio. Esse também é o resultado da verdadeira síndrome imunitária que há muito tempo caracteriza o novo regime biopolítico. O que se teme, mais do que o próprio mal, é sua circulação descontrolada em um corpo social exposto a processos de contaminação generalizados. Naturalmente, as dinâmicas da globalização potencializaram esse medo em um mundo que parece ter perdido toda fronteira interna.
O segundo passo da dinâmica biopolítica em curso tem a ver com o duplo processo de medicalização da política e politização da medicina. Novamente, trata-se de uma transformação que remonta ao nascimento da medicina social. Mas a aceleração em curso parece ultrapassar o limiar de guarda. Por um lado, a política, desbotadas suas coordenadas ideológicas, acentuou cada vez mais um caráter protetor contra riscos reais e imaginários, perseguindo temores que frequentemente ela mesma produz. Por outro lado, a prática médica, apesar de sua autonomia científica, não pode deixar de levar em consideração as condições contextuais em que opera. Por exemplo, as consequências econômicas e políticas que as medidas sugeridas determinam. Isso explica de alguma forma a surpreendente diversidade de opiniões entre os maiores virologistas italianos em relação à natureza e aos possíveis desdobramentos do coronavírus.
O terceiro sintomas, talvez ainda mais preocupante, do entrelaçamento entre política e vida biológica é constituído pelo deslocamento dos procedimentos democráticos ordinários para disposições de caráter emergencial. Também a decretação de urgência tem uma longa história. Em sua base existe a ideia de que, em condições de alto risco, mais que a vontade do legislador, vale o estado de necessidade.
Todos os espíritos totalitários, ditatoriais, precisam ser afastados em tempos de pandemias global. A Covid-19 veio no justo momento em que o Capitalismo e suas ideias “sobrenaturais” estavam em plena convicção e poderio. A Covid-19 volta a lembrar ao ser humano a sua dimensão de fragilidade, somos feitos de barro e não de concreto. O rosto da morte, de medo e de paralização social que o momento impõe é um duro golpe a ditadura narcisismo dos superpoderosos. A ameaça invisível tornou-se traiçoeiro e volta a ameaçar o humano saudável e lembrá-lo que é finito e pequeno no universo.
A pandemia, nos faz lembrar a todos, que a condição humana vive inevitavelmente uma interdependência comunitária. Somos seres mutuamente dependentes. Somos seres criados para a solidariedade. Entre o Perverso e o Humano em tempo de pandemia global, precisamos cada um fazer nossas escolhas, sem narcisismo e sem soberba e com imensa responsabilidade neste tempo de crise, dor, sofrimento social, espiritual e mental. É importante lembrar as palavras do Papa Francisco, que nos lembra, que “ninguém vence sozinho, nem no campo, nem na vida!”. A nossa condição humana em tempo de coronavírus impõe humildade e fé, uma nova redescoberta para o ser humano aceitar sua condição de fragilidade e finitude.
* Daniel Andrés Baez Brizueña é formado em Teologia, Ciencia das religiões, Marketing, Letras e Filosofia.