O Nazismo de ontem e Os Nazistas de Hoje

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Caro leitor, o artigo de hoje é diferente as dos anteriores. Por isso, duas considerações desejo tecer antes de começar a discorrer sobre o título que apresento hoje. Por um lado, o artigo não visa doutrinamento, a finalidade do artigo é histórica e de cunho filosófica; por outro lado, desejo abrir diálogo ou debates entre os fatos históricos do passado e a nossa realidade contemporânea que merece a nossa atenção por ser um tempo marcado pela volta aos discursos de índole totalitária.
Walter Charles Langer foi um psicólogo americano contratado pelo Escritório de Serviços Estratégicos, a OSS, órgão de inteligência dos Estados Unidos (predecessor da CIA) para mapear o comportamento führer. Os americanos almejavam que fosse feito um estudo psicológico de Adolf Hitler, enquanto o líder alemão ainda permanecia no poder.
O trabalho do psicólogo americano resultou em um livro publicado no Brasil com o título “A mente de Hitler”, esta obra pode ser encontrada facilmente nas livrarias. O Livro revela o documento secreto que investigou a psique do líder da Alemanha nazista e traz uma exposição horripilante de uma mente doentia. Logo no início, o autor trata de afirmar que, a partir das entrevistas que fez com antigos cooperadores e assistentes do nazista, e que “Hitler acredita mesmo em sua própria grandeza”, um ser divinizado em sua própria mente.
Langer observou, segundo conta no livro citado, que no início da carreira de Hitler este nefasto personagem era visto como um vassalo apenas divertido, razão pela qual “muitas pessoas se recusaram a levá-lo a sério, alegando que provavelmente ele não iria durar. Quando uma ação após a outra teve um sucesso incrível e seu tamanho se tornou mais evidente, o divertimento se transformou em incredulidade”. O tempo sempre revela o desejo dos monstruos.
A partir de conversas com várias pessoas fora da Alemanha que haviam convivido com Hitler em diversas fases de sua vida, Langer traçou um quadro mental do líder nazista que se tornou um clássico da abordagem psicológica de alguém que não está deitado em um sofá. Para não parafrasear Freud, Lacan e tantos outros. Segundo um dos entrevistados de Walter Langer, Hitler “sempre foi um impostor”, nada obstante não parecer “ter consciência de quão desonesto é”. Era notória a sua capacidade de “dizer algo um dia e, alguns dias depois, dizer o oposto, completamente alheio à sua afirmação anterior” Aliás, “a maioria dos nazistas, inspirada em Hitler, literalmente se esquece de qualquer coisa que eles não querem lembrar”. Uma amnesia doentia e psicopática também caracteriza a muitos líderes políticos da nossa contemporaneidade que de forma perversa projetam imagens do passado a um culto perverso de sua personalidade.
É nesse emaranhado de esquecimento dos fatos da história, foi que ao som de Richard Wagner, o compositor preferido de Adolf Hitler, o agora ex-Secretário de cultura do governo Bolsonaro, Roberto Alvim, copiou partes de um discurso do ministro da propaganda do führer nazista, Joseph Goebbels, na qual asseverava que: “A arte brasileira da próxima década será heróica e nacional. Será dotado de grande capacidade de envolvimento emocional e será igualmente imperativo (…) ou não será nada ”, esta afirmação de Alvim foi veiculada em um vídeo oficial transmitido nas redes na quinta-feira 16 de janeiro, flanqueado por uma bandeira brasileira e uma cruz, numa mistura estranha entre medievalismo bárbaro e selvageria contemporânea. Alvim, naquele momento, acreditou, aconselhado ou não por assessores na tolerância à barbárie da sociedade brasileira, o tiro saiu pela culatra. O Secretario foi exonerado após a repercussão negativa dessa patética exposição e defesa da narrativa de barbárie. O presidente Bolsonaro teve que provar do seu próprio veneno.
Porém, a nossa explanação não pode se limitar a esse fato, torna-se necessário é importante lembrar que não é a primeira vez que membros do primeiro escalão do bolonarismo imitam ou defendem regimes autoritários. O ministro da Economia, Paulo Guedes, defendeu duas vezes o decreto AI-5 da ditadura militar, que endureceu a repressão e é conhecido como “golpe dentro do golpe” o discurso ocorreu após uma referência à AI-5 pelo próprio filho do presidente, deputado federal Eduardo Bolsonaro, que defendeu a medida se a “esquerda radicalizar”. E as novidades não param, o próprio Presidente da República, constantemente, demonstra um espirito antidemocrático e autoritário, defendendo como herói, funestos personagens da nossa história recente, elogiando torturadores da tirania recente da nossa história, como o falecido coronel do Exército Carlos Brilhante Ustra, afamado por inserir ratos na vagina de presas políticas. Em nenhum pais do mundo é cabível um presidente da República demonstrar simpatia por desprezível figura da nossa história.
Sendo assim, o Nazismo e os Nazistas de ontem e de hoje aparecem e desaparecem de cena de tempo em tempo, tentando medir a memória e a tolerância histórica do Povo Brasileiro com a barbárie. O teste concretizado na narrativa de Roberto Alvin acendeu a alerta de que é necessário estar atento e vigilantes para não cair na armadilha de alimentar velhos monstruos do passado no tempo presente, ainda que muitos sonham em impor a barbárie a cada evento populista da nossa história democrática atual.
CONTINUA…

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