O horror do negacionismo*: Ontem e Hoje.

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Quem de nós, nunca teve a oportunidade de encontrar um negacionista, sejam elas de princípios teóricos ou sobre fatos históricos. Nos dias atuais, tem aparecido com mais assiduidade na roda de conversa um “idiota” rotulando-se de “inteligente” que nega tudo.
Em tempo de pandemia o horror do negacionismo voltou a assombrar a consciência coletiva de uma parcela significativa da população. Ontem e hoje, o negacionismo escolhe negar deliberadamente a realidade como forma de escapar de uma verdade desconfortável. Sendo assim, os negacionistas se recusam em aceitar uma realidade empiricamente verificável. Um negacionista é antes de tudo um cético “idiotizado” sejam pela mídia sensacionista ou por teorias de conspiração inventada.
Existem diversos tipos de negacionismo, alguns, é facilmente encontrado na contemporaneidade, negacionistas da evolução natural, do Holocausto, da Covid-19. Mas, todos eles, partem de uma premissa comum: o ceticismo. Uma combinação explosiva em todos os sentidos possíveis.
Segundo Alexandre Araújo Costa, professor da Universidade Estadual do Ceará. Formado em Física, Ph.D. em Ciências Atmosféricas pela Universidade do Estado do Colorado, com pós-doutorado na Universidade de Yale, os negacionitas apresentam três características profundamente negativas, por que: “ 1) deseduca, no sentido literal da palavra, pois repassa ao público leigo e especialmente à juventude em idade escolar noções falsas sobre o nosso mundo físico; 2) mina de forma totalmente irresponsável a credibilidade da ciência que, mesmo considerando seus limites e sua inserção no contexto social, econômico, etc., não pode ser negada como grande conquista humana; 3) ao negar a existência de um problema tão grave, que pode mesmo ser considerado o maior dilema civilizacional jamais posto diante da humanidade, sabota a consciência coletiva sobre a necessidade de incidir sobre ele de maneira urgente e resoluta”.
Para a historiadora Ynaê Lopes dos Santos, da Fundação Getúlio Vargas (FGV) “O revisionismo histórico, promovido pelos negacionistas esta cimentada na deturpação dos fatos, isto representa uma ameaça ideológica na contemporaneidade: “Esse processo de deslegitimação chega a questionar os próprios métodos científicos ou a ciência como um paradigma de explicação da sociedade. Temos atualmente a situação em alguns casos de discutir se a Terra é ou não redonda. A História é o elo mais atacado por essa extrema direita”, enfatiza.
Segundo a professora de História do Brasil Colonial no Departamento de História e no Programa de Pós-Graduação em História da UFBA, Patrícia Valim em artigo publicado por Revista Cult, o negacionismo é fruto do mundo ocidental do pós guerra “Popularizado por Rousso, o termo negacionismo invadiu a cena pública do mundo ocidental do pós-guerra quando alguns indivíduos alcançaram popularidade ao postularem que o extermínio dos judeus havia sido uma gigantesca farsa histórica patrocinada por poderosos interesses políticos e econômicos ligados ao Estado de Israel e ao movimento sionista internacional. Negacionistas como Robert Faurisson, David Irving, Ernst Zundel e Roger Garaudy, entre outros, procuraram legitimar seus lugares no campo intelectual ao afirmarem que suas teses falaciosas eram “revisionismos históricos”, elaborados por meio dos procedimentos metodológicos obrigatórios do trabalho do historiador: levantamento e exame crítico das fontes, construção de hipóteses explicativas e formulação de conclusões objetivas”.
Para o jornalista, ambientalista e editor da revista eletrônica EcoDebate, Henrique Cortez, em artigo publicado em EcoDebate, apresenta as formas mais variadas em que se manifesta o negacionismo na contemporaneidade, ele ressalta, que “A pandemia do novo coronavírus, Covid-19, traz novas e desafiadoras ameaças à população social e economicamente vulnerável, a mesma tradicionalmente vítima em um país historicamente desigual (…) A falácia dos negacionistas da pandemia, com o presidente à frente, insiste que o novo coronavírus “apenas” é uma ameaça aos idosos e doentes crônicos, sendo, para os demais, apenas uma ‘gripezinha’ (..) Nem os neonazistas europeus tem um discurso tão eugenista quanto os negacionistas da pandemia, de que é aceitável a morte de milhares de idosos, doentes crônicos e vulneráveis (…) Se o desastre pelo novo coronavírus ocorrer no pior cenário, estaremos diante um trágico experimento de “darwinismo social” (…) Talvez tenhamos, no século 21, uma atualização da expressão latina “Ave Caesar, morituri te salutant” (“Ave, César, aqueles que estão prestes a morrer o saúdam”)” é uma conhecida sentença em língua latina citada em Suetónio em sua obra De Vita Caesarum, assustadoramente atual e legitimado por inúmeros pseudos cientistas contemporâneo.
Finalmente, para Massimo Recalcati, psicanalista italiano e professor das universidades de Pavia e de Verona, em artigo publicado por La Repubblica, a face mais obscura e perigosa do negacionismo é a negação da ameaça: “A outra face é do negacionismo, ou seja, a recusa obstinada de tomar nota da presença da natureza objetiva do perigo. Se negar a presença da ameaça reflete um comportamento de fuga e de evitação da ansiedade, a reação de pânico acaba ampliando de forma desmedida o próprio perigo (…) O que nos espera é então um grande teste da civilidade: conter as reações irracionais de pânico não significa negar a gravidade da situação, mas tentar transformar a massa agitada e perdida do pânico em um conjunto coletivo civil, capaz de reação racional à ameaça incumbente. Seguir as regras básicas de saúde indicadas pela ciência sem cair na fuga irracional do pânico e sem invocar as medidas políticas mais catastróficas da epidemia, comporta a difícil transformação da massa emocional e irracional em um coletivo civil. É um grande teste que já deveria empenhar desde hoje cada um de nós: resistir à tentação do pânico, responder à ameaça com um senso de responsabilidade, não apenas considerando o horizonte da própria vida individual, mas percebendo que se participa conscientemente de uma ação civil coletiva que investe a vida inteira da nossa comunidade”.
Você, caro leitor, há de concordar comigo que os negacionistas criam um desserviço para a sociedade contemporânea. Já, que, a desinformação é nociva para todos porque obscurece a realidade. Combater o negacionismo não é imposição é uma necessidade em todos os campos do conhecimento e da realidade em que estamos inseridos. O negacionismo “estupido”, “idiotizado”, “macabro”, somente é possível vencer com Consciencia Critica. Ontem e Hoje, o horror do negacionismo, deseja se alimentar novamente da ignorância premeditada do seu interlocutor.

  • Após leituras realizadas, as citações foram extraídas do site:
    www.ihu.unisinos.br

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