Uma pesquisa publicada no The Lancet Regional Health estima que, durante a pandemia, mais de 1,1 milhão de cirurgias eletivas e emergenciais deixaram de ser realizadas no Brasil. E hospitais de todo o país agora se dedicam a “recuperar o tempo perdido”. O alento é que, nos mais de dois anos que as equipes viveram em compasso de espera, esses procedimentos eletivos foram usados para pesquisas de novas técnicas cirúrgicas dentro das mais variadas especialidades. Agora, no Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR), a meta é aumentar em 27% o número de cirurgias, passando de 7.500 procedimentos realizados em 2021 para mais de 11 mil em 2022. E, para isso, estão sendo usadas técnicas pioneiras.
É o caso do marcapasso sem fio. Uma técnica cardíaca e pioneira em Curitiba (PR) foi realizada na primeira quinzena de setembro para implantação de um novo equipamento cardíaco, que funciona como bateria e eletrodo, eliminando assim a necessidade de fios pelo corpo. A mudança diminui os riscos de infecção por repetição. “No caso desse paciente, ele já sofria com endocardite e a nova técnica possibilitou minimizar os riscos de rejeição e, consequentemente, novas infecções. Há oito anos, o paciente foi submetido ao primeiro procedimento, desses mais antigos, com fios. Depois, evoluiu para esse quadro recente de febre, e analisamos que a melhor opção seria retirar tudo e colocar marcapasso no coração de forma direta, sem a necessidade de bateria no peito do doente e fios que normalmente correm por dentro das veias”, explica o médico especialista em estimulação cardíaca artificial do Hospital Marcelino Champagnat, Maurício Montemezzo.
Outra técnica ainda pouca utilizada no país são as ondas sonoras para romper pedras de cálcio que obstruem artérias do coração. Essa é a função do dispositivo shockwave, aprovado recentemente pela Anvisa, e que está sendo utilizado para desobstruir artérias do coração severamente calcificadas que somente com o stent não seria possível alcançar o mesmo resultado. A técnica também foi utilizada no hospital e faz parte das cirurgias de alta complexidade no pós-pandemia.
“Nesse caso, o paciente tinha realizado uma angioplastia com implante de stent, no ano passado, mas o cálcio existente na principal artéria do coração não permitiu que essa desobstrução fosse realizada. Como ele ainda sofria com sinais de cansaço, fadiga, falta de ar e dor no peito, optamos por essa técnica em que introduzimos um cateter-balão que fica ligado a um gerador que emite ondas de pressão sonora capazes de fraturar o cálcio”, explica o cardiologista Rômulo Francisco de Almeida Torres. “A técnica é semelhante à utilizada para dissolução de cálculo renal”, complementa.
Pacientes que esperaram e agora recuperam esperança
Com a retomada dos procedimentos, mais uma técnica inovadora foi realizada, dessa vez, para corrigir a degeneração de uma prótese cardíaca. A prótese, implantada há 11 anos, começou a apresentar defeito grave durante a pandemia e foi progressivamente piorando. A disfunção biológica cirúrgica geralmente ocorre pelo tempo de uso, que é de 10 anos. Quando a degeneração é severa, é indicada a substituição da válvula defeituosa por uma nova, pois nenhuma medicação é eficaz nesse quadro. “Pela idade do paciente, é aconselhável abordagem menos invasiva, de menor risco e eficiente. Por isso foi realizado um procedimento que consiste no implante de uma nova prótese, sem a necessidade de retirar a antiga”, explica Torres.
A robótica é mais um investimento dos hospitais para cirurgias de alta complexidade como urológicas, oncológicas e bariátricas. Com o robô Da Vinci X, só no hospital de Curitiba, 142 cirurgias de diversas especialidades foram realizadas neste ano. Outra aposta foi o Rosa Knee, utilizado em cirurgias ortopédicas, principalmente as de joelho.