“Homem, não perca o melhor da vida! Cuide da sua saúde”. Este é o tema da campanha Agosto Azul de 2022, que tem como foco a saúde mental do homem, já que, de acordo com o Ministério da Saúde, a mortalidade masculina por suicídio no Brasil é de 9,2 para cada cem mil; quatro vezes maior que a registrada em mulheres. Os especialistas afirmam que a pandemia de covid-19 agravou ainda mais a situação, especialmente porque é natural os homens falarem pouco sobre seus problemas. O lançamento oficial da campanha na Assembleia Legislativa do Paraná, que aprovou a lei 17.099 em 2012, aconteceu no início da sessão plenária da segunda-feira, 1º, com a apresentação de um vídeo com o histórico das ações desenvolvidas nos anos anteriores.
Se os homens já costumam ir menos ao médico, a pandemia também afastou esse público dos consultórios. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 63% dos homens buscam atendimento médico com regularidade, contra 78% das mulheres. Isso ocorre porque a esfera do cuidado (e a saúde entra nela) ainda é vista como algo do universo feminino. Tanto é que, mesmo entre os homens que procuram atendimento médico, 70% deles só vão ao consultório se estiverem acompanhados, segundo o Centro de Referência em Saúde do Homem. “Notamos que, ao longo dos anos, o número de homens que têm buscado exames preventivos teve um leve acréscimo e eu atribuo isso, claro, ao incentivo das esposas e mães, mas também à realização de campanhas como o Agosto Azul”, destacou o presidente do Conselho Regional de Medicina do Paraná (CRM-PR), Roberto Issamu Yosida.
A campanha funciona como um estímulo para o poder público e a sociedade civil promoverem ações para incentivar a prevenção e a promoção da saúde do homem. Ela tem como símbolo a gravata borboleta e como apoio a iluminação, na cor azul, de prédios públicos e monumentos, entre eles o prédio da Assembleia Legislativa. “Quanto mais falarmos sobre o assunto, melhor. As campanhas são fundamentais para a discussão em torno, por exemplo, de doenças como o câncer de próstata. Uma maneira de lembrar que exames simples podem significar vida longa e produtiva aos homens”, enfatizou o médico.
E não se trata apenas do câncer de próstata. Seis de cada dez óbitos de mortes pelas doenças do aparelho circulatório, são de homens. Em muitos casos, jovens. Entre 20 e 39 anos, por exemplo, a mortalidade masculina é pelo menos o dobro da feminina.
O Agosto Azul é focado ainda em orientar a população masculina sobre a importância de manter hábitos de vida saudáveis, como alimentação correta, evitar o tabagismo e o álcool em excesso, e praticar atividade física. “Isso deve ocorrer em todo ano e não apenas no mês de agosto”, reforçou Yosida.
As quatro principais doenças que afetam os homens são o câncer de próstata; a disfunção erétil; a obesidade e as doenças cardiovasculares. No caso do câncer, 51% dos homens no Brasil nunca consultaram um urologista. A prevenção ocorre com a realização de exames periódicos a partir dos 50 anos. É fundamental o diagnóstico precoce, porque a doença não apresenta sintomas frequentes. Quando detectada em estágio inicial, as chances de cura podem chegar a 90%.
Já a disfunção erétil, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), afeta 30% dos homens brasileiros acima dos 16 anos. Ela pode ter causas orgânicas, como doenças ligadas à diabetes e obesidade, ou psicológicas, normalmente relacionadas à depressão e à ansiedade.
Em relação à obesidade, o Ministério da Saúde calcula que 17% dos homens no Brasil são obesos. O acúmulo exagerado de gordura corporal contribui para o desenvolvimento de problemas cardiovasculares, diabetes e aumento da pressão arterial. A prevenção e o tratamento incluem uma dieta balanceada e a prática de exercícios físicos. Em alguns casos, cirurgias podem ser indicadas por especialistas.
Por último, as doenças cardiovasculares, que se caracterizam pelo endurecimento das artérias causado por placas de colesterol que bloqueiam o fluxo de sangue no coração e no cérebro, podendo provocar um Acidente Vascular Cerebral (AVC) ou um ataque cardíaco. Dados do Departamento de Informática do SUS (DATASUS) mostram que 340 mil brasileiros morrem pela doença, destes, 60% são do sexo masculino.
Mais sobre a lei
A Lei 17.099/2012 instituiu no Paraná o mês de agosto como sendo dedicado à realização de ações para incentivar a prevenção e a promoção da saúde do homem. O objetivo da legislação é motivar uma mudança cultural para que homens procurem atendimento médico e verifiquem sua condição de saúde com mais frequência, antes que doenças se manifestem de forma mais grave. Exames simples como testes para diabetes, hipertensão, HIV e hepatite estão disponíveis na rede pública de saúde e podem identificar enfermidades ainda em estágios iniciais.
O objetivo é, ainda, divulgar informação para que o homem reflita, entenda, aprenda, se motive e adote hábitos de vida saudáveis. Alguns dos temas abordados pela campanha falam sobre o acesso a ações de saúde inclusivas, saúde sexual e reprodutiva, doenças prevalentes na população masculina, prevenção de violências e acidentes, a relação entre a população masculina e as violências, em especial a violência urbana, e acidentes, sensibilizando a população em geral e os profissionais de saúde sobre o tema.
O câncer está entre as quatro principais causas de morte prematura, de 30 a 69 anos, em todo o mundo. Entre a população masculina do Paraná estima-se 18.710 novos casos a cada ano, de 2020 a 2022, com 3.560 de câncer de próstata, 1.250 de câncer de colón e reto, 1.180 de traqueia, brônquios e pulmão, 900 de estômago e 720 de esôfago.
Prevenção e tratamento
A única forma de garantir a cura do câncer de próstata é o diagnóstico precoce. Mesmo na ausência de sintomas, homens a partir dos 45 anos com fatores de risco, ou 50 anos sem estes fatores, devem ir ao urologista para conversar sobre o exame de toque retal, que permite ao médico avaliar alterações da glândula, como endurecimento e presença de nódulos suspeitos, e sobre o exame de sangue PSA (antígeno prostático específico). Cerca de 20% dos pacientes com câncer de próstata são diagnosticados somente pela alteração no toque retal. Outros exames poderão ser solicitados se houver suspeita de câncer de próstata, como as biópsias, que retiram fragmentos da próstata para análise, guiadas pelo ultrassom transretal.
A indicação da melhor forma de tratamento vai depender de vários aspectos, como estado de saúde atual, estágio da doença e expectativa de vida. Em casos de tumores de baixa agressividade há a opção da vigilância ativa, na qual periodicamente se faz um monitoramento da evolução da doença intervindo se houver progressão.
Homens x mulheres: demanda por atendimento no SUS segue desequilibrada
A demanda entre homens e mulheres por atendimento médico no Sistema Único de Saúde (SUS) permanece desequilibrada, embora a distância entre os gêneros venha se reduzindo ao longo dos anos.
Um levantamento inédito da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) com dados do Sistema de Informação Ambulatorial do Ministério da Saúde indicou que em 2022 houve mais de 312 milhões de atendimentos masculinos, enquanto os femininos ultrapassam 370 milhões. No ano passado foram mais de 725 milhões em homens contra mais de 860 milhões de mulheres.
Para o coordenador do Departamento de Andrologia, Reprodução e Sexualidade da SBU, Eduardo Miranda, por uma questão cultural, o homem vai menos ao médico que as mulheres.
“Ainda há um certo tabu, muitas vezes, [eles] não têm a cultura do autocuidado e ir ao médico é visto como sinal de fraqueza. Há também a questão cultural. A menina é levada pela mãe ao ginecologista desde a primeira menstruação, enquanto o homem não vai ao médico depois que ele não precisa mais de acompanhamento regular com pediatra. Esse é um processo que precisamos trabalhar ao longo de gerações e espero que possamos ver um aumento da ida dos homens [aos consultórios] para fazer acompanhamento de rotina com o urologista”, afirmou.
A diferença na demanda entre homens e mulheres fica bem evidente nos atendimentos específicos. Neste ano, houve mais de 1,2 milhão de atendimentos femininos por ginecologistas, mas a procura dos homens por urologistas ficou em 200 mil atendimentos.
“As mulheres estão mais habituadas a realizar exames preventivos anuais e se preocupam mais com a saúde. Elas geralmente marcam as consultas para seus maridos. Mas os homens têm procurado mais o urologista por uma maior conscientização por meio de campanhas, por exemplo”, destacou o supervisor da disciplina de câncer de bexiga da SBU, Felipe Lott.
Para o presidente da SBU, Alfredo Canalini, as principais causas que afastam o homem das consultas médicas são o medo e a desinformação. “Mas as campanhas que a SBU promove ano após ano indicam uma mudança de comportamento, e já sentimos uma diferença significativa com a procura espontânea, principalmente para a avaliação da próstata”, argumentou.
A diretora de Comunicação da SBU, Karin Anzolch, ponderou, no entanto, que, apesar de os homens se mostrarem mais conscientes com relação aos cuidados com a saúde, estudos desse tipo mostram que ainda há um longo caminho a trilhar. A médica acrescentou que, por atuar em problemas extremamente impactantes na qualidade de vida e sobrevida dos homens, a Urologia apoia a causa.