O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, disse ser possível manter Israel como grande parceiro sem prejudicar a relação com países árabes. Segundo ele, reconectar o Brasil com aliados, como israelenses e americanos, sem a exclusão de outras nações está entre as linhas da política externa adotada pelo governo do presidente Jair Bolsonaro. O ministro participou de uma audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE) nesta quinta-feira (4).
Por 40 minutos, em seu discurso de abertura, o chanceler apresentou aos senadores as linhas de atuação do Itamaraty e fez um diagnósticos do que ele considera erros que vêm sendo cometidos ao longo dos anos pelos governos anteriores.
— Nos anos 1990, a política externa procurou recuperar a credibilidade afetada com a crise econômica ao longo da década de 80. Nos anos 2000, a prioridade foi a criação de um espaço sul-americano, com perspectiva excludente e ideológica, onde o processo de integração foi direcionado para isolar os governos não controlados por partidos de esquerda e propelir a região a ser fechar ao exterior — analisou.
Segundo ele, a partir dos governos dos ex-presidentes Dilma Rousseff e Michel Temer, o Brasil tornou-se um país que simplesmente deixava que as coisas acontecessem, procurando não incomodar ninguém:
— Foi uma época pouco produtiva na nossa política externa. Achando que não dizendo nada que pudesse atrapalhar, seríamos deixados de lado, sem ambição e sem visão — avaliou.
Identidade
Para Ernesto Araújo, o Brasil vinha se comportando como se fosse “um país genérico”, sem identidade própria, perante a comunidade internacional.
— De certa forma o Brasil vinha negando a si mesmo. Nessa negação, abusava-se do conceito do universalismo. Estávamos fazendo disso um dogma e acabava significando que não deveríamos ter uma identidade, uma coloração própria. Essa tendência de se negar chegou ao ponto de retirarmos o brasão da República do nosso passaporte — argumentou.
A partir desse diagnostico, o ministro informou que a meta agora é fazer do Brasil um país com sua própria voz no mundo, com influência nos rumos da política internacional, principalmente na América do Sul. E isso, segundo ele, pode incomodar.
— A intenção não é incomodar, mas, às vezes, incomodar é um resultado. Hoje, por exemplo, o Brasil incomoda o governo [do presidente venezuelano Nicolás] Maduro e os países que ainda sustentam esse regime. Incomoda aqueles que planejam um mundo sem nações, pós-nacional; aqueles que não querem que haja ideia, que não querem pensar e que querem eliminar a razão. Incomoda aqueles que não se preocupam com a soberania e pensam num mundo globalizado como uma espécie de geleia geral, sem fronteiras e sem identidades nacionais — afirmou.
Novo papel
O ministro disse acreditar que o Itamaraty precisa cumprir um novo papel. Ele afirmou que, desde que foi indicado ao cargo, assumiu o compromisso de romper o isolamento do Ministério em relação à sociedade brasileira e às discussões sobre os rumos do Brasil.
— É importante que os diplomatas não façam coisas importantes só para outros diplomatas, mas para a sociedade. E a consequência disso é a intensidade dos debates sobre politica externa na sociedade, o que suscita apoio e críticas — analisou.
Depois da apresentação inicial, o ministro passou a responder a questionamentos dos senadores.
Source: Senado