Cidades são atingidas pela poluição de queimadas do Pantanal
A fumaça proveniente dos focos de incêndio observados com intensidade desde o começo do mês na região do Pantanal, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, se deslocou para o Sul do país. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), as imagens de satélite e os modelos de direção dos ventos mostram o movimento da poluição em direção a todos os estados da região Sul do Brasil.
De acordo com a meteorologista Marlene Leal, do Inmet, a frente fria que está na região Sul vai se deslocar para o Sudeste, criando condições de chuva que podem limpar a atmosfera.
Segundo informou a Defesa Civil de Santa Catarina a fumaça é transportada pelos ventos de baixos níveis, localizados entre 1500 a 2000 m de altura, e de direção noroeste. A situação provoca a diminuição na qualidade do ar e da água da chuva que é coletada para consumo.
O Fenômeno vem sendo acompanhado pelo monitoramento meteorológico e setor de hidrologia da Defesa Civil de Santa Catarina (DCSC) que identificaram a fumaça a partir da análise de imagens do satélite Goes 16. A fumaça com características de queima de vegetação também foi visualizada na Grande Florianópolis. Com a passagem da frente fria a tendência é de mudança na direção dos ventos para quadrante Sul o que deve dissipar a presença das partículas de fumaça sobre o território catarinense.
Foi o que aconteceu na quinta-feira, 17, em Porto União e União da Vitória quando a água da chuva chegou aos municípios com uma coloração marrom.
O morador Luiz Jorge Uliniki registrou esse fenômeno e colocou nas redes sociais. “Observe a cor da água da chuva desta madrugada em Porto União da Vitória. Repleta de resíduos de poluição vindas da atmosfera, devido as queimadas da irresponsabilidade humana. É Deus fazendo uma limpeza, para purificar o ar”, escreveu junto a foto, onde mostra uma caixa D´agua com a água cheio de resíduos.
“Essa água tenho como costume de armazenar para molhar verduras e plantas frutíferas em período de não chuvas. Esse recipiente está exposto em uma pequena queda d´água de uma simples cobertura. Logo que começou a chover, notei que a água estava muito suja. Esperei alguns minutos até limpar a cobertura, despejei a água muito suja e recoloquei novamente. Para minha surpresa, ela não ficava limpa, depois de várias operações. Então resolvi deixar encher o vasilhame e fiz as fotos. Me impressionou a quantidade de poluição vindas céu abaixo”, relatou.
“Diante disso estou lançando incentivo para preservação da natureza. Nosso intuito é alertar a população dos perigos a que estamos expostos nessas chuvas ácidas, contendo inúmeros resíduos de produtos químicos além da vegetação”, disse.
Ulinik lançou em sua rede social a campanha “ A favor da Natureza – Plante árvores e flores, vamos cuidar bem do que nos foi emprestado”, incentivando o plantio. “Se juntar nossos esforços teremos um ar mais limpo, a avifauna (Conjunto das aves de uma região) preservada ajuda na saúde tanto física quanto mental. Continuamos preservando e cuidando das árvores plantadas junto a Avenida Perimetral fruto do nosso projeto, junto com o meu amigo José. Plante ou adote uma árvore frutífera. A natureza agradece, nós também”, completou.
Qualidade da água da Chuva
“A água da chuva contaminada pode conter compostos tóxicos, portanto alguns cuidados devem ser tomados se for realizar a captação em cisternas para consumo humano ou animal”, destacou o coordenador de monitoramento e alerta da DCSC, Frederico de Moraes Ruthorff
A chuva é considerada uma alternativa para a captação de água para fins potáveis ou não potáveis. Em propriedades rurais a cisterna promove a segurança hídrica e contribui para a viabilidade econômica da atividade. A utilização deste sistema deve observar algumas recomendações para o correto manejo e assim garantir a qualidade da água para os diversos usos. Esta prática está regulamentada na Instrução Normativa do MAPA nº56/2007 e o Comunicado Técnico 481 publicado pela EMBRAPA. A presença de partículas de fumaça em uma região pode impactar negativamente a qualidade da água de chuva. Com isso, é recomendada a limpeza com frequência de cada componente do sistema de captação de água de chuva.
Da mesma forma, devem ser analisados os parâmetros de qualidade da água, como o pH, sólidos totais dissolvidos, amônia, nitrato, cloro residual livre, coliformes termotolerantes e Escherichia coli. Com as emissões presentes sobre o Estado outros parâmetros podem ser analisados como os tipos de agroquímicos, cobre, zinco, ferro, substâncias provenientes da queima de biomassa (marcadores de queimadas), etc.
Análises da qualidade do ar das regiões com predomínio de uso de cisternas para produção animal também são altamente recomendadas para identificar a possibilidade de chuva contaminada.
Algumas cidades de Santa Catarina ainda registraram o fenômeno da “chuva negra”, resultado da chegada da fumaça das queimadas do Pantanal que se junta à alta carga de poluição atmosférica produzida na cidade. Segundo pesquisadores, embora o acúmulo de material particulado no ar aumente riscos para saúde e possa provocar problemas respiratórios, a chuva, em si, tem maior potencial de poluir rios e mananciais – sem grandes impactos para pessoas, casas ou veículos.
O aumento da fumaça sobre o estado vai favoreceu também a interação deste material particulado com a luz do sol, podendo provocar tons alaranjados e avermelhados durante o pôr do sol. Fato esse registrado também em nossas cidades.
Queimadas
Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o Brasil já registrou este ano 139.316 focos de queimadas, sendo 48.186 apenas em setembro e 5.342 nas últimas 48 horas. Na divisão por estado, o Inpe indica atividade fortíssima de queimadas em setembro nos estados do Mato Grosso e Pará, com mais de 7 mil focos no período em cada estado, e atividade também bastante elevada no Amazonas, Tocantins e Maranhão, onde foram mais de 3 mil focos em cada até o dia 16 de setembro. O governo federal liberou R$ 10 milhões para combater o incêndio no Mato Grosso. A perícia indicou que o fogo foi intencional.
Voluntários
As forças de segurança do Paraná vão colaborar no combate às queimadas na região do Pantanal, no Mato Grosso do Sul. Por determinação do governador Carlos Massa Ratinho Junior, 31 bombeiros militares foram para Corumbá, base fixa da comitiva paranaense no Estado vizinho, começando os trabalhos de campo.
Além disso, o Governo vai disponibilizar sete caminhões de combate a incêndios e equipamentos especializados como abafadores, enxadas e mochilas. Um drone também ajudará na localização dos focos de fogo. Um novo grupo, com oito homens, seguirá com os veículos para o Pantanal também nesta quarta.
O secretário de Estado da Segurança Pública, Romulo Marinho Soares afirmou que a integração e união entre forças de segurança interestaduais é essencial, principalmente nos momentos de crise. “É um caso muito triste e que devemos ajudar com o que tiver ao nosso alcance. Estamos prestando todo o apoio necessário para as forças de segurança atuantes no Mato Grosso do Sul”, disse.
De acordo com o comandante do Corpo de Bombeiros do Paraná, coronel Samuel Prestes, a iniciativa do Paraná reforça a condição da corporação de ser um exemplo no País. “A ação mostra integração, solidariedade e também a importância que o Paraná tem no cenário nacional”, ressaltou.
Segundo ele, o apoio ao Mato Grosso do Sul não vai causar nenhuma deficiência no atendimento prestado à população paranaense. “Esse apoio será sem prejuízo das atividades aqui no nosso Estado. Continuaremos com as equipes combatendo os incêndios florestais também aqui no Paraná. É um período em que as queimadas aumentam bastante”, disse Prestes.
Ele explicou que o grupo estará equipado com o chamado Kit Pickup que transforma a viatura num pequeno caminhão de combate a incêndio florestal. “As viaturas são 4×4 e podem entrar em qualquer terreno”, completou o coronel.
Inicialmente, explicou o tenente-coronel Ezequias de Paula Natal, comandante da missão Pantanal, os representantes do Corpo de Bombeiros do Paraná ficarão na região por 15 dias. Mas, segundo ele, o prazo pode ser prorrogado de acordo com necessidade da atividade. “Tudo vai depender do desenvolvimento da operação”, afirmou.
O comandante lembrou que a ação vai além da preservação do meio ambiente. “É uma questão de saúde também. Diminuir os focos de incêndio significa menos quantidade de fumaça no ar, com reflexo imediato na respiração das pessoas”, comentou Natal.