As eleições municipais exigem cidadãos críticos e responsáveis

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Estamos em plena Campanha Eleitoral, desta vez, no dia 15 de novembro, serão eleitos ou reeleitos, Prefeitos, Vice-prefeitos e Vereadores. No último artigo refletimos sobre a “Pós-verdade em tempo de campanha eleitoral”. Hoje apresentaremos ideias sobre a importância da participação do cidadão para escolher seus representantes com critérios éticos e responsabilidade cidadã. Podemos encarar esta reflexão desde diversos ângulos. Algumas das ideias que citaremos neste espaço tem por objetivo fomentar a reflexão e a consciência critica de todos nós eleitores.
Como já assinalava o Papa Paulo VI, na sua “Octogesima adveniens” de 14 de maio de 1971, “tomar a sério a política, nos seus diversos níveis – local, regional, nacional e mundial – é afirmar o dever do homem, de todos os homens, de reconhecerem a realidade concreta e o valor da liberdade de escolha que lhes é proporcionada, para procurarem realizar juntos o bem da cidade, da nação e da humanidade”. A política sempre foi e será relevante.
Vale lembrar, que em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz em 2019, o Papa Francisco, ressaltou a importância da boa e verdadeira política que tanto falta hoje em todo o mundo, “A vida política autêntica, que se funda no direito e num diálogo leal entre os sujeitos, renova-se com a convicção de que cada mulher, cada homem e cada geração encerram em si uma promessa que pode irradiar novas energias relacionais, intelectuais, culturais e espirituais. Uma tal confiança nunca é fácil de viver, porque as relações humanas são complexas. Nestes tempos, em particular, vivemos num clima de desconfiança que está enraizada no medo do outro ou do forasteiro, na ansiedade pela perda das próprias vantagens, e manifesta-se também, infelizmente, a nível político mediante atitudes de fechamento ou nacionalismos que colocam em questão aquela fraternidade de que o nosso mundo globalizado tanto precisa”.
Para o psicólogo social Jon Krosnick, da Universidade de Stanford, ajuda a entender o dilema que o eleitor enfrenta na hora de eleger um candidato, “os eleitores podem ser classificados com base nesses três tipos de escolha. Há quem prefira votar em quem partilha as mesmas opiniões políticas ou ideológicas – normalmente, são os que já decidem em quem votar no começo da corrida, com base, por exemplo, no partido. Outros eleitores preferem dar seu voto em quem acham que será mais capaz de administrar a cidade – uma pergunta cuja resposta não só varia de pessoa para pessoa, mas que pode mudar ao longo da campanha. E há os que decidem de acordo com o que sabem do passado dos candidatos – e que, por isso, também estão sujeitos a mudar de opinião no decorrer dos debates eleitorais”.
Em um enfoque mais próximo da nossa realidade brasileira, o sociólogo, Rudá Ricci, ressalta que, “Sérgio Buarque de Holanda nos alertou sobre a necessidade do brasileiro médio (que José de Souza Martins denominou de “homem simples”) em se sentir íntimo dos que se apresentam como poderosos. Uma espécie de informalidade permanente que faz o outro jogar no seu campo, ao menos por alguns momentos. Isto sempre foi uma característica das campanhas eleitorais municipais no Brasil: o contato direto e a troca de favores. Trata-se de um dos poucos momentos em que o “dono da bola” vai à casa do pobre, do favelado, e até dá a mão ao comerciário que o olha pelo canto dos olhos enquanto passa a caravana festiva, reluzente, o staff composto por jovens de cabelo engomado seguidos por outros, mais jovens, com roupas justas e provocativas, portanto bandeiras pré-fabricadas ao embalo de jingles com músicas do gosto popular (e há quem imagine que o pobre da comunidade não percebe o jogo falso e dissimulado do candidato!)”.
Para interpretar, a ethos social numa eleição municipal, é importante uma análise não linear, o que segundo o Sociólogo Ricci, todas as instâncias sociais precisam ser analisadas, neste sentido, afirma, “não existe exatamente linha reta entre eleição e revolta popular. Porque eleição municipal não tem espaço para revolta. Só para uma troca entre malandros. O malandro candidato, que se esquecerá de todos após a eleição; e o malandro da comunidade, que sabe que será atendido por assessores, se tiver sorte, se o malandro candidato se eleger. O raciocínio linear – e academicista – não consegue entender o que ocorre. Uma espécie de conflito cognitivo que, ao contrário do que esperava Piaget, não causa aprendizado. Por ser um raciocínio linear e primário, não consegue entender que o mundo social não é matemático e lógico, mas elíptico, manhoso, contraditório”.
Marcelo Barros, monge beneditino, escritor e teólogo brasileiro, lembra que, “O Concilio Vaticano II afirmava que Deus não quis nos salvar individualmente, mas nos unir em comunidade (Lumen Gentium 2). Por isso, a Política é uma arte sublime e importante. Todos nós fazemos Política o tempo todo. Política é como respiração. Sem respiração, morremos. Além da Política como exercício do poder, existe uma política de base que consiste na participação social em grupos e organizações que buscam transformar a sociedade. Seja como parlamentar ou prefeito de um município, seja como militante político nas bases, o cidadão ou cidadã vive a Política como vocação pessoal. Como vocação, a Política é a mais nobre das atividades. Se for apenas para ganhar dinheiro ou para ter poder e prestígio, a Política se torna a profissão mais vil e vergonhosa”.
Ainda, segundo Barros, o voto da cada um de nós, podem ajudar a construir uma sociedade mais justa ou pode perpetuar os velhos vícios, sejam elas da corrupção ou do coronelismo, “Para votar nessas eleições com coerência espiritual é preciso ser dócil ao Espírito de Deus em nós e não seguir critérios de interesse pessoal, de família ou votar apenas por relação de amizade. Como diz uma campanha popular: “Voto não tem preço. Tem consequências”. O nosso voto pode ajudar a construir uma sociedade mais justa, ou pode, ao contrário, perpetuar os velhos vícios do sistema vigente. No Brasil, muitos políticos que pareciam éticos e coerentes, hoje revelam claramente ter trocado um projeto de país por um mero projeto de poder pessoal ou partidário. Entretanto, seja como for, todos os políticos e partidos não são iguais ou equivalentes. Mesmo se, em muitos casos, ainda somos obrigados a votar no menos pior, é importante discernir entre as diversas escolhas possíveis, a que nos parece ser a mais justa e adequada para o bem comum”.
O tempo de Campanha Eleitoral é tempo propicio para conhecer e discernir as propostas de todos os candidatos. Avaliar as propostas, debater ideias, para depois, uma vez eleitos, possam ser cobrados para cumprir a promessa que fizeram no processo eleitoral.

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