O Instituto Santo Alberto Magno, do Seminário Diocesano Rainha das Missões, de União da Vitória, promoveu no dia 1º, a Aula Inaugural de abertura do ano acadêmico 2018. Leigos de diversas Pastorais e Movimentos, religiosos e membros do clero da diocese se fizeram presentes na palestra que era aberta ao público, para ouvir as reflexões trazidas pelo bispo e teólogo, Dom Leomar Brustolin, da arquidiocese de Porto Alegre (RS).
Além de coordenar o curso de pós-graduação da teologia, na Pontifícia Universidade Católica de Porto Alegre (PUC- RS), Dom Leomar faz parte da Comissão Episcopal Pastoral para a Doutrina da Fé, da CNBB, e trouxe reflexões sobre a crise de fé no mundo atual. Dom Leomar iniciou sua colocação citando o Filósofo austríaco Martin Buber (1878-1965), comentando uma reflexão feita da passagem do Livro do Gênesis (3,9), quando Deus chama Adão, perguntando onde ele estaria e por onde andava. “Deus sabia onde Adão estava, mas quis provocar Adão perguntando a ele onde ele se perdeu no Paraíso. Nós devemos também nos perguntar onde estamos nós, qual a realidade de cada um e que vida cada um está vivendo?”, motivava o bispo.
A crise de fé segundo o teólogo, vem provocada também pela mudança de época à qual se vive. “Alguns estudiosos já dizem que não vivemos uma mudança de época, mas uma metamorfose, uma transmutação, e nesse contexto vemos que os feriados católicos ainda permanecem, mas os valores da fé cristã estão sendo perdidos”, situava ele.
Baseando também seus argumentos no historiador americano Lifton (1926), Dom Leomar diz que o processo de mudança está sendo gerado por uma desorganização histórica, por uma ideologia fragmentada e uma busca de imortalidade. “Estamos esquecendo a importância da história que nos mostra o risco dos erros; não se recorda mais o passado e nem se pensa no futuro. Muitos hoje não vivem por um ideal, querem viver somente o agora mas buscando garantir sua imortalidade aqui. Tudo isso gera uma falta de fé e de esperança nas pessoas em lutar por algo novo, cada um pensa somente em si”, alertava o teólogo.
Segundo Dom Leomar, para se voltar a reavivar a fé, é necessária voltar o foco na pessoa de Jesus Cristo. A própria atividade da Igreja precisa ser repensada para se poder evangelizar com mais profundidade. “Vivemos mergulhados em muita reunião, muita atividade e pouco foco em Jesus. Cuidado com a pastoral que multiplica muitos eventos e não faz progressos na fé. Muito evento não significa que estamos crescendo na fé”, alertou ele.
Em uma época em que vive-se muito do fazer, Brustolin diz que a fé parte primeiro do ser e se revela depois no fazer. “Ninguém conseguirá transmitir a fé se não tem fé; ninguém dá o que não tem, por isso, precisamos urgentemente de uma nova catequização, para formar a mentalidade das novas gerações para uma autêntica vida de fé, ainda que Jesus me peça aquilo que eu não gostaria de fazer, como perdoar, tolerar. Devemos ser discípulos de Jesus e não adeptos dele”, exortou o palestrante, criticando alguns grupos fanáticos das redes sociais.
Ao falar dos trabalhos nas paróquias para auxiliar os fiéis a fazer um caminho de fé, o bispo afirma a importância de se investir no processo de Iniciação à Vida Cristã, pela catequese. “Para muitos católicos hoje é preciso um segundo anúncio da Mensagem cristã, pois esfriaram em sua fé, e para as novas gerações é preciso se repensar a metodologia à qual estamos usando para iniciá-los na fé. Muitas dioceses do Paraná já estão dando passos nesse processo”, comentou Dom Leomar, incentivando.
Durante sua palestra, o bispo citou também alguns Documentos dos papas que podem auxiliar os cristãos a refletir sobre o processo e a importância da fé. Os Documentos citados foram Porta Fidei (Porta da Fé), do papa Bento XVI, publicado ao abrir o Ano da Fé (2012-2013); a Carta Encíclica Lumen Fidei, (A Luz da Fé), do papa Francisco (2013), e a Evangelii Gaudium (Alegria do Evangelho), também do papa Francisco, publicada em novembro de 2013.