Resgatando sorrisos: odontologia avança com novas tecnologias e democratizar acesso é principal desafio

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Problemas na saúde bucal podem causar impactos no corpo como um todo. De demência a AVC, passando por diabetes e até câncer. Mas há reflexos diretos em funções básicas como comer e se comunicar, que são prejudicadas pela falta de um ou mais dentes ou ainda pelo desalinhamento deles. A última Pesquisa Nacional de Saúde, divulgada em 2020, pelo IBGE, mostrou que mais de 14 milhões de brasileiros vivem sem nenhum dente e outros 34 milhões perderam 13 ou mais dentes ao longo da vida. Um contraste quando se observa que o Brasil é historicamente um dos países com mais dentistas no mundo; cerca de um a cada cinco dentistas ao redor do planeta são brasileiros. De acordo com dados do Conselho Federal de Odontologia (CFO), em outubro, já chegava a quase 382 mil cirurgiões-dentistas no país. Um cenário que permite acreditar que é possível aumentar as chances de acesso da população a tratamentos odontológicos.

“Acompanhar o primeiro olhar no espelho depois que o paciente recupera o sorriso é uma sensação única. Isso motiva nosso trabalho e a pensar em novas soluções na odontologia”, afirma o dentista Geninho Thomé, com mais de 40 anos de profissão. “Ter todos os dentes vai muito além da estética, pois eles são um resgate da autoestima e de funções como mastigação e dicção”, complementa.

Acesso

É no intervalo entre uma consulta e outra que muitos desses profissionais se dedicam a pesquisas e ao desenvolvimento de novas técnicas e produtos que fazem com que essas mudanças de vida possam se tornar realidade para um universo maior de brasileiros. No caso do paranaense Geninho Thomé, o sonho era tirar a dentadura como futuro certo de grande parte da população. A principal alternativa eram os implantes de titânio, usados no mundo todo devido à sua segurança, durabilidade e facilidade no tratamento. “Mas, na década de 90, os implantes duradouros e confiáveis eram importados e caros e eu queria algum que fosse mais acessível para os meus pacientes e para os de outros colegas”, relembra. Depois de alguns anos de análises e protótipos feitos com uma barra de titânio trazida dos Estados Unidos, Geninho fundou a indústria de implantes dentários Neodent, que se tornaria a principal marca do setor do Brasil e uma das três maiores do mundo.

Quase 30 anos depois, os estudos na área seguem, com o uso de novos materiais que trazem características como flexibilidade, estabilidade e estética. Ao longo de cinco anos, pesquisadores brasileiros estiveram envolvidos com profissionais da Alemanha e Suíça para desenvolver um novo implante, agora em cerâmica. Para isso foram desenvolvidos novos processos de fabricação, como a manufatura aditiva por injeção de material, que resulta em uma fábrica com menor impacto ambiental e mais limpa por gerar muito menos dejetos industriais. “Além disso, tecnologia, à qual demos o nome de Neodent Ceramic Implant System, possui a mesma resistência e qualidade de um implante de titânio, mas com o diferencial da coloração branca do material, o que deixa o aspecto mais natural e semelhante à raiz do dente”, comenta Geninho, que liderou a equipe no Brasil.

Implantes

A rotina dos profissionais envolvidos nos tratamentos em busca da recuperação do sorriso do brasileiro também mudou. Há pouco tempo, era necessário aguardar muito tempo e várias consultas para colocar uma prótese total na boca de um paciente. Agora, ela pode ser feita em 30 horas.

O material de moldagem usado na moldeira, que antes causava desconforto nos pacientes, foi substituído pelo scanner 3D, que permite a visualização total da anatomia da boca e garante a precisão milimétrica na construção das próteses dentárias. “As informações do formato correto vêm de um software e a prótese fica pronta em menor tempo. Ela se encaixa no espaço vazio da boca do paciente de forma muito mais precisa, sem a necessidade de novas adaptações”, explica o diretor de novos produtos e prática clínica da Neodent, Sérgio Bernardes.

Mas, independentemente da técnica aplicada, profissionais da odontologia são unânimes em dizer que embora tenha muita tecnologia envolvida e materiais melhores do que os antigos, nada substitui o olhar clínico do profissional que atende o paciente na cadeira. “É o dentista quem precisa ver se os procedimentos podem ser realizados, se existem problemas prévios que devem ser tratados antes de qualquer cirurgia e qual a melhor técnica para devolver a mastigação e autoconfiança”, destaca Sérgio.

Alinhamento

E não é só a falta de dentes que impacta a qualidade de vida dos pacientes. Dentes desalinhados também podem levar a problemas sérios de autoestima e funcionais. Com o avanço da tecnologia fortemente na área ortodôntica, o tratamento com alinhadores transparentes vem conquistando o mercado brasileiro, que, além de proporcionarem resultados mais previsíveis, principalmente para adultos que não tiveram essa oportunidade na infância, leva maior conforto ao paciente. “Os alinhadores transparentes são feitos após uma análise minuciosa da oclusão do paciente, e isso inclui o mapa digital que indica os próximos passos de cada tratamento”, esclarece a dentista e especialista da ClearCorrect, Caroline Aranalde.

Com os alinhadores transparentes, os dentes são ajustados de forma mais discreta e o acompanhamento com o dentista pode ocorrer de forma mais espaçada, pois é possível dar ao paciente mais de um par de alinhadores para trocar em casa. Esta troca pode ser acompanhada pelo dentista de forma remota, sem a necessidade de visitas mensais. “Claro que nesse processo, cada caso é analisado individualmente. Mas o bacana é que o paciente já consegue visualizar no início como ficarão os dentes ao fim do tratamento”, conta Caroline.

Futuro

Para os próximos anos, já se vislumbra o uso de dispositivos integrados às próteses dentárias que podem, por exemplo, medir o índice glicêmico. Mas tudo isso é feito a partir do olhar atento do dentista, seja na pesquisa ou na aplicação das novas técnicas. “Se tem uma área em que me sinto realizado é na minha profissão. A oportunidade de fazer cirurgias, ensinar outros profissionais e impactar a vida de um grande número de pessoas é algo incomparável”, finaliza Geninho.

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