A Prefeitura de Porto União através da Secretaria Municipal de Agricultura orientou sobre sementes asiáticas não solicitadas enviadas pelos correios.
Segundo a secretaria nos últimos meses, várias pessoas têm recebido pelos correios, ao redor do mundo, sem que tenham sido solicitadas, sementes de origem nos países asiáticos.
O vereador de Porto União, Sandro Calikoski, informou na sessão de 30 de novembro, que familiares receberam pelos correios sementes oriundo da Ásia, e pediu que tanto as secretarias estaduais e municipais passassem orientações de como proceder, ao receber as sementes.
O Secretário Municipal de Agricultura de Porto União, Alceu Jung emitiu uma nota de esclarecimento e orientação no facebook da prefeitura.
“A Secretaria Municipal de Agricultura de Porto União orienta que o munícipe não abra a embalagem, não semeie e não jogue no lixo o seu conteúdo. Caso tenha recebido o material suspeito, o correto é entrar em contato com a Secretaria Municipal de Agricultura pelo telefone 3522 2327 ou entregar pessoalmente. Os pacotes estão sendo recolhidos e encaminhados à CIDASC (Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina) que é o órgão responsável pela analise desse tipo de material”, orientou.
Segundo a prefeitura o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa)— órgão que fiscaliza a entrada de material de multiplicação vegetal sem importação autorizada no Brasil — também fez um alerta para que a população tenha cuidado e não abra os pacotes e encomendas sem o devido conhecimento.
Em estudos já realizados pelo Ministério da Agricultura, nesses envelopes, já foram encontrados fungos, bactérias e até insetos vivos. As sementes recebidas podem afetar lavouras e principalmente a saúde do ser humano já que não se sabe sua procedência e nem a intenção de quem as enviou. Apesar de parecerem inofensivas, as sementes clandestinas podem estar contaminadas, disseminar pragas e doenças e, assim, causarem sérios prejuízos econômicos e danos do ponto de vista da defesa sanitária vegetal.
O comunicado ainda informa que “Aparentemente o envio das sementes não parece ter objetivo de prejudicar os destinatários e sim fraudar os sistemas de ranking de vendas on line de grandes sites internacionais. Essa prática é conhecida por “brushing”. Mesmo assim, espécies não nativas inspiram cuidados e por isso as autoridades sanitárias recomendam sua destinação correta”, afirma.
Mapa
O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) reforçou os cuidados com pacotes de sementes vindos de países asiáticos que têm chegado aleatoriamente pelos Correios para brasileiros. Em entrevista coletiva à imprensa, o secretário de Defesa Agropecuária da pasta, José Guilherme Leal, disse que, das 27 unidades da federação, apenas no Maranhão e Amazonas não houve entrega desse tipo de material às autoridades sanitárias.
Orientações
A orientação às pessoas que receberem esse tipo de material é não abrir os pacotes e entrar em contato com a Superintendência Federal de Agricultura do estado ou o órgão estadual de defesa agropecuária para providenciar a entrega ou recolhimento do material. Esse procedimento também deve ser adotado no caso de sementes que já tenham sido plantadas.
Para facilitar a investigação, a embalagem original, embora possa ter informações falsas sobre a origem, deve ser preservada. Não há nenhum tipo de punição a quem entregar esse tipo de material às autoridades, pelo contrário, segundo Leal, essa é uma grande contribuição que a população pode dar.
A importação de material de propagação vegetal, incluindo sementes e mudas, é controlada pelo Mapa e deve atender a requisitos de fitossanidade, qualidade e identidade. As regras estabelecidas pela pasta se aplicam para qualquer modalidade de compra e aquisição, incluída a compra eletrônica com entrega via remessa postal. Na avaliação do Ministério da Agricultura, em muitos casos, esses produtos entram no país, em pequenas quantidades, porque quem compra quer colocar determinada planta em casa ou no jardim e não sabe que adquirir o material dessa forma é proibido e pode trazer sérios riscos.
Análises
Até agora, 258 pacotes com sementes foram levadas ao Mapa para análise e as análises preliminares em 39 amostras já identificaram a presença de ácaro vivo em uma delas e de fungos de três tipos diferentes em 25. Em duas análises, foi detectada presença de bactérias, que ainda precisam ser identificadas. Os técnicos também constataram quatro plantas quarentenárias, ou seja, que não existem no Brasil.
Brushing scam
Segundo as autoridades brasileiras, o caso é inédito no mundo e chamou atenção pelo fato de os pacotes terem sido enviados sem que tivessem sido solicitados. Não há elementos para afirmar que foi uma ação intencional para introduzir organismo patogênico no Brasil. Apesar disso, o risco para agricultura existe, segundo o secretário de Defesa Agropecuária.
Por enquanto, apenas o Ministério da Agricultura investiga a situação e não há polícia envolvida na apuração dos fatos. O ministério está em contato com os órgãos de defesa agropecuária de outros países que receberam conteúdo semelhante para tentar identificar de onde teriam partido as remessas. Até o momento, tudo indica que o envio faz parte de uma ação conhecida como brushing scam.
Nessas situações, grandes plataformas internacionais de vendas online, como Alibaba e AliExpress, utilizam a técnica para aumentar o seu ranqueamento, com base na avaliação dos clientes e o volume de vendas. Para aumentar essas vendas, algumas plataformas começaram a enviar produtos para pessoas fake, ou eles mesmos comprarem as suas mercadorias. Também há casos em que a estratégia é enviar um produto adicional, como se fosse um brinde para o cliente, com o objetivo de obter uma melhor avaliação.
Números
Para impedir a entrada desse tipo de material, que pode ter alto potencial de disseminar pragas pelo país, o Brasil tem um Centro de Distribuição em Curitiba que concentra e faz a triagem de pacotes de até 3 quilos. A unidade recebe, por dia, cerca de 250 mil pacotes. Os volumes passam por um scanner para identificar se há algum tipo de planta ou semente. Para refinar ainda mais a busca, cachorros fazem trabalho de rescaldo para impedir o ingresso desses produtos.
Segundo balanço divulgado pelo Ministério da Agricultura, no ano de 2019, foram apreendidos 2 mil pacotes, por mês, em Curitiba. Neste ano, somente no primeiro semestre, o volume mensal de caixas e envelopes interceptados chegou a 5 mil, aumento de 150%. Esses volumes foram apreendidos, devolvidos ou incinerados na própria unidade. Em todo ano de 2020, já foram interceptados 37,7 mil pacotes; destruídos, 26.111; e devolvidos, 2.383.
A Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar) está monitorando os casos de recebimento de pacotes de sementes no Estado originários de países asiáticos.
Desde setembro, quando começaram a ser registrados os primeiros casos no Paraná, a Adapar coletou 34 pacotes de sementes, sendo que a maioria foi recebida pelos destinatários sem que houvesse nenhum tipo de solicitação. No entanto, mesmo as pessoas que compraram as sementes têm procurado a Adapar para entregar o material.
Os casos foram registrados nos municípios de Curitiba (9), Colombo (1), São José dos Pinhais (1), Campo Mourão (2), Guarapuava (1), Paranavaí (4), Marechal Cândido Rondon (1), Cascavel (1), Maringá (2), Londrina (1), Fazenda Rio Grande (1), Mauá da Serra (1), Ponta Grossa (1), União da Vitória (1), Pato Branco (1) Icaraíma (1), Iporã (1), Marmeleiro (1), Rolândia (1), Jacarezinho (1) e Palmeira (1).
De acordo com o gerente de Sanidade Vegetal da Adapar, Renato Rezende Young Blood, as sementes representam risco para a economia paranaense, pois podem trazer pragas, doenças e até mesmo plantas daninhas que não existem no país, capazes de causar prejuízos à agricultura e ao meio ambiente.
Logo que o Brasil registrou a primeira ocorrência, a Adapar elaborou um plano de ação para reduzir o risco fitossanitário. “Assim, quando houve o primeiro caso no Paraná, o plano foi rapidamente encaminhado para todas as nossas unidades”, disse Renato.
Os técnicos da Adapar encaminham os pacotes de sementes ao Ministério, que os envia para o Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA) de Goiânia.
No Paraná, também foram registrados dois casos de pessoas que plantaram as sementes, em Maringá e Londrina. Segundo o gerente de Sanidade Vegetal da Adapar, há medidas específicas com relação às plantas eventualmente originadas do material importado. “Quando isso ocorre, os fiscais têm ido ao local e coletado todas as plantas, incluindo raízes, substrato e amostra do solo”, diz. O material é encaminhado ao Centro de Diagnóstico Marcos Enrietti, laboratório da Adapar, onde serão feitas análises para identificar a eventual ocorrência de pragas.
“Também são realizados estudos a fim de possibilitar a identificação botânica do material, para indicar qual é a espécie da planta. Isso nos possibilitará saber se ela é daninha ou não”, acrescenta Renato.