Atividade de Serviços Aponta Perda de Fôlego no 4º Trimestre
A economia brasileira começa a exibir sinais de desaquecimento, sobretudo no setor de serviços. Em novembro, a receita real do segmento recuou 0,9% frente ao mês anterior, abaixo da projeção de -0,5%. Ainda assim, o indicador cresceu 1,5% na média móvel trimestral. Serviços ligados a transporte rodoviário de cargas, além de atividades profissionais e administrativas, foram os mais afetados. Em contrapartida, as categorias voltadas às famílias mantiveram bom desempenho em novembro, refletindo a resiliência do consumo doméstico. Apesar de se manter em nível elevado, o setor de serviços tende a moderar o ritmo de crescimento nos próximos meses.
IBC-Br Indica Ritmo Fraco em Novembro
O Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), referência mensal para o Produto Interno Bruto (PIB), avançou apenas 0,1% em novembro comparado a outubro, resultado que coincide com as expectativas do mercado. A desaceleração do setor de serviços, somada ao recuo da produção industrial e à queda das vendas varejistas, compôs o cenário de menor tração econômica no período.
Projeções: Crescimento mais Modesto para 2025
A expectativa é de que o PIB brasileiro registre expansão de 2,0% em 2025, após alta de 3,6% em 2024. Entre os fatores que embasam esse cenário estão o avanço recente da inflação, o cenário de juros mais elevados e a redução dos estímulos fiscais, o que tende a limitar o ritmo de crescimento na próxima temporada.
Reforma Tributária: Sancionada Primeira Regulamentação
Na quinta-feira, o Presidente da República aprovou a primeira legislação complementar que organiza a reforma tributária sobre o consumo. A Lei Complementar nº 214/2025 criou dois tributos – o Imposto sobre Bens e Serviços (IBS) e a Contribuição sobre Bens e Serviços (CBS) – que substituirão PIS, Cofins, ICMS e ISS. A sanção manteve pontos sensíveis, como incentivos fiscais a refinarias localizadas na Zona Franca de Manaus e regras de tributação para plataformas digitais. No entanto, foi vetada a isenção destinada a fundos imobiliários (FII) e Fiagros, como estruturas.
De acordo com estimativas do governo, a alíquota padrão do IBS/CBS deve chegar a 28,5%, superando a da Hungria (28,0%), atualmente a maior do mundo. Em média, porém, a taxa deve ficar em torno de 22% em razão de diversos regimes especiais concedidos a produtos e serviços específicos. A regulamentação do comitê que administrará o IBS, assim como a definição da partilha de receitas entre entes federados, compõe a próxima etapa dessa reforma.
Cenário Externo
China Cumpre Meta de Crescimento, mas Incertezas Persistem
O Produto Interno Bruto da China aumentou 5,4% no quarto trimestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano anterior, superando a previsão de 5,0% e o resultado de 4,6% observado no trimestre anterior. Dessa forma, o governo chinês atinge a meta de 5,0% estabelecida para 2024, apoiado por um conjunto de medidas de incentivo adotadas desde setembro passado. Apesar do bom resultado, o desemprego urbano subiu de 5,0% para 5,1% em dezembro, e a renda disponível das famílias avançou 4,4%, abaixo do ritmo da economia.
Para 2025, analistas seguem cautelosos: a demanda interna não acompanha o mesmo ritmo da produção, elevando riscos de deflação. Adicionalmente, o futuro presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, planeja impor uma tarifa extra de no mínimo 10% sobre produtos chineses, ampliando incertezas comerciais.
Alívio na Inflação dos EUA…
Nos Estados Unidos, o núcleo do Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) – que exclui itens como alimentos e energia – aumentou 0,2% em dezembro ante novembro, abaixo do consenso do mercado. No acumulado de 2024, a taxa atingiu 3,2%. Já o indicador geral subiu 0,4% no mês, encerrando o ano com alta de 2,9%, patamar ainda superior à meta de 2,0% do Federal Reserve. A boa surpresa no CPI – sobretudo no grupo de serviços – fez recuar os rendimentos dos títulos do Tesouro americano e trouxe novo fôlego às bolsas.
O Índice de Preços ao Produtor (PPI, na sigla em inglês) também subiu apenas 0,2% em dezembro, acumulando 3,3% em 2024, abaixo dos 3,5% previstos.
Contudo, Atividade Forte Mantém Cautela do Fed
Ainda nos EUA, as vendas no varejo tiveram alta de 0,4% em dezembro, após avanço de 0,8% em novembro. A taxa anual, comparando dezembro de 2024 com dezembro de 2023, atingiu 3,9%. Ao se observar o núcleo do varejo – indicador que exclui setores como automóveis, combustíveis, construção e alimentação fora do lar –, o aumento foi de 0,7% em dezembro, contra 0,4% no mês anterior. Já a produção industrial subiu 0,9%, superando a projeção de 0,2%.
O conjunto desses dados evidencia a força do consumo e justifica a cautela do Federal Reserve na condução da política monetária. O cenário-base aponta para mais dois cortes de 0,25 ponto percentual nos juros em 2025, situando a taxa final em 3,75% a 4,00%. Há, no entanto, o risco de o banco central americano preferir manter os juros inalterados ao longo deste ano.
Debate Interno no BCE sobre Política de Juros
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) divulgou a ata de sua última reunião, na qual reduziu as taxas de referência em 0,25 ponto percentual no dia 12 de dezembro – a taxa de depósito, por exemplo, passou de 3,25% para 3,00%. O documento revela dissenso entre os dirigentes: enquanto alguns defendiam um corte maior, de 0,50 p.p., em resposta à atividade econômica fragilizada, outros temiam que uma decisão mais agressiva pudesse afetar a credibilidade do BCE. Sem fornecer pista clara sobre os próximos passos, a instituição reforçou o compromisso de avaliar dados e definir a estratégia em cada reunião.
Petróleo Oscila, mas Fecha Estável
O barril do petróleo tipo Brent encerrou a semana cotado a cerca de 80 dólares, após variações expressivas nos dias anteriores. Pesaram sobre os preços, de um lado, as novas sanções americanas ao setor de energia da Rússia e o anúncio da Opep+ de que a demanda global pode crescer em 2025. De outro, o acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas na Faixa de Gaza contribuiu para aliviar a pressão. Vale lembrar que, na segunda metade de dezembro, o barril chegou a se aproximar de 70 dólares.
Para o Brasil, a cotação elevada do petróleo costuma impactar positivamente a arrecadação de impostos, mas também exerce pressão inflacionária. A Petrobras, inclusive, deve analisar possíveis reajustes nos preços de combustíveis em seu próximo encontro de Conselho, já que a gasolina e o diesel comercializados no país estão abaixo do valor internacional.
Mercado de Ações
O Ibovespa subiu 2,8% em reais (3,8% em dólares), encerrando a semana aos 122.350 pontos. No exterior, os índices americanos registraram desempenho positivo (S&P 500, +2,9%; Nasdaq, +2,8%), impulsionados pelo núcleo da inflação ao consumidor abaixo das estimativas, além de bons resultados de instituições financeiras. Os rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA caíram, com a taxa de 10 anos finalizando a semana em 4,63%. Já as bolsas chinesas também apresentaram ganhos (CSI 300, +2,1%; HSI, +2,7%), refletindo indicadores de atividade econômica mais sólidos, como o PIB do quarto trimestre e os dados de varejo e produção industrial.
A combinação de menor aversão ao risco internacional e melhora no panorama de commodities, favorecida pelo otimismo em relação à China, impulsionou as ações brasileiras. O dólar também cedeu 0,5%, encerrando cotado a R$ 6,08. No plano político, o governo federal revogou uma norma da Receita que disciplinava o monitoramento de movimentações financeiras, após críticas sobre o alcance das medidas.
No âmbito corporativo, a Petz (PETZ3) liderou as valorizações da semana (+10,1%), em meio a notícias de que a fusão com a Cobasi pode ser autorizada pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) ainda no primeiro trimestre. Azul (AZUL4) também se destacou (+7,0%) ao anunciar a assinatura de um Memorando de Entendimento (MoU) com a Abra – holding controladora da Gol (GOLL4, +6,9%) – para discutir uma potencial fusão. Entre os desempenhos negativos, a Marfrig (MRFG3) recuou 8,2%, devolvendo parte dos ganhos expressivos acumulados recentemente.
FONTE: https://conteudos.xpi.com.br/acoes/relatorios/resumo-semanal-da-bolsa-ibovespa-e-os-mercados-globais-se-recuperam-na-semana-em-meio-a-dados-economicos-positivos/ https://conteudos.xpi.com.br/economia/economia-em-destaque-china-cumpre-meta-de-crescimento-economico-em-2024/
Mateus H. Passero
Assessor de investimentos
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