No Brasil: Olhares Voltados ao Banco Central
Nesta semana, os ativos brasileiros se movimentaram conforme os discursos do Presidente e dos Diretores do Banco Central do Brasil. Gabriel Galípolo, Diretor de Política Monetária, reafirmou que o Copom está preparado para elevar a taxa Selic se necessário, destacando que o cenário para a política monetária está mais desconfortável, com projeções de inflação acima da meta. Mesmo assim, Galípolo enfatizou que não há orientação prévia para a próxima reunião do Copom, em setembro. Em contraste, as declarações do Presidente Roberto Campos Neto foram vistas como mais leves. Ele reafirmou que o Copom elevará a Selic caso seja preciso, mas ressaltou que tal movimento não está previsto no cenário atual. Segundo Campos Neto, o Banco Central quis reforçar a mensagem de que suas decisões são baseadas em critérios técnicos, frente à percepção de menor credibilidade futura da política monetária. Já o Diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, também mencionou projeções de inflação mais elevadas e riscos aumentados, o que torna o cenário mais desafiador para o Comitê. Além disso, ele reiterou a dependência dos próximos dados para decisões sobre os juros na reunião de setembro.
Os juros futuros no mercado apontam para o início de um ciclo de alta na próxima reunião do Copom, o que deve impactar a taxa de câmbio. Com efeito, o câmbio voltou a mostrar volatilidade, aproximando-se de R$5,60 por dólar nesta semana, em resposta às declarações incertas dos membros do Copom.
Expectativa de Alta na Selic a partir de Setembro
Diante do aumento das expectativas de inflação e da robustez da atividade econômica, revisamos nossa projeção para a taxa Selic de 10,50% para 11,75% ao final de 2024. Esperamos agora que o PIB cresça 2,7% este ano, impulsionado pela recuperação dos investimentos e por um mercado de trabalho aquecido, que sustenta o consumo das famílias. Além disso, a inflação deve atingir 4,4% no final de 2024, acima dos 4,1% anteriormente previstos. Nesse contexto, para ancorar as expectativas de inflação, o Copom deve iniciar um ciclo moderado de ajuste monetário em setembro. Projetamos que a Selic chegue a 12,00%, após uma alta de 0,25 p.p., seguida de duas elevações de 0,50 p.p. e uma última de 0,25 p.p. em janeiro de 2025. Acreditamos que o Copom possa encontrar espaço para cortes nas taxas ao final de 2025 ou início de 2026, conforme os dados evoluírem.
Senado Aprova Desoneração da Folha de Pagamentos
O Senado aprovou o projeto de lei que encerrará gradualmente a desoneração de 17 setores econômicos até 2028 e de prefeituras com até 156 mil habitantes até 2027. O aumento da alíquota de JCP (Juros sobre Capital Próprio) não foi incluído, apesar do pedido do Ministro da Fazenda, Fernando Haddad. As medidas de compensação incluem: 1) renegociação de multas de agências reguladoras; 2) repatriação de recursos no exterior; 3) atualização de bens no imposto de renda; 4) regularização de ativos; 5) receita de apostas esportivas; 6) taxação de importados até US$ 50; 7) recursos esquecidos em contas de depósito; e 8) apropriação de depósitos judiciais e extrajudiciais. Também foram incluídas ações de revisão em benefícios previdenciários e assistenciais. O projeto segue agora para a Câmara dos Deputados.
Apesar das incertezas quanto às estimativas, o projeto de lei deve, ao menos em parte, compensar as perdas geradas pela desoneração da folha neste ano, ajudando o governo a alcançar a meta de resultado primário. Quanto às despesas, o impacto é menor, mas o alívio de curto prazo pode reduzir a necessidade de bloqueios adicionais nos próximos relatórios bimestrais.
Cenário Internacional: Fed e China em Foco
Durante o Simpósio de Jackson Hole, o Presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, indicou maior confiança na convergência da inflação à meta de 2% e sugeriu que o momento para começar a reduzir a taxa de juros está próximo. Além disso, Powell destacou uma preocupação maior com o mercado de trabalho do que com a inflação, sugerindo disposição do Fed em ser mais agressivo na flexibilização caso os dados de emprego mostrem enfraquecimento adicional.
Outro ponto relevante foi a ata da última reunião de política monetária, que mostrou que, apesar da manutenção da taxa de juros em 5,25% – 5,50% na reunião de julho, “vários membros observaram que o progresso recente na inflação e o aumento na taxa de desemprego forneceram um argumento plausível para reduzir o intervalo em 0,25 p.p.”. Além disso, a revisão anual dos números de criação de emprego revelou a criação de 818 mil postos a menos do que o inicialmente divulgado, aumentando as preocupações com o crescimento econômico e o mercado de trabalho.
Esperamos que o Fed inicie o ciclo de cortes com uma redução de 0,25 p.p., embora um corte mais agressivo não esteja descartado se o próximo relatório de emprego for mais fraco que o esperado. Ainda assim, consideramos que os dados do mercado de trabalho indicam equilíbrio, não deterioração.
Na China, o Banco Popular da China (PBoC) manteve as taxas de juros de referência, 3,35% para a Loan Prime Rate (LPR) de 1 ano e 3,85% para a de 5 anos, em linha com o esperado. No mês anterior, ambas as taxas foram reduzidas inesperadamente em 0,10 p.p. A economia chinesa segue enfrentando uma crise imobiliária prolongada, e os sinais de atividade econômica permanecem mistos, reforçando a previsão de uma recuperação modesta e desigual ao longo de 2024.
Bolsa de Valores e Movimentações Recentes
Nesta semana, o Ibovespa registrou alta de 1,2% em reais e 0,8% em dólares, encerrando em 135.608 pontos, após alcançar a marca de 137 mil pontos. Globalmente, o discurso do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, no simpósio de Jackson Hole, foi mais suave do que o esperado, o que melhorou o sentimento dos investidores em relação ao ciclo de cortes de juros nos Estados Unidos, após Powell afirmar que está preparado para agir rapidamente se o mercado de trabalho mostrar sinais adicionais de enfraquecimento.
No cenário doméstico, as declarações dos membros do Copom reforçaram a disposição do comitê em elevar a taxa de juros se necessário. Com isso, houve uma abertura na curva de juros, alta do dólar e impacto negativo sobre as ações mais cíclicas da Bolsa.
A temporada de resultados do segundo trimestre chegou ao fim, com quase todas as ~150 empresas da cobertura XP divulgando seus números. No geral, as empresas apresentaram resultados sólidos, com 36% superando nossas estimativas de EBITDA, 49% em linha e 14% abaixo do esperado. O destaque positivo foi a Petz (PETZ3, +39,3%), impulsionada pelo anúncio de fusão com a Cobasi, enquanto a Prio (PRIO3, -4,4%) se destacou negativamente, em função da queda nos preços dos contratos futuros de petróleo.
FONTE: https://conteudos.xpi.com.br/acoes/relatorios/resumo-semanal-da-bolsa-ibovespa-tem-nova-alta-semanal-impulsionada-pelo-macro-externo/ https://conteudos.xpi.com.br/morning-call/dados-de-inflacao-emprego-e-resultados-fiscais-na-agenda-da-semana/
Mateus H. Passero
Assessor de investimentos
4traderinvest.com.br
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