Os casos de hepatites caíram no Brasil em 2019, confirmando uma tendência de queda nos últimos anos. Contudo, o país ainda deve atuar para alcançar a meta de reduzir em até 90% os casos da doença e em 65% as mortes associadas a ela até 2030, conforme compromisso firmado no Plano Estratégico Global das Hepatites Virais. O Ministério da Saúde apresentou nesta terça-feira, 28, o boletim epidemiológico sobre hepatites.
Os casos de tipo B somaram 13.971 em 2019, uma queda frente aos 14.686 do ano anterior. Os óbitos oscilaram para cima, indo de 414 (2017) para 424 (2018). Na distribuição regional, o Sul foi o que registrou o maior número de pessoas com a doença (4.529), seguido por Sudeste (3.867), Norte (2.471), Nordeste (2.021) e Centro-Oeste (1.081).
Mais homens (7.938) do que mulheres (6.028) foram atingidas pela enfermidade. No recorte por cor e raça, ela foi mais comum em pardos (5.637) e brancos (5.420), tendo ainda ocorrências em pretos (1.399), amarelos (177) e indígenas (125). A principal forma de contágio foi por via sexual (20,4%).
A médica infectologista Dra. Suzzane Pereira, que atua como assessora Técnica da 6ªRegional da Saúde do Paraná em União da Vitória, comentou sobre a doença em sua rede social no dia 28 de julho, dia que é lembrando como o Dia Mundial da Luta Contra as Hepatites Virais.
“Como infectologista, verifico e trato Hepatite A, Hepatite B e C. Felizmente, não há hepatite D ou E na nossa região. As hepatites A são transmitidas via fecal oral, ou seja, da mesma forma como se pega verme: engolindo alimentos ou levando à boca a mão contaminada por locais que tenham se contaminado com a mão suja de fezes, por não se fazer higiene correta”, explica em sua rede social.
Ela descreve ainda que a hepatite B e a C já são mais duras no tratamento, mas podem evoluir para a cura total como a Hepatite A, ou tê-la silenciosamente por vários anos e, por fim, termos cirrose ou câncer de fígado.
Segundo escreveu em sua rede social Dra. Suzzane mostra que atualmente, as Hepatites são a maior causa de transplante de fígado. Dentre elas, a Hepatite C é a maior responsável. “A Hepatite B é evitável: já existe vacina, que pode ser tomada na adolescência. A vacina da Hepatite A também existe. Só para Hepatite C que não há vacina, mas a prevenção é igual a da B: não se contaminar com sangue, esperma, secreções vaginais ou de outras mucosas de contaminados pelos vírus. Hoje temos também o teste rápido. Você pode ir ao Posto de Saúde e solicitar os testes”, afirma.
A Secretaria de Estado da Saúde do Paraná reforçou durante todo o mês de julho as ações de prevenção e atenção às hepatites com atividades direcionadas a profissionais que atuam diretamente no atendimento à população. O julho Amarelo foi instituído em todo o País, no ano passado, para ressaltar que existe diagnóstico precoce e tratamentos para as hepatites no Sistema Único de Saúde (SUS). As hepatites são um grupo de doenças que provocam inflamação do fígado e as mais frequentes são as virais.
“Hoje, temos disponíveis várias ferramentas eficazes para o combate às hepatites, como a vacina, que garante a prevenção das hepatites A e B, além dos testes rápidos, exames laboratoriais e medicamentos fornecidos na rede estadual“, destaca o secretário estadual da Saúde, Beto Preto
“Neste momento em que a Covid-19 é o foco do sistema de saúde em todo o mundo, é muito importante o alerta e reforço da vigilância para as doenças que podem ser prevenidas. Na maioria das vezes as hepatites são silenciosas, ou seja, não apresentam sintomas. Por isso, a necessidade de estarmos atentos, evitando que pessoas se contaminem e que precisem de internamento”, salienta o secretário.
A hepatite B também tem vacina, recomendada em quatro doses também na infância. A principal indicação é para que os bebês recebam a primeira em até 24 horas após o nascimento. A hepatite B é uma doença crônica e, caso não haja diagnóstico, pode evoluir por muitos anos, provocando agravos como cirrose, câncer e a falência do fígado.
A chefe da Divisão de Doenças Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis da secretaria, Mara Franzoloso, explica que a vacina da hepatite B passou a fazer parte do calendário nacional de imunização na década de 90.
“As pessoas na faixa de 20 anos já devem ter sido vacinadas anteriormente e hoje estão protegidas. Mas quem está acima desta faixa deve estar atento e verificar a situação em relação à hepatite e se proteger. Esta vacina está disponível para todas as faixas etárias”, explica Mara. Ela acrescenta que para a hepatite C ainda não há vacina. No entanto, existe tratamento eficaz com a cura total da infecção.
Dados do Paraná
As notificações para estes três tipos de hepatites apresentaram redução no Paraná entre 2018 e 2019. Foram registrados 54 casos em 2018, com queda para 47 no ano passado. Quanto à hepatite B, houve 1.928 casos em 2018 e, no ano anterior, redução para 1.910 casos. Em relação à hepatite C, em 2018 foram 1.537 casos e 1.503 confirmações no ano passado.
Hepatite C
Os casos de hepatite C também sofreram redução de 2018 para 2019, de 27.773 para 22.747. As mortes em função da doença também caíram, de 1.720 em 2017 para 1.574 em 2018. No ano passado, a prevalência em termos territoriais foi no Sudeste (11.666), seguido por Sul (7.168), Nordeste (1.869), Norte (1.075) e Centro-Oeste (959).
Assim como nas demais hepatites, a ocorrência foi maior em homens (12.735) do que em mulheres (9.996). No recorte por cor e raça, a incidência foi maior em brancos (11.407) do que nos demais: pardos (6.641), pretos (2.008), amarelos (223) e indígenas (46). A principal causa foi o uso de drogas (12,1%), seguido da transfusão de sangue (10,3%) e relação sexual (8,9%).
Hepatite A
Os casos registrados de hepatite A tiveram redução de 2.188 para 891, de 2018 para 2019. Já o quantitativo de mortes mais atualizado é referente a 2018, quando faleceram 28 brasileiros em função da enfermidade, número maior do que os 22 que padeceram do mesmo mal em 2017.
A região com a maior quantidade de pessoas com a doença, no ano passado, foi a Sudeste (457), seguida por Norte (151), Sul (135), Nordeste (94) e Centro-Oeste (54). No recorte de gênero, a doença atingiu mais homens (540) do que mulheres (351). Já na distribuição por cor e raça, os casos foram registrados principalmente em brancos (353) e pardos (326), seguidos de pretos (55), amarelos (14) e indígenas (2).
Hepatite D
A hepatite D tem menos casos que as demais e oscilou para cima em 2019, indo de 151 (em 2018) para 164. A prevalência da doença foi sobretudo na Região Norte (104), mas menor nas demais regiões: Sudeste (26), Sul (19), Nordeste (10) e Centro-Oeste (5). Como nas demais, a ocorrência foi maior em homens (110) do que em mulheres (54).
Medidas
O secretário de Vigilância em Saúde, Arnaldo de Medeiros, afirmou que a pasta “zerou” a fila de tratamento para hepatites virais. O termo é empregado quando se atinge um determinado número de tratamentos anuais considerado adequado.
Ele acrescentou que foi feito um pregão para mais de 50 mil tratamentos, o que garante o abastecimento da rede de saúde até 2021. Para hepatite B, o estoque de medicamentos estaria garantido até o 1º trimestre do ano que vem.
“Os medicamentos passaram a ser enviados mensalmente, antes era a cada três meses. Fizemos isso para garantir maior agilidade no atendimento. Consequentemente isso também garante maior controle dos estoques e diminui a chance do desabastecimento na ponta. O ministério envia 20% a mais do que consumo de cada estado”, declarou Medeiros.
O secretário lembrou que há um compromisso de redução de 90% até 2030. “Esta meta será alcançada com esforço contínuo do SUS [Sistema Único de Saúde], dos nossos profissionais, da nossa cobertura vacinal, da nossa disponibilização dos tratamentos adequados”, reforçou.
O que são hepatites?
Caracterizadas principalmente por inflamações no fígado, as hepatites constituem o segundo maior grupo de doenças infecciosas letais no mundo. As hepatites são causadas por vírus, mas outras condições, como consumido excessivo de bebidas alcoólicas, também podem causar o quadro. As hepatites virais se dividem em 5 doenças diferentes: tipo A, B, C, D e E.
O Brasil é faz parte da iniciativa criada pela OMS chamada “Estratégia Global para Eliminação das Hepatites Virais como Problema de Saúde Pública”, que visa reduzir novas infecções em 80% e a taxa de mortalidade para 65% em relação às médias atuais ao ano.
Os tipos de hepatite
Segundo os dados publicados, o Ministério da Saúde distribuiu 1,9 milhão de doses de vacina para hepatite A em 2020. A hepatite A é alimentar, e ocorre geralmente por falta de higienização de alimentos. A hepatite A é considerada uma doença benigna, entretanto pode ser letal em pessoas com mais idade. Condições sanitárias precárias também podem transmitir essa variação da doença.
A hepatite B não tem cura, e é uma doença silenciosa – transmitida sexualmente. O Sistema Único de Saúde fornece a vacina para a hepatite B. Segundo a pasta, 7,2 milhões de doses de vacina para hepatite B foram levadas aos postos de saúde neste ano. O boletim informa que há medicamentos para combater a hepatite B em estoque suficiente para suprir a demanda até o primeiro trimestre de 2021.
Já a hepatite C, que também é transmitida sexualmente, não tem vacina. A medida profilática recomendada pela OMS é o uso de preservativos durante a relação sexual.
As hepatites B e C também podem ser transmitidas pelo contato com sangue contaminado, o que pode ocorrer durante procedimentos estéticos ou de saúde sem os devidos cuidados. Procedimentos de saúde invasivos, que utilizem seringas ou objetos cortantes-perfurantes, e o compartilhamento de objetos perfurocortantes, como alicates de unha e agulhas, também podem transmitir estes dois tipos de hepatite.
A hepatite B também pode ser transmitida durante a gestação ou o parto, mas o Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza medicamentos que diminuem em mais 95% as possibilidades de transmissão do vírus para o bebê.
SINTOMAS
Ainda que silenciosa na maioria dos casos, a hepatite pode apresentar sintomas como mal-estar, fraqueza, dor de cabeça, febre baixa, falta de apetite, cansaço, náuseas e desconforto abdominal na região do fígado, icterícia (olhos e pele amarelados), fezes esbranquiçadas e urina escura.