Selic a 13,25% e projeção de nova escalada até junho
O Banco Central decidiu elevar a taxa básica de juros em um ponto percentual, passando a Selic de 12,25% para 13,25%. O movimento, já esperado pelos analistas, reflete a preocupação do Comitê de Política Monetária (Copom) com o ritmo de alta de preços, especialmente tendo em vista que a projeção de inflação para o terceiro trimestre de 2026 permanece bem acima da meta estipulada. A sinalização oficial também aponta para um possível acréscimo de magnitude semelhante na próxima reunião, em março, embora não haja diretrizes claras para o encontro de maio. Caso o crescimento econômico arrefeça nos próximos meses, o Copom teria margem para reduzir o ritmo de elevação dos juros.
Economistas avaliam que a decisão, alinhada a recentes indicadores, fortalece o cenário em que a Selic chegue a 15,50% em junho, após aumentos sucessivos de 1,00, 0,75 e 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões.
Arrecadação recorde em 2024 e meta fiscal cumprida
Dados divulgados pelo governo confirmam a maior arrecadação federal da série anual, com R$ 2.652,7 bilhões em 2024, o que representa um crescimento de 9,6% acima da inflação. Esse desempenho, somado a um ambiente econômico favorável e a receitas extraordinárias, contribuiu para que o Executivo alcançasse sua meta formal de resultado primário. Ainda que o déficit do governo central tenha sido de R$ 43 bilhões no ano passado (-0,4% do PIB), o montante é bem menor que os R$ 228,5 bilhões de 2023 (-2,1% do PIB).
Para 2025, espera-se menor dependência de receitas pontuais, mas não deve haver grandes obstáculos para atingir a meta de saldo primário. O governo segue amparado por um nível de atividade que, embora em desaceleração, permanece razoavelmente firme, e pela possibilidade de ajustes nas despesas, viabilizada pela aprovação de um pacote de contenção de gastos. Segundo estimativas, a arrecadação federal deve avançar 2,1% em termos reais, alcançando R$ 2.870,0 bilhões neste ano.
Desemprego historicamente baixo, mas ritmo de contratações arrefece
A taxa de desemprego em 2024 fechou em 6,6%, a menor marca desde que se iniciou a série anual, em 2012. Apesar de o mercado de trabalho se manter robusto, há sinais de desaceleração na criação de vagas: as contratações com carteira assinada recuaram de 120 mil para 25 mil entre novembro e dezembro, o que pode indicar falta de mão de obra em setores específicos. Paralelamente, os salários reais continuam a subir, pressionando a inflação. O quadro reforça a perspectiva de redução gradual no ritmo de crescimento econômico e de inflação mais alta em serviços. A projeção oficial para o PIB de 2025 aponta aumento de 2,0%, após um avanço de 3,6% observado em 2024.
Cenário Externo
Governo Trump intensifica tom protecionista
Nos Estados Unidos, o presidente Donald Trump seguiu ameaçando elevar tarifas de importação em sua segunda semana de mandato. A Colômbia chegou a ser alvo, após recusar voos que deportavam imigrantes, mas um entendimento entre os dois países evitou a aplicação das medidas. O governo norte-americano declarou tarifas em 25% as importações do México e do Canadá – dois parceiros econômicos de grande relevância – além de impor uma alíquota de 10% para produtos chineses a partir de 1º de fevereiro, justificando o combate à entrada de imigrantes ilegais e de carregamentos de fentanil.
Há também a possibilidade de uma taxa de 100% contra os países do Brics, caso avancem na ideia de criar uma moeda própria para substituir o dólar no comércio internacional.
Economia dos EUA mantém tração; inflação acima do alvo
No quarto trimestre, o Produto Interno Bruto americano cresceu 2,3% em taxa anualizada, após ter registrado 3,1% no trimestre anterior. O consumo das famílias, que responde por cerca de dois terços do PIB, avançou 4,2%, enquanto os gastos governamentais subiram 3,2%. Por outro lado, o investimento privado recuou 5,6% e o comércio exterior mostrou contração de 0,8% em exportações e importações. Como resultado, o PIB dos EUA aumentou 2,8% em 2024, número próximo dos 2,9% registrados em 2023.
No âmbito inflacionário, o deflator PCE – referência preferida pelo Federal Reserve – subiu 0,3% em dezembro, alinhado às expectativas. Com isso, o indicador encerrou 2024 em 2,6%, ainda acima da meta oficial de 2%. Some-se a isso as políticas econômicas de Donald Trump, que oferecem riscos de aceleração nos preços, e tem-se um contexto que explica por que o Fed optou por não mexer na sua taxa de juros de referência.
Fed congela cortes e BCE segue reduzindo taxas
Diante de uma economia americana aquecida, desemprego em baixa e inflação superior aos objetivos, o Federal Reserve decidiu manter os juros básicos no intervalo de 4,25% a 4,50%. O comunicado que se seguiu à reunião foi mais cauteloso, ao retirar menções de “progresso” em direção à meta de 2%. Em entrevista coletiva, Jerome Powell, presidente do Fed, reiterou que o órgão não pretende retomar cortes na taxa até que os indicadores de emprego e preços justifiquem tal decisão. Há, portanto, um viés de alta para a projeção atual de dois cortes de 0,25 ponto percentual até o fim do ano. Em paralelo, cresce a possibilidade de a instituição manter os juros inalterados durante boa parte de 2025.
Na Europa, o Banco Central Europeu (BCE) reduziu suas taxas em 0,25 ponto percentual, levando a taxa de depósito a 2,75% ao ano. É a quinta queda seguida, em uma tentativa de equilibrar a inflação que volta a subir e um crescimento econômico frágil. Christine Lagarde, presidente do BCE, manifestou preocupação com o desempenho da atividade na zona do euro, justificando a continuidade do afrouxamento monetário.
Startup chinesa sacode o mercado de Inteligência Artificial
A semana começou turbulenta nas bolsas internacionais devido ao lançamento de um novo chatbot de IA pela startup chinesa DeepSeek, que afirma ter custos de produção significativamente menores e eficiência superior quando comparada a rivais como o ChatGPT, da OpenAI. A notícia gerou ampla especulação sobre a competitividade das empresas de tecnologia ocidentais, provocando queda expressiva nas ações de companhias envolvidas com infraestrutura de IA, sobretudo a Nvidia, que registrou retração de 17,0% na última segunda-feira.
Mercado de Ações
Ibovespa avança 3,1% e enfrenta menos turbulências que o exterior
Apesar do cenário internacional conturbado, o Ibovespa encerrou a semana em alta de 3,1% em reais e 4,1% em dólares, a 126.241 pontos. No acumulado de janeiro, a valorização é de 4,9% em reais e 11,0% em dólares. Os mercados globais começaram a semana sob tensão, impulsionados pela estreia do chatbot de IA da DeepSeek. Empresas relacionadas à tecnologia despencaram, notadamente a Nvidia (-17,0%). Enquanto isso, a temporada de balanços do quarto trimestre de 2024 nos Estados Unidos segue surpreendendo positivamente: 78% das 179 companhias do S&P 500 que já divulgaram resultados superaram as expectativas, com margem de 5,9% acima das projeções, segundo dados da Bloomberg. No campo macro, o Federal Reserve manteve as taxas inalteradas e adotou postura firme ao reconhecer os desafios de trazer a inflação de volta ao patamar de 2%. No Brasil, porém, o ambiente foi mais otimista. A redução nos rendimentos dos títulos do Tesouro americano (Treasuries) e a elevação da Selic em 1 ponto percentual – acompanhada de um sinal mais flexível do Copom – favoreceram a tomada de risco. Como consequência, a curva de juros doméstica teve queda de 0,42 p.p. e o dólar recuou 1,2%, cotado a R$ 5,84. O índice Ibovespa também foi impulsionado pelo desempenho de empresas de grande relevância, como a Vale (VALE3, +2,2%), cujos dados de produção e vendas vieram ligeiramente acima das expectativas. Em declarações recentes, o presidente Lula destacou o papel estratégico da mineradora, o que ajudou a dar suporte às ações. Entre as altas de maior destaque figuraram Magazine Luíza e YDUQS (MGLU3, +17,1%; YDUQ3, +10,8%), que se beneficiaram do recuo na curva de juros. Já a fabricante de motores e equipamentos Weg (WEGE3, -4,9%) apresentou queda na esteira das especulações envolvendo sua exposição ao mercado de inteligência artificial.
FONTE: https://conteudos.xpi.com.br/economia/economia-em-destaque-acomodacao-no-cambio-mas-pressao-na-inflacao-2/ https://conteudos.xpi.com.br/acoes/relatorios/resumo-semanal-da-bolsa-ibovespa-encerra-a-forte-alta-de-janeiro-com-bom-desempenho-de-setores-ciclicos/
Mateus H. Passero
Assessor de investimentos
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