Terá início em dezembro, o projeto piloto de prevenção do HIV lançado este ano pelo Ministério da Saúde (MS). Trata-se da Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), que passará a ser disponibilizada, a partir do final do ano, para o Distrito Federal e dez estados brasileiros, incluindo Santa Catarina. A capital catarinense foi escolhida nessa primeira etapa para a implementação da PrEP no país, e o serviço indicado foi a Policlínica Municipal Centro, localizada na Avenida Rio Branco. No total, serão distribuídos três mil frascos de PrEP nas 11 unidades federadas selecionadas, para um período de experiência estimado de cinco meses.
A PrEP faz parte da abordagem chamada de “prevenção combinada”, adotada pelo MS para combater o HIV, na qual a pessoa tem a opção de usar um método de prevenção ou combinar vários que se ajustem às suas necessidades, características individuais ou momentos de vida. Assim, o SUS passará a oferecer a pílula que associa os medicamentos Tenofovir e o Entricitabina. Um único medicamento por dia é tomado regularmente, mesmo que não haja suspeita de exposição, pois o objetivo é que ela funcione como uma barreira para o HIV antes da pessoa ter contato com o vírus.
“A implementação da PrEP ocorrerá de forma gradual, priorizando as populações com maior risco à infecção pelo HIV: gays e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), pessoas trans e profissionais do sexo, conforme definição do Ministério da Saúde”, explica Dulce Quevedo, gerente de Vigilância das ISTs/AIDS e Hepatites Virais da Diretoria de Vigilância Epidemiológica (DIVE) da Secretaria de Estado da Saúde, que participou da oficina de capacitação realizada nos dias 22 e 23 de agosto, em Brasília (DF).
Na ocasião, o MS apresentou a definição e o detalhamento de como funcionará essa primeira experiência aos responsáveis pelas áreas técnicas das Secretarias de Saúde das 11 unidades federadas selecionadas. Os técnicos ainda participarão de dois seminários que serão realizados a distância em outubro, nos dias 6 e 27, e de uma capacitação presencial, em novembro.
Dulce Quevedo acrescenta que o simples fato de a pessoa pertencer a um desses grupos não é suficiente para caracterizar indivíduos com exposição frequente ao HIV. “Para essa caracterização será necessário observar, também, as práticas sexuais, parcerias sexuais e contextos específicos associados a um maior risco de infecção”, complementa Quevedo.
Importante destacar que este método é diferente da Profilaxia Pós-exposição (PEP), já disponível no SUS para quem possa ter tido contato com o HIV. A PEP deve ser iniciada até 72 horas após a relação sexual sem camisinha ou acidente com algum objeto perfuro-cortante em que possa ter havido contato com o vírus. O tratamento é feito com três medicamentos e tem duração de 28 dias.
A relação dos locais que oferecem a PEP em Santa Catarina está disponível em www.aids.sc.gov.br.
Sobre o HIV
O HIV é o vírus da Aids (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida), encontrado no sangue, no esperma, na secreção vaginal e no leite materno das pessoas infectadas pelo vírus.
Após o contágio, a doença pode demorar até dez anos para se manifestar. Por isso, a pessoa pode ter o vírus HIV em seu corpo, mas ainda não ter Aids. Ao desenvolver a Aids, o HIV inicia um processo de destruição dos glóbulos brancos do organismo da pessoa doente. Como esses glóbulos brancos fazem parte do sistema imunológico (de defesa) dos seres humanos, sem eles, o doente fica desprotegido e várias doenças oportunistas podem surgir e complicar a saúde. A pessoa portadora do vírus HIV, mesmo não tendo desenvolvido a Aids, pode transmiti-lo.
Dados epidemiológicos
Santa Catarina apresenta a segunda maior taxa de detecção (casos/100 mil habitantes) de Aids do país, de acordo com o Ministério da Saúde, com 31,9 casos a cada 100.000 habitantes, atrás apenas do Rio Grande do Sul, que apresenta taxa de detecção de 34,7. Em nível nacional, a taxa de detecção de Aids é de 19,1.
Escolhida para a experiência piloto da PrEP, Florianópolis integra a cooperação interfederativa estabelecida em 2015 entre o Governo de Santa Catarina, o Governo Federal e os 12 municípios catarinenses considerados estratégicos para priorizar ações de prevenção e maior acesso ao diagnóstico de HIV/Aids por apresentarem as mais altas taxas de detecção de Aids no estado. São eles: Florianópolis (53,7), São José (57,7), Palhoça (49,4), Itajaí (61,9), Balneário Camboriú (63,2), Joinville (30,6), Blumenau (39,5), Brusque (35,0), Chapecó (29,2), Lages (44,1), Criciúma (39,6) e Jaraguá do Sul (29,3).
Em 2016, 1.607 novos casos de Aids foram notificados em Santa Catarina, a maioria entre pessoas de 35 a 44 anos (183), entre 25 e 34 anos (179) e entre 45 e 54 anos (130), e 515 óbitos por Aids foram registrados no estado. Em 2015, foram 1.796 novos casos da doença. Em relação ao HIV, foram confirmados 1.974 novos casos em Santa Catarina em 2016. Destes, 567 eram em gestantes. No ano anterior, foram 1.951 novos casos de HIV no estado.