A denúncia profética do Papa Francisco (II)

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Daniel Andrés Baez Brizueña* danan1011@hotmail.com

Em seu livro, publicado pela editora Paulinas, que leva como título: Doutrina Social: Economia, Trabalho e Politica, Élio Stanilau Gasda, traça Sete pontos que sintetizam a crítica feita pelo Papa Francisco ao capitalismo neoliberal. As críticas de Francisco, segundo Gasda, atingem o núcleo das questões sociais, denuncia o fetichismo do dinheiro onde o sistema econômico se converte em um ídolo.

Entre os temas ressaltados no livro e as denuncias realizados pelo Papa Francisco ao longo do seu pontificado podemos resumir nos seguintes tópicos: Cultura do descarte; Corrupção; Idolatria do dinheiro; Mentalidade individualista; Cultura da indiferença; Neoestado e a Violencia. A continuação aprofundaremos em cada conceitos:

1)- Cultura do descarte: O objeto central da denúncia do pontificado de Francisco se expressa nesta linha: “Não pode ser que não seja notícia que um idoso morador de rua morra de frio, mas que uma queda de dois pontos de mercado de ações o seja. Isso é Exclusão. Não se pode tolerar que se jogue comida no lixo quando há pessoas que morrem de fome. Isso é iniquidade” (Evagangelii Gaudium, 53).

É impossível discordar desta afirmação. A “Cultura do Descarte”, continua avançando na sociedade contemporânea, esta cultura se manifesta em todos os âmbitos sociais, inclusive a familiar. A exclusão é mais do que mera exploração. As ideias neoliberais inauguraram a cultura do descarte, as ideias e ações das reformas econômicas de Paulo Guedes nos leva a um caminho sem saída em que os “números de descartados” dependerá somente de uma questão de tempo para aumentar. Exclusão social é a marca mais perversa do liberalismo econômico imposta a nossa população. Num tempo confuso e desorientado, a verdadeira divindade é substituída por um ídolo ou “mito” enganador. Assim, a cultura do descarte funciona como o fetiche mais deshumano, por meio da competitividade, se torna a única lei da civilização neoliberal, onde o poderoso destrói o mais fraco. Francisco insiste em que o amor ao dinheiro é o principal obstáculo para amar o próximo. Portanto, a causa da exclusão é estrutural. A lógica do mercado absolutizado alimenta o pecado da avareza.

2)- A corrupção que alimenta o poder. Não é um mal criado na contemporaneidade, está enraizado no sistema. Está na base do capitalismo. A corrupção e seus lações indissociáveis com o poder e o dinheiro, tanto em nível internacional quanto nacional, é um fenômeno que nãos e circunscreve ao âmbito ético-moral, mas o ultrapassa, configurando um problema intrínseco a todo sistema apoiado na avareza.

Segundo o Papa Francisco, em seu discurso no III encontro de movimentos sociais, a corrupção não é um privilégio de uma única organização, “Como a política não é um assunto dos políticos, a corrupção não é um vício exclusivo da política. Existe corrupção na política, existe corrupção nas empresas, nos meios de comunicação, nas Igrejas e existe corrupção também nas organizações sociais e movimentos populares. Existe uma corrupção radicada em alguns âmbitos da vida econômica, em particular na atividade financeira, e que é menos notícia do que a corrupção diretamente ligada ao âmbito político e social. A corrupção, a soberba e o exibicionismo dos dirigentes aumenta os descréditos coletivo, a sensação de abandono e alimenta o mecanismo do mesmo que sustenta este sistema iníquo”. A corrupção desponta quando há concentração de poder. Torna-se um estratagema que auxilia a quem já dispõe de poder a conseguir ainda mais poder a corrupção é funcional. A concentração da riqueza sempre tem sido acompanhada de casos de corrupção.

3)- Idolatria do Dinheiro: A lei do mercado está eclipsando a lei da solidariedade. Esse sistema está matando a capacidade de amar o próximo. Está desumanizando. A economia potencializa uma competitividade que deteriora as relações pessoais porque considera o outro um adversário e não um irmão. O sistema descarta pessoas e anula a solidariedade para com elas. Isso leva ao aumento das desigualdades, pois beneficia a quem tem mais. Os mercados internacionais de alimentos produzem fome, a indústria farmacêutica visa ao lucro e condena à morte milhares de pessoas por doenças curáveis. A obsessão descontrolada por acumular riqueza em curto prazo leva a fechar-se ao outro.

4)- Mentalidade individualista: cada vez mais individualista que leva à diferença para com a situação do outro. A globalização da indiferença faz as pessoas viverem anestesiadas pelo consumo, a olharem com naturalidade a situação de abandono, sofrimentos e desespero em que vivem milhares de pessoas. Uma marca perversa de uma sociedade que investe em “infraestrutura” e esquece propositalmente no direito de uma vida digna do outro. A mentalidade individualista manifesta-se continuamente nas atitudes de intolerância com o diferente. Uma doença que ataca a sociedade contemporânea com roupagem do Fascismo e seus letais ideais de formar seres humanos grotesco que não reconhecem os direitos fundamentais dos outros.

5)- A cultura da indiferença: Essa cultura da indiferença está relacionada à teoria do “derramamento”. Segundo a qual o crescimento econômico que enriquece uns poucos acabará por beneficiar a todos. Politicas baseadas nessa teoria nunca produziram os resultados esperados, mas servem como justificativa para a distribuição de renda que nunca será abordada.  A “Teoria do gotejamento” foi utilizada durante a Grande Depressão dos anos 1930 para explicar que é preciso beneficiar os mais ricos para que eles possam criar mais riquezas. Essa, por sua vez, começará a gotejar para os de baixo. A realidade desmente a teoria. Os ricos beneficiados escondem seu dinheiro em paraísos fiscais, especulam na bolsa de valores, fraudam impostos e investem no sistema financeiro. Quanto mais riqueza é concentrado em mãos dos ricos, menos riqueza goteja.

6)- Neoestado: Controlar o Estado é condição para a manutenção da ditadura do dinheiro que sufoca a economia real. Os neoliberais são os responsáveis pelo ataque ao papel do estado na promoção de políticas públicas que visam à justiça social é incompatível com o livre mercado. Neste sentido, os neoliberais, entendem a humanidade e o planeta como um grande e universal mercado composto de indivíduos identificados como consumidores que calculam lucros e prejuízos em tudo o que fazem. Os neoliberais configurou uma espécie de neoestado. Vassalo do mercado, ele está levando a uma profunda transformação das instituições públicas. Tem um sistema jurídico, uma burocracia, os poderes legislativos e executivo cada vez mais controlado pelo ídolo dinheiro. O Estado deixou de promover relações sociais de respeito entre as pessoas, de buscar a justiça social e de garantir os direitos sociais. O capital já não tem nenhuma função social. No neoestado, não cabem reivindicações de justiça e dignidade do trabalho.

7)- A Violencia: Finalmente, o Papa Francisco, demostra que a Violencia é a consequência imediata que surge como reação contra tal situação “Quando a sociedade – local, nacional ou mundial – abandona na periferia uma parte de si mesma, não há programas políticos, nem forças da ordem ou serviços secretos que possam garantir indefinidamente a tranquilidade”. Basta lembrar, aqui, as gigantescas mobilizações e protestos que aconteceram e continuam acontecendo em diferentes países latinoameicanos, como a Guatemala, Chile, Bolívia que cria instabilidade social, justamente pelo acentuado “descarte” que milhões de pessoas experimentam na pobreza, nas desigualdades sociais e no abandono em nome do tão sonhado “progresso”.

As denúncias proféticas do Papa Francisco não param por aqui, nos próximos artigos apresentaremos as estruturas injustas que nascem do conceito de justiça e a responsabilidade que todos precisamos assumir perante a iminência de um Estado de Exceção, que o Sistema Judiciário em muitos países patrocinam em detrimento das liberdades individuais, criando e convertendo uma Justiça criminal em negócios corporativos.

* Daniel Andrés Baez Brizueña é formado em Teologia, Ciencia das religiões, Marketing, Letras e Filosofia.

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