Inflação em Alta: Uma Visão Geral dos Recentes Indicadores Econômicos
Os indicadores econômicos recentes apontam para um aumento nas pressões inflacionárias, tanto no Brasil quanto no cenário internacional. De ajustes nas políticas monetárias a preocupações com a dívida pública, o panorama econômico global está em transformação.
IPCA-15 de Outubro Indica Aceleração da Inflação no Brasil
O IPCA-15 de outubro, que serve como prévia da inflação mensal, registrou um aumento de 0,54% em relação a setembro. Nos últimos 12 meses, a inflação acelerou de 4,12% em setembro para 4,47% em outubro. Um fator significativo foi a ativação da bandeira vermelha nível 2 nas tarifas de energia elétrica, resultando em uma alta de 5,3% nos preços de energia entre setembro e outubro. Além disso, o índice de serviços subjacentes, que exclui os preços mais voláteis, superou as expectativas. Tendências semelhantes foram observadas nos custos de alimentação fora do domicílio, refletindo os recentes aumentos nos preços dos alimentos.
Esses dados sugerem uma possível deterioração adicional no setor de serviços nos próximos meses, impulsionada pela forte demanda interna, mercado de trabalho aquecido e expectativas de inflação acima da meta. Com a inflação no Brasil em trajetória ascendente, nossa previsão anterior de IPCA em 4,6% para 2024 pode necessitar de revisão para cima.
Autoridades do Banco Central Manifestam Preocupação com Projeções Inflacionárias
Em um recente evento organizado pelo Fundo Monetário Internacional, que reuniu líderes globais, ministros, presidentes de bancos centrais e instituições financeiras de destaque, diretores do Banco Central do Brasil expressaram suas preocupações. Paulo Picchetti destacou inquietações sobre as expectativas de inflação para 2024 e 2025 permanecerem acima da meta de 3%, indicando um possível descolamento. Ele enfatizou que as futuras decisões de política monetária dependerão dos dados disponíveis. Na mesma linha, Diogo Guilen reafirmou o compromisso do Banco Central em conduzir a inflação de volta aos patamares desejados, ressaltando a importância da análise de dados para as próximas decisões. O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, ecoou esses sentimentos, observando que, no cenário atual, fornecer orientações futuras sobre os passos da política monetária pode não ser vantajoso.
Prevemos que o ciclo atual de aumento de juros elevará a taxa Selic para 12,00% até janeiro de 2025. Essa taxa deve ser suficiente para manter o IPCA dentro da faixa alvo ao longo do tempo, com expectativas de inflação em torno de 3,0%. No entanto, é crucial reconhecer que o ambiente macroeconômico pode apresentar riscos que exijam uma Selic ainda mais alta.
Arrecadação Federal Forte, mas Meta Fiscal Ainda em Risco
Em setembro, a arrecadação de impostos federais alcançou R$ 203,2 bilhões, representando um aumento real de 11,6% em comparação com o mesmo mês do ano anterior. No acumulado do ano, as receitas tributárias cresceram 9,7% em termos reais, totalizando R$ 1,934 trilhão. Embora as medidas para aumento de receita ainda estejam surtindo efeito, a forte atividade econômica e o mercado de trabalho robusto têm apoiado significativamente a arrecadação na segunda metade do ano. Destaca-se que o crescimento das receitas foi generalizado entre as diferentes bases tributárias e setores, especialmente aqueles mais ligados à atividade econômica.
Apesar dessa tendência positiva, acreditamos que ela pode não ser suficiente para atingir a meta fiscal primária, que dependerá de receitas não tributárias, como dividendos de estatais e a apropriação de depósitos judiciais.
Cenário Internacional
Dirigentes do Fed Defendem Redução Gradual dos Juros nos EUA
Alguns membros do Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, reiteraram a importância de avançar com cautela na redução das taxas de juros. Essa abordagem permite uma avaliação cuidadosa das incertezas relacionadas ao mercado de trabalho e à inflação. Raphael Bostic, presidente do Fed de Atlanta, afirmou não ter pressa em baixar os juros e enfatizou que as taxas devem permanecer restritivas para garantir o controle inflacionário. Lorie Logan, presidente do Fed de Dallas, sugeriu que as taxas cairão “gradualmente”, destacando que, embora a economia esteja “forte e estável”, persistem “incertezas significativas” nas projeções econômicas.
No mês passado, o Fed reduziu os juros em 0,5 ponto percentual—o primeiro corte em mais de quatro anos. A próxima reunião do Comitê Federal de Mercado Aberto está agendada para os dias 6 e 7 de novembro. Nossa perspectiva antecipa cortes mais moderados de 0,25 ponto percentual nas próximas reuniões. Projetamos um cenário de “pouso suave”, em que a inflação desacelera sem provocar recessão, alinhado com reduções graduais até uma taxa terminal de 3,50% em 2025.
FMI Mantém Projeções de Crescimento Global, mas Alerta sobre Dívida Pública
No mais recente relatório “Perspectivas da Economia Mundial”, o Fundo Monetário Internacional (FMI) manteve a projeção de crescimento do PIB global em 3,2% para 2024 e 2025. Para os cinco anos subsequentes, a estimativa é de um crescimento de 3,1%, ligeiramente abaixo das tendências observadas antes da pandemia. Para 2024, o FMI ajustou para cima a projeção de crescimento dos EUA em 0,2 ponto percentual, chegando a 2,8%, principalmente devido ao consumo mais forte do que o esperado. A previsão de crescimento do Brasil também foi elevada em 0,9 ponto percentual, atingindo 3,0%, impulsionada pelo aumento do consumo privado e dos investimentos—marcando o terceiro ano consecutivo de crescimento nesse patamar. Em contrapartida, a estimativa para o crescimento da China em 2024 foi revisada para baixo em 0,2 ponto percentual, para 4,8%, atribuída em grande parte à fraqueza do setor imobiliário e à baixa confiança do consumidor.
No entanto, o FMI expressou preocupações sobre a trajetória da dívida pública global, sugerindo que a situação pode ser mais grave do que o previsto. O relatório destaca os crescentes déficits fiscais nos EUA e na China, estimando que a dívida pública mundial ultrapassará US$ 100 trilhões até o final de 2024. Até o fim da década, a relação dívida/PIB global pode atingir 100%. Os EUA e a China são responsáveis por uma parcela significativa desse aumento; excluindo esses países, a relação dívida/PIB global seria aproximadamente 20% menor, segundo o FMI.
Em relação ao Brasil, o FMI revisou suas projeções para a dívida pública bruta do país, prevendo que esta alcançará 97,6% do PIB em 2029, com superávits primários não esperados antes de 2027. É importante salientar que os métodos de cálculo do FMI diferem dos adotados pelo governo brasileiro. Os níveis de endividamento bruto são indicadores cruciais da solvência de uma nação e são monitorados de perto por analistas e investidores.
Banco Central Chinês Reduz Juros para Mínimos Históricos
O Banco Popular da China (PBoC) cortou suas taxas de juros de referência para novos patamares históricos, em um esforço para estimular uma economia em desaceleração. A Taxa Preferencial de Empréstimo (LPR) de um ano, referência para a maioria dos empréstimos corporativos e pessoais, foi reduzida em 0,25 ponto percentual, para 3,1%. Da mesma forma, a LPR de cinco anos, que influencia as taxas hipotecárias, foi diminuída em igual medida, para 3,6%.
Nos últimos meses, o PBoC e o Ministério da Habitação implementaram diversas medidas visando aliviar os encargos financeiros dos proprietários e restaurar a confiança do consumidor. Em setembro, o banco central iniciou seus esforços de estímulo mais agressivos desde a pandemia, focando em apoiar o debilitado setor imobiliário e impulsionar o consumo. Embora esperemos alguma melhoria na atividade econômica a curto prazo, a recuperação geral permanece lenta.
Otimismo no Banco Central Europeu Diante de Queda na Inflação
Christine Lagarde, presidente do Banco Central Europeu (BCE), expressou otimismo em relação às recentes tendências inflacionárias na Zona do Euro. Ela indicou que a inflação está diminuindo e pode alcançar a meta de 2% mais rapidamente do que o previsto anteriormente, fortalecendo o argumento para novos cortes nos juros. “Estou absolutamente confiante de que atingiremos esse objetivo de forma sustentável ao longo de 2025”, afirmou Lagarde. Ela enfatizou que, embora a direção da política monetária esteja “clara”, o ritmo dos futuros cortes na taxa de depósito, atualmente em 3,25%, dependerá dos dados econômicos que surgirem.
O BCE iniciou a redução das taxas de juros da Zona do Euro em 0,25 ponto percentual a cada duas reuniões. No entanto, cortes consecutivos estão se tornando mais prováveis à luz de números de inflação mais fracos.
Atualização do Mercado de Ações
Nesta semana, o índice Ibovespa recuou 0,5% em reais e 0,8% em dólares, fechando aos 129.893 pontos.
No cenário global, a semana foi marcada pela temporada de resultados do terceiro trimestre. Foi um período movimentado para as empresas americanas, com 183 companhias do S&P 500 divulgando seus resultados. Destas, 76% superaram as estimativas de lucros, com uma surpresa média de 6%, segundo dados da Bloomberg.
No âmbito doméstico, declarações do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sobre a política fiscal e o comprometimento com a meta de inflação levaram a uma redução na percepção de risco, resultando em uma queda significativa nas taxas de juros ao longo da semana. Em relação aos dados econômicos, o destaque foi o IPCA-15 de outubro, que veio acima das expectativas, reforçando preocupações sobre a deterioração inflacionária no Brasil.
Entre os principais destaques positivos, a Usiminas (USIM5) registrou alta de 8,5% após divulgar resultados do terceiro trimestre acima do esperado. Por outro lado, a Azul (AZUL4) foi o principal destaque negativo da semana, com queda de 9,6% após ter seu preço-alvo reduzido por um banco de investimentos.
FONTE: https://conteudos.xpi.com.br/acoes/relatorios/resumo-semanal-da-bolsa-ibovespa-cai-em-semana-fraca-para-os-mercados-globais/
https://conteudos.xpi.com.br/economia/economia-em-destaque-fmi-eleva-projecao-do-pib-do-brasil-para-30/
Mateus H. Passero
Assessor de investimentos
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